terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Menos perversidade, depravação e mais educação e trabalho para os jovens moçambicanos

Canal de Opinião
Por: Hilário Chacate
 
India (Canalmoz) - No contexto dos desafios para o ano que se inicia (2013), senti-me no dever de fazer uma reflexão que desafiasse os jovens a serem mais ousados e a concentrarem as suas energias em “agendas” que lhes possam render um futuro mais frutífero.
Desafiá-los a trilharem pelas sendas que permitirão que amanhã olhem para o seu passado com altivez de espírito e digam sem reservas: “temos orgulho da nossa juventude e de sermos moçambicanos”. Dessa forma, os jovens de hoje estarão a garantir que as gerações vindouras tenham referências e modelos por seguir.

Olhando para a maioria da actual juventude moçambicana, o meu espirito mergulha-se num pranto sem consolo. E questiono-me: “o que essa geração deixará como legado para os seus filhos”? Refiro-me a uma juventude que, como os portugueses apelidaram, é uma “geração à rasca”. Uma geração para cuja maioria o seu futuro é bastante incerto, jovens mergulhados em vícios tais como: alcoolismo, vícios nocturnos, sexo e a satisfação de vários outros “apetites animalescos”. Com isso, não pretendo dizer que os prazeres que satisfazem o ego e as sessões juvenis sejam um problema em si, porém esses tornam-se num mal extremamente violento para a sociedade quando são encarrados como um fim em si, e quando estes tomam controle dos jovens, tornando-se em modus vivendi, ou uma prática reiterada, ao ponto de os jovens abrirem a mão de projectos de construção da riqueza e de uma nação que possamos todos nos orgulhar dela.
Talvez alguns reagiriam dizendo que há muitos jovens envolvidos em projectos sérios, formando-se, trabalhando, empenhados em negócios como empreendedores, assessorando dirigentes em várias áreas no nosso país, e até na diáspora. Isso é um facto. Até porque conheço vários. Contudo, olhando para estatísticas, este grupo é “uma gota no oceano”. Conheço relativamente bem a cidade de Maputo e os seus arredores, assim como conheço vários distritos moçambicanos. Para não ver Moçambique baseado apenas em Maputo, é relevante trazer alguns factos dos distritos no contexto desta abordagem, para consubstanciar as minhas premissas, neste caso concreto a província da Zambézia. Nas minhas aventuras de negócios tive a oportunidade de interagir com vários jovens desta província, particularmente distrito de Mocuba e cidade de Quelimane, dentre vários outros. O meu descontentamento é que quase todos os dias quando passasse por locais de venda de álcool (bares, barracas, restaurantes) estavam sempre lotados de jovens a beberem. De dia, de noite, jovens de todos os sexos, queira faça frio, calor, chuva, sol... eles estavam lá. Ao olhar para aquela realidade, várias vezes monologuei comigo mesmo: “se esses jovens investissem tanto tempo na sua educação, trabalho duro, e na busca de outros valores que tendem a engrandecer o espírito humano e as sociedades na mesma medida que investem nos vícios, certamente que Moçambique seria um país melhor do que é hoje”.
O exemplo que trago de Mocuba é uma simples amostra do que acontece em vários outros distritos do nosso país, incluindo na província de Maputo. A maioria da juventude moçambicana encontra-se pervertida e depravada. Como consequência, a maioria dos jovens não estão em condições, quer de ponto de vista moral, assim como de ponto de vista intelectual de serem úteis para o mercado de trabalho. Esses jovens não estão preparados para a competição. Na verdade a selecção natural das forças do mercado já lhes excluiu da concorrência, pois não reúnem condições basilares para participar da corrida. Sendo assim, esses jovens tornam a nossa sociedade doentia e frágil. Esses jovens transformam-se num peso e desgraça para as suas famílias, comunidades e para a nação em geral.
Sendo assim, urge questionar: será que ainda existem soluções para reverter este senário de uma juventude depravada e pervertida? Quem tem dever de alterar este cenário? Certamente que há soluções para esta triste realidade. No meu entender, os jovens moçambicanos clamam por referências, por líderes que lhes influenciam positivamente, que consigam inculcar neles os valores e cultura de trabalho e dedicação. Jovens moçambicanos precisam de uma orientação ideológica clara. A juventude precisa de uma ideologia capaz de desafiá-la a acreditar em si e a concentrar as suas acções em determinados objectivos. Essa ideologia serviria como um input que aguçaria nos jovens a ambição, a maximização das suas capacidades, talentos e a busca permanente pelo saber, e saber fazer com vista a se auto-superar e ser cada vez mais útil para a sociedade. Os jovens moçambicanos clamam por uma liderança que demonstra não apenas pelas palavras, mas também pelas acções que para alcançar sucesso é preciso em primeiro plano saber fazer sacríficos. Os jovens precisam de ser inspirados a perceberem que existe uma proporcionalidade directa entre o trabalho e o sucesso, isto é, quanto maior forem os sacrifícios, maiores serão os benefícios, e vice e versa.
É irrecusável que a existência de uma ideologia clara torna as pessoas mais produtivas, e mais úteis à sociedade. Os dados económicos mostram que de 1975 a 1981 Moçambique atingiu o auge da produção e produtividade que nunca mais conseguiu depois desses anos. Algumas das razões desta grande conquista económica temporária foi a euforia resultante da independência, assim como a capacidade que o governo de Machel teve de incutir valores ideológicos educacionais, de entrega ao trabalho para a criação da riqueza e combate à pobreza. Este acontecimento é um exemplo doméstico que nos ajuda a perceber que a criação de uma ideologia e a sua inculcação num povo é uma arma funcional para o alcance de um futuro próspero.
Os que zelam pela efectivação das políticas públicas devem criar mecanismos mais pragmáticos para que o plasmado na constituição, no que concerne à igualdade de oportunidades para todos, sem distinção das pessoas de acordo com a sua orientação política, racial, sexual... se torne uma realidade. A efectivarem-se essas teorias constitucionais, estaremos perante uma sociedade meritocrática, onde os jovem perceberão que só os dedicados à formação, ao trabalho, os que sabem fazer acontecer estão em condições para competir.
Contudo, as soluções propostas nos parágrafos anteriores dependem de quem desenha as políticas públicas e zela pela sua materialização. É da responsabilidade dos líderes políticos terem clareza do que pretendem para os jovens a curto, a médio e a longo prazo. Os jovens precisam de perceber o potencial que eles são para a criação das melhores condições no sentido de melhorar as suas vidas, e não só. Mas para isso é preciso que se engajem cada vez mais na sua educação. Chissano uma vez fez uma afirmação que entendo ser oportuna citá-la para consubstanciar a minha argumentação. Ele disse: “O conhecimento é poder. Por isso para escravizar um povo, e mantê-lo sob dominação basta negá-lo a educação”. Por isso os jovens precisam de perceber que a educação é a base indispensável e eficaz para o desenvolvimento e para a criação da riqueza para nossa geração e a posteridade.
A juventude precisa de tornar-se mais lúcida, elevar o nível de exercício da sua cidadania através da sua participação na vida socio-política e económica do país. Não deixar que nenhuma entidade, seja qual for, tome decisões que dizem respeito às suas vidas na sua ausência. “A geração à rasca” precisa de perceber que há certas conquistas que ninguém poderá alcançar por eles. Contudo, este envolvimento profundo do jovem no pulsar da vida socio-política e económica do país passa necessariamente de um cometimento deste na vida educacional. Pois, sem educação não saberá quais são os seus direitos, e muito menos como reivindicá-los.
É importante lembrar aqui à “geração à rasca moçambicana” que na maioria das histórias de vários países foram jovens que levaram acções que culminaram em reajustamento estrutural com vista a criar uma nova ordem nacional. Em Moçambique foi assim com a geração de 25 de Setembro, que ousou a enfrentar e vencer o colono português, assim como em vários países africanos que se viram sob jugo colonial. Em Abril de 1974, os jovens portugueses tomaram decisões que alterariam profundamente a vida socio-política e económica de Portugal fazendo com que um regime ditatorial que tinha sido instalado por Salazar cedesse espaço à democracia. Foram jovens que entre os anos de 2010 até os dias de hoje tem sido uma alavanca para mudanças profundas na região do norte da África e do Médio Oriente.
Portanto, é imperioso que os governantes moçambicanos criem bases ideológicas claras que desafiem a juventude a apreciar os valores mais elevados da humanidade, de criação, de saber fazer, por um lado. Que as acções dos governantes sejam inspiradoras para a juventude de tal forma que essa sinta-se cada vez mais desafiada a participar do “grande projecto” de construção de um Moçambique melhor para todos nós, por outro lado. A juventude, por seu turno, deve romper algumas paixões que não trazem nenhum benefício, tais como: dar primazia ao consumo do álcool, drogas, sexo, vida nocturna e tomar uma nova postura que lhes poderá garantir acesso a esses prazeres sem prejudicar ou comprometer o seu futuro, assim como das gerações vindouras.
Desejo um ano de muitos sucessos para todos os jovens, em particular, e para todos os moçambicanos, de uma forma geral! (Hilário Chacate)

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