domingo, 13 de janeiro de 2013

Tempo justo e crítico para avançar com esforços políticos e diplomáticos pela paz e estabilidade em Moçambique

 

Por: Noé Nhantumbo
Não se espere pelos revezes e colisões…
Poder pelo poder não satisfaz os moçambicanos…
Os moçambicanos clamam que os seus políticos assumam que as manobras de diversionismo que tem caracterizado as chamadas conversações entre o governo da Frelimo e a Renamo tenham um fim rápido. Não interessa aos moçambicanos que a indecisão tome conta do panorama político nacional.
É por demais evidente que o governo, ao negar discutir ou dialogar com consequência os pontos colocados na mesa pela Renamo, o faz numa perspectiva de adiamento do inevitável, que circunstancialmente lhe convém e que serve seus objectivos de manutenção do poder por todos os meios ao seu alcance.
Convém numa perspectiva de relações públicas apresentar-se aos moçambicanos e ao mundo como quem quer dialogar e acomodar os pontos de vista dos outros. É óbvio que as tentativas permanentes de diluir uma agenda que parte considerável da opinião pública nacional considera legítima serve uma outra agenda que preocupa os moçambicanos.
Quando se apresenta à comunicação social comunicados redutores e consubstanciando recusa de abordar e aceitar o que de legítimo a outra parte traz para as negociações estamos perante uma atitude típica de avestruzes que “enterram a cabeça na areia” face a constrangimentos claros.
Quem duvida de que o campo de manifestação ou expressão de pontos de vista políticos, de exercício dos direitos constitucionais estão desnivelados e tendentes a favorecer o partido no poder precisaria de se situar e realizar uma análise objectiva da situação antes de pronunciar-se.
Não é de bom senso enveredar por uma mentira clara aos olhos da maioria.
Politicamente esse tipo de artifício produz resultados de curta duração ou na melhor das hipóteses produz vitórias com potencial desestabilizador.
Aquelas vantagens asseguradas através de manipulação da legislação eleitoral e sobretudo alcançada por via de aprovação de uma legislação decapitadora da democracia estão se revelando “sol de pouca dura”.
Quando os avanços esperados no edifício da democracia tardam e a paciência por parte dos outros interlocutores políticos se esgota está aberto o caminho para crises de dimensão e profundidade desconhecidas.
Os políticos podem agir proactivamente ou podem ser consumidos por agendas próprias, privadas ou de outro carácter que não aquilo que interessa a maioria dos seus concidadãos.
Moçambique tem uma possibilidade de continuar a trilhar por caminhos exemplares de paz e concórdia mas também sua derrapagem é bem possível.
Os resultados deploráveis de sucessivos encontros entre o governo e a Renamo mostram que não está havendo vontade política de resolver diferendos conhecidos.
A atitude obtusa, de relutância, de desprezo por questões óbvias e visíveis é sinónimo preocupante de uma postura política característica de quem não está interessado em trazer progresso ou desenvolvimento para seu país.
Políticos a quem se dá todo o tipo de adjectivos abonatórios, elogios nacionais e internacionais, não está mostrando liderança nem sentido de responsabilidade que lhe deveriam ser inerentes.
É visível a hesitação que mostram nossos políticos de “proa”. Parece ter havido um conclave em que se decidiu que ceder ou considerar as propostas dos adversários era “impensável e inconcebível”.
Algum encorajamento tácito de governantes vizinhos terá servido de material para a formulação de uma política de negociações a altura que os “aliados” consideram de essencial para a sua manutenção na “crista da onda” da região austral de África.
Só o tempo trará a verdade mas é de prever que os desenvolvimentos políticos regionais sejam ou aconteçam rapidamente.
A complicação que enferma o Governo de Unidade Nacional no Zimbabwe, o provável descarrilamento do processo político em Moçambique terão benefícios mesmo que relativos para alguns políticos e governantes na SADC.
Não se pode descontar senão de ânimo leve e de maneira irresponsável todo o potencial de desestabilização que um ciclo de conversações sem resultado pode ter em Moçambique.
Está ficando claro que entre os membros de topo da Frelimo ninguém quer ficar com a “batata quente” nas mãos. Ninguém ser acusado de ter “vendido as conquistas” ao inimigo.
A postura de dureza e as manobras dilatórias que se semeiam todos os dias mostram as fissuras que existem entre os “camaradas”.
Não há convergência de ideias que sejam promotoras de diálogos com impactos positivos e significativos na vida do país. Com uma Comissão Política reduzida a caixa-de-ressonância das pretensões presidenciais, a Frelimo como partido político saiu enfraquecida de seu último congresso em Pemba. O fortalecimento do presidente da Frelimo e a sua posição de chefe do estado e do governo dão-
-lhe um enorme espaço de manobra. Do ponto da convergência de direcção isso pode parecer e ser útil mas do ponto de vista de produção de ideias e de inovação política nada poderia ser mais prejudicial.
A carga de interesses económicos e financeiros, empresariais e outros que só se podem manter incólumes através da ocupação de posições cimeiras na esfera governativa e partidária pode estar ofuscando a visão dos negociadores governamentais.
Como já deu para entender, todo o séquito do chefe da II república acabou sofrendo na carne as consequências de não fazer parte do poder. É de depreender que os membros do governo da III república não queiram ver suas prerrogativas e poderes diluídos senão desparecendo por via de cedências que possam ter que aceitar em negociações com uma Renamo mais exigente.
Não se pode descurar o poder dos outros e também os receios dos mesmos.
2013 vai constituir um teste rápido do futuro próximo em Moçambique.
Aquilo que os actuais negociadores quiserem poderá não acontecer pois o povo deste país está aprendendo e abrindo decisivamente os olhos...
Canal de Moçambique – 09.01.2013

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