sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Cervejas de Moçambique, outra vez com uma publicidade “pornográfica»

 Por Rafael Bié

 

 "O alcoolismo representa o atraso de um povo, destrói o pensamento de um povo, destrói a vida de um povo... onde existe alcoolismo existe o atraso, existe o analfabetismo, existe a ignorância, existe o crime, existe a imoralidade e existe a falta de respeito, onde há alcoolismo temos estas lojas humans, estas lojas humanas ambulantes".

 Samora Machel, in Centro de Documentação Samora Machel.

"Estou preocupado porque há muitas mortes no seio dos desmobilizados, por causa de bebidas. Quando nos sentimos dependentes do álcool, algo não está a correr bem. São confusões e desgraça nas nossas famílias".
 
Mateus Kida, Ministro dos Antigos Combatentes, in Angop (Angolapress), 20 de Junho de 2012


De fronte do Cine África, aqui na cidade da Maputo, está estampado em outdoor uma publicidade da empresa Cervejas de Moçambique (CDM), anunciando uma das suas marcas, a Laurentina Preta ou a “Loirinha”, como é conhecida no seio de seus consumidores natos.
Dois outdoors estão um na praça da OMM e outro nos entrocamentos entre a Joaquim Chissano e Acordos de Lusaka com a publicidade da CDM. Neste último, o da Joaquim Chissano com a Acordos de Lusaka, o dedo indicador aponta para um copo com feições femininas, cheio da “loirinha” a transpirar por fora! Os (as) designers publictários (as) da 2M vivem, no corpo e na alma, a sensualidade.
A publicidade enganosa da Cervejas de Moçambique pode ser vista em muitas atérias de Maputo. Passa também pelos vários canais de Televisão, pelas Rádios e vem inserida em jornais aqui editados.
Os designers publicitários da maior cervejeira nacional encontraram uma forma de contornar uma outra publicidade que gerou polémica, estamos disso lembrados. Uma garrafa tomava o formato de uma mulher com seios de uma virgem e lá vinha a 2M nos brindar com: ESTA PRETA É BOA!
Apesar dessa tentativa por parte dos designers publicitários da nossa cervejeira mor, a actual tem o condão de ser ainda mais agressiva e não só, é ela insultuosa e “pornográfica”. A CDM apenas mudou-lhe a roupagem. Um bom matswa diria “sawena, a 2M yô txintxa mabelo, bassi”, o que traduzido à letra quer dizer que a 2M mudou a forma de bater. Tratou-se apenas de mudança de estratégia.
A agressividade publicitária da CDM não deve espantar meio mundo. Reparando para a estrutura accionista da empresa, recordei-me daquela máxima do antigo presidente sul-africano Pieter Botha, que disse em 1983, nos períodos áureos do regime racista: “Embriaguem a estes pretos com álcool e dêem-lhes mulheres e nós ficamos a governar”.
Não é de espantar que a África do Sul seja hoje uma das maiores indústrias cervejeiras do mundo. A produção de álcool e do tabaco não visava, no princípio, obter capital por parte dos seus mentores, tinha como finalidade distrair o homem negro de tal forma que épocas houve em que a matéria prima para produzir o “mutlhomboti” na sua versão de Chibuku (aqui produzida pela CDM) era distribuida gratuitamente aos pretos nos bairros pobres da África do Sul.
O espírito da concepção da indústria do álcool na África do Sul vem do tempo do Apartheid e tinha como objectivo alienar mentalmeente o homem negro, que quase inerte por causa do álcool não se lembraria de sair à rua para reivindicar direitos.
A publicidade da 2M, tal como a anterior, tem a infelicidade de ter um chamariz mentiroso, perigoso e só continua em outdoors porque vivemos num país em que a anomia social tomou contas até das instituições do Estado. Ninguém controla ninguém e ninguém controla nada.
Seria importante saber qual é o posicionamento da Polícia de Trânsito (PT) e do Instituto Nacional de Viação (INAV) sobre a nova descoberta, tendo em conta que o spot diz que "esta cerveja desperta os teus sentidos", até de automobilistas.
Os números de mortes resultantes de acidentes de viação são assustadores. Uma tese de licenciatura de um Estudante de Sociologia da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) diz que desde a independência de Moçambique, em 1975, até 1992, altura da assinatura dos Acordos de Paz, os acidentes de viação mataram 8,655 pessoas, em resultado de um total de 102,524 acidentes de viação. Mais de 30 mil sairam gravemente feridos no mesmo período, outros 30 mil ficaram ligeiramente feridos.
É verdade que a tese não estabelece uma relação entre os acidentes de viação e o consumo de "despertadores" da CDM mas é do domínio público a maneira provinciana como se comportam os automobilistas, alguns destes se fazendo na via pública sob efeito de álcool.
Parte significativa das pessoas que morre na nossa “Pátria Amada”, é constituída por indivíduos com responsabilidades na economia do país e muitos deles encontraram a morte depois de terem consumido despertadores produzidos, alguns pela CDM.
A Polícia de Trânsito tem dados alarmantes para a CDM revisitar a sua estratégia de marketing se ela pretender ser uma empresa socialmente útil para o país.
Diz a publicidade que a Cerveja Preta, a loirinha, desperta os sentidos. Não podiamos ouvir ou ler a aquilo que Raposo Pereira, um ex-Procurador Geral da República e docente universitário ousaria chamar “Mentira Desbragada”. Como uma cerveja (álcool, diga-se) pode despertar os sentidos? Só uma empresa irresponsavel socialmente pode aceitar que a empresa contratada para conceber seus spots publicitários lhe faça um embuste.
E o spot publicitário insere todos os cinco sentidos “despertos” pela Laura Preta: A audição, o paladar, o tacto, a visão e olfacto. Pode-se tomar apenas na questão do “olho vivo”, estampado nessa publicidade, como um exemplo demonstrativo de como as empresas, até do grupo A, passam o tempo a enganar pessoas. O álcool afecta negativamente os sentidos e não pode, de alguma forma, abrir o olho de quem quer que seja, talvez dos administradores da Cervejas de Moçambique.
Se um adolescente que vir o spot da Cervejas de Moçambique e nele fizer fê, inicia-se numa longa e penosa maratona, como estreante, no álccol, afinal não foi ele “educado” pela Cervejas de Moçambique que o álcool desperta sentidos.
Uma reportagem do jornalista Raul Senda publicada pelo SAVANA em 2012, a qual lhe deu direito a um prémio, atribuído pelo Ministério da Saúde (MISAU) mostra os caminhos tortuosos por que passa parte significativa da população jovem das zonas urbanas. Por causa dos despertadores deste mundo.
Na mesma “Pátria de Heróis” uns travam uma luta frenética para que se venda álcool nas proximidades de recintos escolares, por outro lado, a CDM, um dos grandes contribuintes para o tesouro, acha-se no direito de remar contra a maré, incentivando a todo o mumdo a “despertar os sentidos”, incluido adolescentes e jovens. E esta coisa de ser um dos grandes contribuintes também pode ser discutida.
Gostaria de saber quanto a CDM paga, em impostos ao Estado moçambicano e quanto aplica na “sua” responsabilidade social para saber se tal supera os 60 milhões de dólares norte-americanos que representam o prejuízo ao Estado por causa de acidentes de viação provocados por motoristas despertos. São 60 milhões de dólares norte-americanos, por ano.
Não quero abordar os custos envolvidos no tratamento a doenças derivadas do consumo de álcool como as diabetes, câncro e cardiovasculares. Mas posso partilhar com a CDM, a dona do “despartador de sentidos” que, em Moçambique, 24 por cento das causa de mortes autopsiadas em 2001 são causadas por doenças cardiovasculares.
O Presidente do Município de Maputo, David Simango, as autoridades de educação, várias vezes mostraram-se preocupadas pelo facto de nas proximidades da Escola Josina Machel e Estrela Vermelha terem sido instaladas barracas que vendem inebriantes para jovens estudantes.
Professores queixam-se de, com frequência, aparecerem nas salas de aulas estudantes exalando a “loirinha” e outros despertadores. Casos há de estudantes que para fazerem testes tem que tomar um despertador, que vão adquirí-lo na barraca próxima, vendidos a menos de cem metros das escolas tais como Josina Machel, Manyanga, Estrela Vermelha, Mahlazine, Quissi Mavota, Joaquim Chissano, Armando Guebuza, Samora Machel, etc.
É um lado comum afirmar que não é verdade que o álcool desperta os sentidos, muito menos a visão. Antes pelo contrário, hiberna-os e não é por acaso que a Polícia de Trãnsito e o INAV fazem, nas noites de fins de semana “Road Blocks” nas proximidades das barracas, onde se vende despertadores da CDM.
O caricato nisto tudo é que nos mesmíssimos canais de TV´s onde passam os spots despertadores da CDM, o INAV, com sentido patriótico, passa os seus spots mostrando ao “maravilhoso povo” as consequências nefastas do álcool. Provavelmente nenhum administrador da 2M tenha tempo para se sentar e ver o spot do INAV.
Quando escrevia esta peça, liguei a um amigo a comentar sobre como a Polícia de Trânsito reagiria ao spot da despertadora de sentidos, CDM. E o meu amigo, Armandinho, comentava que o mais provável é a CDM ter oferecido cabazes de fim de ano a nossa corporação policial. Será?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz numa das suas páginas que o álcool é responsável pela morte de 4 por cento de pessoas no mundo todo, matando mais do que a SIDA, a TUBERCULOSE e A VIOLÊNCIA. Tal pode não representar nada para a nossa cervejeira e resulta dai incentivar o consumo cada vez maior do “despertador”, que nos acorda para muita coisa, incluindo o sexo desprotegido porque anestesiados pela loirinha, na altura não nos lembramos de procurar o “condom”.
Pode a 2M contactar as organizações não governamentais nacionais e internacionais que trablaham na área do HIV/SIDA para saber quantas pessoas inquiridas responderam que mantiveram relações sexuais sem preservativo sempre que tivessem tomado antes o “despertador”. Os números são do tamanho da CDM.
Ao colocar aquela publicidade, a CDM mostra que quer mais gente a aderir a sua marca. A CDM não está satisfeita com os números de consumidores de álcool e quer mais.
Mas os dados são mesmo drásticos. E são do Ministério da Saúde. Aquele são elucidativos o suficiente para que no país seja discutida muito seriamente uma lei de publicidade específica sobre o álcool.
Segundo o Ministério da Saúde, a percentagem de crianças que vivem com ou são vizinhas de alguém que se embebeda é de 69 por cento e a proporção de adolescentes na mesma condição é de 66 por cento.
A percentagem de crianças que vivem com, ou são vizinhas de alguém que se embebeda é maior nas áreas rurais (70 por cento) comparada com a das áreas urbanas (64 por cento). A percentagem de crianças de 0-11 anos quevivem com ou são vizinhas de alguém que se embebeda é maior na Província de Sofala (83 por cento) e menor na Província de Inhambane (48 por cento).
A percentagem de adolescentes em áreas rurais que vivem com ou são vizinhos de alguém que se embebeda é maior (68 por cento), comparada à das áreas urbanas (63 por cento). A Província de Gaza (31 por cento) apresenta a maior proporção de adolescentes que vivem com, ou são vizinhos de alguém da sua idade que se embebede e a Província de Inhambane (6 por cento) apresenta a menor proporção.
A CDM não está satisfeita com os números do MISAU! Deve estar mais preocupada com os números de Inhambane! A empresa despertadora quer mais! Em 1935 o consumo da "Laurentina" em Moçambique era de 500 mil litros, em 1963 passou para um milão de litros. Em 2012 o consumo de álcool no país foi de aproximadamente 49 milhões de litros. Com o spot que "desperta os teus sentidos" não tarda a CDM atingir os cem milhões de litros.

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  • Tony Manna Publicidade e consumo de cerveja existe no mundo inteiro e não é por causa dela que o povo vai deixar de beber.
    Mais pudor deveriam ter em relação ás esquinas da nossa cidade que ao entardecer estão povoadas de prostitutas que ali estão não por vocaçã
    o mas para poderem ganhar algum para sobreviver nesta sociedade de falsos pudores...
    Se o povo não beber cerveja vai beber, vinho, whisky, tontonto, nipa, paradise, seja o que for, o beber é uma cultura do mundo desde que é mundo salvo nos países em que é proibido .
    Falsos moralistas que não se escandalizam de ver as catorzinhas aos montes se passeando e se entregando aos titios por esta cidade, haja paciência...e eu nem bebo cerveja !!!!
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4 comentários:

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