sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Maldita sociedade da comunicação - João Demba



Luanda - Não é fácil ser Comunicologo, entenda-se Publicitário, Relações Públicas, Propagandista, Jornalista. A estas, podemos adicionar os Marketeers. Estudos internacionais, revelam que ser comunicologo, é das profissões, que está na linha da frente, no ranking, daquelas que mais stress causa a pessoa.
Fonte: Club-k.net
Factores como relacionamento, interacção permanente, contacto diário com todo tipo de pessoa, as limitações legalmente previstas, a falta de informação, justificam, e fazem-nos acreditar nestes rankings. Para muitos profissionais, o factor stress, pode ser um factor desmotivador, mas, para alguns, se quisermos, apaixonados, empreendedores e utópicos, constitui um desafio, sempre motivador, para obtenção de resultados brilhantes.

Entendida no seu sentido amplo, como um conjunto de sinais e símbolos – palavra, texto, gesto, imagem, postura, enfim, que permite a interacção social, do individuo, num determinado território, e no seu sentido restrito, como meio de transmissão de mensagens, a comunicação, tornou-se num elemento de grande influencia, nas, e das sociedades nos seus mais variados estágios de desenvolvimento. Não é atoa que, até mesmo através dos menos atentos e sem intencionalidade, várias vezes ouvimos a expressão “Estamos na era da informação” “Estamos na era da globalização”. Nunca se falou tanto em comunicação, como agora, nunca tivemos tantos meios de comunicação como hoje, seja pela quantidade, como pela variedade. Nunca tivemos tanta rapidez, na transmissão de mensagens. Entretanto, o aumento de meios de comunicação, não significa obviamente, melhoria no processo e na forma de comunicar. Pelo contrário, até porque a realidade, tem comprovado isto.

Este aumento, que de certa forma, tem promovido a dispersão dos meios de comunicação e de informação, poderá até certo ponto, levar-nos a falsa informação, desinformação, causando assim, enormes problemas a sociedade. O isolamento das pessoas, falta de diálogo, desmembramento familiar, desvalorização de valores culturais, morais e sociais, aculturação, o espirito de facilidade, futilidade, etc, etc. Basta observarmos a nossa volta. Apesar do aumento de canais de televisão, rádios, jornais, revistas, sites de internet, telemóveis, as inúmeras campanhas publicitárias, palestras, artigos como este, debates com especialistas, lideres de opinião… assiste-se a um verdadeiro desmoronar dos valores morais, culturais, sociais etc, etc, num total desrespeito e ignorância, para com aquilo que era usual e bom. Vivemos num clima de total desconfiança das pessoas, para com tudo. Duvidamos de tudo e todos.

Principalmente se esta pessoa, não tiver poder económico, tão pouco ser “bem parecido”. Ninguém respeita ninguém, avós, avôs, pais, mães, tios, tias, irmãos, irmãs, primos, primas, namoram e casam entre si, os adultos desejam e abusam as crianças, as crianças querem os adultos, referência para os adolescentes e jovens, são somente músicos e desportistas, professor é intruso, chamar atenção é ter inveja, ser virgem, é ser burro, fazer sexo desregrado é estar na moda, consumir bebidas alcoólicas, é carimbo para inclusão social, licenciatura é sinonimo de bom salário e bom emprego, fazer mestrado/doutoramento, é ser fino, não há entrega e dedicação aos estudos, a imagem (swegue) tornou-se mais importante do que a competência, queremos viver de acordo a realidade dos outros, os projectos não têm intenção futurística, escondem-se nas várias fases, ou seja, fase I, fase II, fase III, não são devidamente monitorados, tão mensuráveis, ninguém assume a responsabilidade das coisas erradas, todos somos responsáveis pelas coisas boas, vende-se saúde e educação como se gasosa, médico quer ser treinador, treinador quer ser jornalista, todos entendem de futebol e comunicação, ninguém entende de agricultura e gestão de pessoas, o sucesso das pessoas está condicionalmente associado, ao uso desta ou daquela marca de relógio, telefone e carro, gastamos mais do que ganhamos, os mais velhos querem continuar jovens, os jovens confundem irreverência com rebeldia, ser angolano é falar calão, promove-se cada vez mais futilidades, programas informativos de televisão, são encurtados e até mesmo substituídos, por programas de entretenimento, queremos ter bons salários sem fazer para merecer, todos os dias é dia de festa, tem segundas com a BANDA MARAVILHA, terças FESTA, quartas QUENTES, quintas dos FAMOSOS, sextas dia do HOMEN, sábados do SABADÃO e domingos dos CALDOS.

Afinal, quando é que se está sem efeito de álcool? Não importa que produto é, associa-se a publicidade do mesmo, a festas, sexo explícito, mulheres semi-nuas, futilidades, etc, etc… E no meio de tudo isto, consumo exagerado de bebidas alcoólicas, sexo sem regras, aumento de casos de DTS – Doenças Sexualmente Transmissíveis, acidentes de viação, desagregação familiar. Será tudo isto resultado da actual e tão propagada sociedade da comunicação? De facto, quer individualmente como colectivamente, estamos submetidos a comunicação, até porque, o ser humano, nas com esta propensão natural, sem a qual “não conseguíramos nos entender”. Se levarmos em conta os elementos, tecnogocios, ideológicos, políticos e culturais, próprios das sociedades, podemos reafirmar que SIM.

É culpa da era da comunicação. Do ponto de vista tecnológico, podemos referenciar a teoria de M. Macluhan sobre o fenómeno “Aldeia global” proporcionando a utopia da eliminação das fronteiras, promovendo a eliminação de valores, princípios e hábitos, próprios de indivíduos de determinada localidade. Na componente ideológica, referencia ao “poder” manipulador e influenciador sobre as sociedades, proporcionando pela comunicação, pelo seu desenvolvimento e pela sua diversidade. Em relação a política, realce dado a comunicação, como elemento central, para uma sociedade democrática, pacificadora e de livre escolha, promovendo a ideia falseada, que a maioria tem sempre razão. Por último e não menos importante, a cultura, onde podemos destacar, a valorização e distinção das pessoas por aquilo que são, mas também, e sobre tudo, pelo que não são. A complementaridade e união de valores e ideias contrárias, até mesmo sem fundamento e justificativa logica, a visibilidade dos grandes, mas também dos pequenos e dos que não existem, etc, etc… Apesar dos ganhos inquestionáveis, agradáveis, reconfortante, não me recuso, sequer me coíbo, em gritar o mais alto possível, e produzir eco. MALDITA ERA DA COMUNICAÇÃO.

João Dembajoao.demba©gmail.com

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