quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Soldados norte-americanos morrem mais por suicídio do que em combate no Afeganistão

 

Soldados norte-americanos morrem mais por suicídio do que em combate no Afeganistão
Jalil Rezayee, Epa

O balanço do ano de 2012 não deixa dúvidas. Os taliban mataram 295 soldados norte-americanos, mas o número de suicídios é superior: 349 soldados norte-americanos mataram-se a si próprios. Este número representa mais um aumento em relação a anos anteriores, na linha de um crescimento que se revela ininterrupto.

Os dados foram ontem publicados pela Associated Press e comentados em artigo do jornal especializado Stars and Stripes. Foram também confirmados pela porta-voz do Pentágono, Cynthia Smith.

O número total de suicídios representa uma duplicação relativamente ao que era em 2005. De 2003 até 2009 houve uma clara tendência para o número ir subindo todos os anos, seguindo-se depois uma aparente estabilização durante dois anos. Mas ultimamente o fenómeno acentuou-se de novo.

Os motivos para o recente agravamento são debatidos sem conclusão convincente, tanto mais que o fim da guerra norte-americana no Iraque e o fim anunciado da acção militar norte-americana no Afeganistão fariam supor um desenvolvimento mais provável em sentido contrário.

Um académico da Universidade de Utah, David Rudd, também citado em Stars and Stripes, divide os suicidas militares em dois tipos: aqueles que não participaram em acções de combate, mas têm problemas afectivos, financeiros ou judiciais; e aqueles que sofrem de stress pós-traumático, depressão ou toxicodependência resultantes da guerra.

Dois generais reformados, Peter W. Chiarelli e Dennis J. Reimer, tinham afirmado recentemente no Washington Post que "uma das coisas que aprendemos durante as nossas carreiras é que o stress, as armas e o álcool são uma mistura perigosa. Feita em proporções erradas, ela tende a apagar a lâmpada do juízo e a causar actos irracionais".

Uma outra explicação foi avançada pelo porta-voz do Serviço de Veteranos das Guerras no Exterior, Joe Davis: "É difícil regressar de um ritmo de guerra a uma vida de guarnição". Outra coisa que é difícil, acrescentou, é deixar as forças militares e procurar soluções de vida num mercado de trabalho civil, nos tempos que correm.

De qualquer modo, os civis norte-americanos já hoje se suicidam mais do que os militares: 25 por cada 100.000 homens com idades entre os 17 e os 60 anos (contra 17,5 entre os militares do mesmo grupo etário).

Os suicídios são mais numerosos entre os militares sem laços familiares, ou com eles desfeitos, sem qualificações profissionais e sem instrução escolar média ou superior. Naturalmente, eles são também mais frequentes nos ramos das Forças Armadas em que a qualificação média é inferior: 182 no Exército, 48 no Corpo de Fuzileiros, 60 na Marinha, 59 na Força Aérea.

De qualquer modo, a tendência suicida é crescente e, segundo o secretário cessante da Defesa, Leon Panetta, "epidémica". O já citado David Rudd considera que "podemos continuar a assistir a um aumento".

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