segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

“Falcões” moçambicanos preparando anulação do estado democrático?

 

Por: Noé Nhantumbo

Negociações com a Renamo que não avançam podem ser um ensaio…
Existem razoes para os moçambicanos estarem preocupados com os cenários se ensaiam e as estratégias que podem estar sendo implementadas. Não é por acaso que por um lado aparentemente se aceita negociar e por outro lado se recusam os pontos apresentados pela outra parte.
Há um movimento concreto visando preparar a comunidade nacional e internacional para aquilo que se pretende não ser uma surpresa. “Amaciar” a opinião pública nacional para o que essencialmente já se conhece e se deseja é o que terá sido eleito como estratégia principal.
Importa para alguns políticos e estrategas, esmagar a oposição política de qualquer jeito.
A tolerância política apregoada está fora de questão e de hipótese pois isso desencadearia um movimento de retificação à escala nacional que destruiria as bases em que assenta o actual poder.
Numa combinação de acções nacionais e internacionais, espaço privilegiado sendo oferecido aos defensores do actual status na comunicação social pública nacional e alguma imprensa internacional para repetirem suas teses de “perfeição e correção” quanto à condução do processo político moçambicano, essas incursões não são mais do que preparar o terreno para o que já estará decidido em termos estratégicos.
Os interesses económico-financeiros de alguns sectores moçambicanos conjugados com aqueles de corporações internacionais, plataformas políticas estabelecidas em Lisboa e outras capitais ocidentais bem como orientais, estarão de maneira calculada e concertada conjugando-se para apoiar as pretensões do partido Frelimo.
Quando a comunicação social portuguesa praticamente se cala e não apresenta os habituais comentários, análises e críticas de seus proeminentes comunicadores, estamos perante uma postura preparada, conjugação estratégica específica e objectivamente, uma tentativa de não dar voz às aspirações políticas e económicas de uma maioria de moçambicanos que se encontram desassociados dos processos políticos e económicos moçambicanos.
Há que manter a todo o custo aquilo que se conseguiu ao longo de anos de implementação de uma política de cooperação tortuosa.
Aquilo que se apresentava como uma derrota, com o advento das independências das ex-colónias portuguesas foi tratado com “inteligência e diligencia”.
O fim da guerra-fria deu oportunidade a um realinhamento diferente dos interesses em jogo.
Moçambique ao aderir ao Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial colocou-se no centro do furacão. Quem se dizia “socialista, marxista-leninista” estabeleceu acordos que garantissem créditos dos “patrões capitalistas” que antes se dizia combater.
É neste cenário que a Frelimo funciona e equaciona suas políticas. Órfãos efectivos de uma Moscovo que se esqueceu completamente de seus satélites africanos, os dirigentes da Frelimo acabaram por sucumbir às “guloseimas” do capitalismo.
Só que no capitalismo estabelecido em Moçambique, praticamente uma cópia do Black Economic Empowerment sul-africano que ainda estava por nascer, a acção principal dos detentores do poder tem sido acumular e açambarcar em regime de exclusividade tudo o que interesse económico e financeiro exista no país.
Na banca colocaram-se aqueles que devido ao seu conhecimento e experiência haveriam de garantir que os créditos fluíssem na direcção desejada. Accões foram adquiridas e trocaram de mão exactamente como os detentores do poder desejavam.
As facilidades concedidas aos bancos portugueses foram orquestradas por aliados políticos que se conheceram não só em Lusaka mas também em Paris.
Se não houve mexidas na estrutura dos bancos que pertenciam a capitais britânicos isso foi estratégia de sobrevivência e cumprimento de conselhos que no tempo se revelaram vitais.
Cumprindo instruções estratégicas do FMI/BM privatizou-se o parque industrial estatal e desencadearam-se accões que na verdade concorreram para a desativação da indústria nacional.
Garantir a dependência total de um estado passa por expandir o grau de necessidades que o mesmo tenha em relação a recursos externos.
Isso foi feito com eficiência por um governo que não tinha negociadores experientes nem realmente patrióticos como queriam dar a entender.
Colocados face a possibilidade de emergirem ricos e poderosos não hesitaram e cumpriram na íntegra as instruções recebidas.
Hoje que surgem sinais inequívocos de que uma parte considerável dos cidadãos moçambicanos se encontram insatisfeitos com a situação em que vivem e reivindicam saídas os detentores do poder preparam-se afincadamente para os combates que se avizinham.
Embora não se diga com clareza e se procure apresentar uma normalidade inexistente, ninguém duvida de que “aves de mau agoiro” sobrevoam o panorama político nacional.
É assim que notícias de Harare e Pretória sejam mais fluídas do que as que saem de Maputo no que se relaciona com a crise latente moçambicana. Desdobramentos militares Zimbabwe junto a fronteira moçambicana, declarações da SADC e outros querem dar a entender que a região está com Maputo pelos efeitos mediáticos e políticos que isso tem.
De Maputo os protagonistas governamentais querem dar a entender que estão interessados em englobar a oposição política no desenho de soluções políticas de que o país clama mas na verdade trata-se de um enredo detalhadamente elaborado.
O governo não está sinceramente interessado em ceder em coisa alguma embora a propaganda oficial queira que os cidadãos acreditem nisso. Quem deseja realmente mudanças deveria estar mostrando exemplos com a adopção de medidas para combater a corrupção galopante. Há espaço concreto para se agir no sentido de uma transparência indubitável no domínio da exploração dos recursos minerais e o governo não está dissipando dúvidas.
No que se refere a Lei Eleitoral quem esteja interessado em acabar com jogos desiguais poderia propor legislação apropriada no lugar de fincar o pé num pacote eleitoral que continua a dar vantagens ao seu partido pois a composição dos órgãos eleitorais não deixa margem para dúvidas sobre qual será o comportamento dos titulares na hora da verdade.
Estabelecer mecanismos que garantam a existência de forças armadas despartidarizadas é algo que não se pode fazer com uma estrutura de comando obediente a instruções emanadas por quem dirige a partir da Pereira do Lago.
Trazer legislação e transparência para a economia nacional, beneficiando os cidadãos nacionais, não se pode fazer nem acontecer com um governo constituído parte interessada na exploração dos recursos de solo e subsolo na pessoa de seus integrantes.
Se os ministros e seus representantes legais são membros activos das joint-ventures que se estabelecem para explorar os recursos minerais o que realmente fica para os moçambicanos?
Não faz sentido nem se pode aceitar que um país rico de uma gama variada de recursos minerais tenha seus estudantes sentados no chão, debaixo de árvores chamados de escolas.
Exportar carvão e gás mas ao mesmo tempo viver na dependência de parceiros estrangeiros para suprir as necessidades em medicamentos de seu sistema de saúde significa que alguma coisa está sendo muito mal feita e que o governo não está tomando conta dos assuntos como deveria.
Toda a verborreia e proclamações dos titulares de órgãos do governo são desmascarados por uma realidade que não se compadece com tais mentiras.
Mesmo os que acreditavam que o governo estava genuinamente interessado em representar os moçambicanos começam a questionar e a duvidar. As críticas provenientes dos mais variados quadrantes são um testemunho claro de que o governo está defraudando as expectativas.
Os apoiantes externos do governo moçambicano podem estar fazendo contas erradas ao aconselharem dureza e intransigência.
Por toda a África há sinais de crescimento da crispação social, do descontentamento, da intolerância política, dos atropelos à lei, da recusa de adopção de condutas que tragam reconciliação e entendimento entre cidadãos.
Bafejados com a sorte de ser depositário de inúmeros recursos minerais, apetecíveis, Moçambique corre o risco real de descarrilar e regredir para patamares de violência antes prevalecentes.
Quem supõe que a alteração do quadro legislativo e de medidas que conduzam a declaração do estado de emergência ou de sítio levarão ao prolongamento do mandato presidencial pode estar certo disso. Mas não será isso que irá trazer aquela estabilidade e paz tão necessários…
Canal de Moçambique – 16.01.2013

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