quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

MEMÓRIAS DE UM REBELDE, de António Disse Zengazenga(5)

 

Obra António Disse Zengazenga,2013_pag424

(Presidentes Kenneth Kaunda, Julius Nyerere e Samora Machel. «Aqueles homens e mulheres que estão ali devem sentir-se muito felizes por terem nascido em Moçambique... » - Disse Nyerere zombando deles.)

Desta obra, a publicar dentro de pouco tempo, com prefácio do Dr. Máximo Dias, transcrevo mais o seguinte texto:

… …
O encontro de Nashingweya marcou o fim do apoio que a Zâmbia dava ao Coremo pela entrega dos seus membros à Frelimo e pelo corte total das relações que a Tanzânia tinha com a facção de Nkavandame.
Em sinal de gratidão, a Frelimo nomeou duas das grandes avenidas Kaunda e Nyerere. Os apoiantes do Coremo e outros partidos opositores da Frelimo (Egipto e Gana) saíram com as mãos quase vazias.
A declaração do II Congresso, realizado entre 20 e 25 de Julho de 1968, não merece crédito, pois não se refuta o adversário, citando ao que se opunha, confirmando-o em seguida no seu posto.
Deve-se formular fielmente as suas teses, refutá-las, acabando por reprimi-lo. O facto de a Frelimo não conseguir expor com precisão o que Simango e Kavandame defendiam executando-os secretamente sem que se pudessem defender, prova ipso facto que é uma montagem de mentiras.
A sua linguagem dá a entender que tudo foi preparado minuciosamente, atribuindo-o a Uria Simango, para que ficasse em harmonia com a política que a Frelimo vinha praticando desde a morte de Filipe Samuel Magaia. Essa política continuou atingindo o seu apogeu com as execuções públicas e festivas, assistidas oficialmente, coisa não conhecida não só em Moçambique mas também em todo o continente africano.
Para mim todas as posições negativas atribuídas a este grande herói são fabricações da Frelimo. A única coisa que aceito acerca dele é que foi executado enquanto era seu prisioneiro político, sem defesa e sem ter praticado qualquer traição. Foi assassinado sem defesa nenhuma, num país independente, porque os seus algozes temiam perder o caso. Receavam que sobrevivendo expusesse ao mundo inteiro as barbaridades da Frelimo.
A reunião de Abril consistia em confirmar o hábito que já havia, que se baseava em preferir a exploração e opressão portuguesa à suposta exercida pelos moçambicanos.
O encontro de Maio caracterizou-se pelos discursos pronunciados pelos três presidentes diante daqueles que iam ser executados.
O de Machel fundava-se em citar uma lista de calúnias às suas vítimas, elogiar a amizade que existia entre os três homens de Estado. Os dos seus hóspedes em louvar aquela presença humilhante de mais de quatrocentos prisioneiros como obra altamente exemplar. Foi uma reunião na qual os sentimentos desumanos dos três chefes de Estado convergiram clara e completamente.
A Nyerere deve-se perguntar porque a oposição estava errada, se verdadeiramente Samora, na reunião de Abril, preferiu a exploração de pretos por portugueses em vez de ser por outros pretos moçambicanos, como hoje é hábito comum em Moçambique? Não prova isso por si mesmo, que era uma projecção da Frelimo para denegrir Simango e Nkavandame?
A Kaunda deve-se perguntar quando é que reprimir e humilhar alguém em público é um acto humanamente louvável? Devemos nós um dia elogiar Chiluba por haver chamado a Kaunda traidor, tê-lo condenado a prisão domiciliária e incitar os chefes africanos a segui-lo? Há nisso alguma coisa humana?
A Samora tem que se perguntar porque é que, matando o branco, transformaria a guerra civil em Moçambique numa guerra racial, se as guerras contra lan Smith e John Vorster não eram? O que lhe valeu preferir a guerra civil? Porque não declarar claramente que tinha gosto de matar pretos, assim como os portugueses nos massacres de Mueda, na província de Cabo Delgado em 1960, e de Wiriyamu, na província de Tete, em 1972; por isso, no fim da guerra, não apresentaram nenhum prisioneiro político de guerra?
Quem viveu com Mondlane e Simango sabe muito bem que este último tinha menos a ver com imperialistas e colonialistas do que o primeiro. Onde e quando é que Simango viveu com o inimigo? Não era Mondlane que se encontrava com portugueses nos Estados Unidos e mandava a sua esposa quase anualmente a Portugal para frisar o ponto de vista da Frelimo, sob o pretexto de que o comandante-chefe poderia encontrar-se com quem quisesse? É incrível o que Samora se permite dizer contra os heróis moçambicanos!
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Veja http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2012/06/mem%C3%B3rias-de-um-rebelde-de-ant%C3%B3nio-disse-zengazenga2.html
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