terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Desalojados denunciam má gestão de donativos nos centros de acolhimento

Cidade de Maputo
 
Maputo (Canalmoz) – Alguns Centros de Acolhimento Provisório concebidos pelo Governo e Município de Maputo para albergar a população afectada pelas cheias que começaram a acontecer em Janeiro, na capital do país, têm estado a receber diversos donativos, mas estes centros continuam a passar por sérios problemas de gestão, sobretudo de falta de condições para habitação, especificamente insuficiência de alimentação e falta de saneamento, o que torna a população vulnerável à contracção de doenças.
A população reassentada nalguns desses centros de acolhimento provisório queixa-se de má gestão de donativos atribuídos por diversas entidades.
Segundo os denunciantes desta situação, isto está a acontecer sobretudo nos centros de acolhimento provisório instalados no interior da Escola Secundária da Solidariedade, no bairro de Mavalane, e na Escola Secundária Força do Povo, no bairro Hulene, na cidade de Maputo.
A Reportagem do Canalmoz na última sexta-feira esteve nesses centros e constatou que não há variação na dieta alimentar. Os desalojados são obrigados a comer arroz e feijão todos os dias, apesar destes centros receberem sempre donativos alimentares para reforçar a sua dieta alimentar.
A população ali alojada queixa-se e quer agora saber para onde são destinados os donativos.
Júlia Chichava, desalojada e agora recolhida no centro de acolhimento na Escola Secundária da Solidariedade, no bairro de Mavalane, denunciou ao Canalmoz que muitos produtos alimentícios têm sido desviados pelos responsáveis do armazém na calada da noite.
Júlia, mãe de uma menina de 1 ano, disse que o centro tem recebido muitos alimentos para crianças, sobretudo leite, e papinha, entre várias outras coisas, mas estes donativos não chegam às mãos das mães das crianças, o que, segundo ela evidencia que “os produtos são desviados”.
“Sempre vemos aquelas senhoras que trabalham no armazém a saírem com produtos nos plásticos à noite e quando as perguntamos nos dizem que não são produtos doados mas, sim, comprados no mercado. E várias vezes os chefes de armazém cozinham e comem melhores refeições, ou seja, eles não comem a mesma alimentação que nós”, disse-nos Júlia Chichava.
Nilza Canivete, também desalojada, abordada pelo Canalmoz no centro de acolhimento instalado na Escola Secundária Força do Povo contou à nossa reportagem que neste centro a população tem tido a mesma dieta alimentar constantemente. “A refeição tem sido sempre a mesma: arroz com feijão”.
Ela diz não entender porque razão a dieta alimentar “é sempre a mesma coisa” tendo em conta que este centro “tem estado a receber diversos donativos”.
Nilza Canivete contou que das vezes que o centro recebe donativos como vestuário, os responsáveis apropriam-se das melhores peças de roupas, deixando o resto para os que ali se abrigaram depois de terem sido vítimas das enxurradas.
Acusados reconhecem insuficiência de alimentação
Depois de ter ouvido as queixas da população que está nos centros de acolhimento, o Canalmoz procurou os responsáveis dos referidos centros para ter a sua reacção sobre este assunto.
Ezequiel Nhanquila, responsável do centro de acolhimento instalado na Escola Secundária da Solidariedade, sobre o qual pesam acusações de desvio de produtos alimentícios, negou as acusações e reconhece que tem havido situações de alguns produtos não chegarem a todos. Nhanquila explicou que isso acontece porque os donativos não são suficientes para todos, sendo que para a sua distribuição a direcção do centro dá prioridade àquelas pessoas mais carenciadas e sobretudo os que durante as cheias perderam praticamente todos os seus bens.
Os responsáveis do centro de acolhimento instalado na Escola Secundária Força do Povo recusaram-se a falar à nossa reportagem alegando que as denuncias que pesam contra si, sobre desvio de alimentos, “são falsas”. (António Frades)

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