quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Chuvas voltam a expor incompetência do município e do Governo da cidade

Maputo
 

2013 01 16 001

Assim ficou a Av. Julius Nyerere, na zona onde decorrem as novas obras, no cruzamento com a que desce para a Escola Portuguesa, Hospital Privado e Mercado do Peixe do Marítimo, que liga com a Av. Marginal. Voltou tudo à primeira forma. Milhões de dólares foram com a água. (Foto de António Conceição)

Maputo (Canalmoz) – A forte precipitação das chuvas na manhã desta terça-feira na cidade de Maputo voltou a expor em quase toda a urbe a incompetência e desleixo das autoridades municipais e do Governo da cidade, agravando a situação de salubridade e saneamento. Até na Avenida Julius Nyerere as novas obras ruíram, mostrando bem a qualidade do investimento que ali está a ser feito.
Havendo a mais ligeira precipitação a baixa da cidade de Maputo inunda. Isso já se tornou vulgar mesmo se sabendo que obras de custo avultado ali foram feitas há pouco mais de quatro anos.
Na Av. Julius Nyerere, onde há obras de grande engenharia em curso, era suposto que tudo ficasse resolvido de modo a não se repetir o desastre do ano 2000 provocado por uma grande enxurrada, mas o alcatrão voltou a ruir. Era novo, a obra ainda não está entregue ao Conselho Municipal de Maputo, dono da obra, mas com as chuvas desta terça-feira já ruiu tudo, aparentemente por não estarem previstas obras de drenagem. Ou simplesmente porque se andou a permitir construções onde nunca se deviam ter autorizado e agora já é tarde demais para se evitar o que ciclicamente sucede. Permitiu-se a impermeabilização quase total de vastas áreas das barreiras ao longo da Julius Nyerere e agora é o que se vê!!!... A ganância pelo dinheiro sobrepôs-se à segurança e ao que é recomendável e agora os desastres repetem-se quando ocorrem poucas horas de chuva.
A cidade de Maputo está completamente vulnerável a cerca de quarenta milímetros de chuva (40 mm), como a que ontem se precipitou sobre a capital do país, segundo informações dos serviços de meteorologia.
Numa ronda feita pela Reportagem do Canalmoz, por alguns bairros dos distritos municipais de KaMavota, KaMaxaquene, KaMpfumo, todas as estradas estavam totalmente submersas e intransitáveis.
A situação condicionou a circulação de peões, veículos, vendedores ambulantes e a própria actividade comercial da cidade.
Desde o prolongamento da avenida Julius Nyerere, no bairro de Hulene, passando pela Praça dos Combatentes, vulgo Xikelene, avenida Vladimir Lenine, Karl Marx, 25 de Setembro, apenas para citar algumas avenidas, a água era tanta que as vias estavam intransitáveis. A água corria canalizada, como se de rios se tratasse, dada a densidade de habitações que se permitiu que fossem construídas sem que fosse antes feita uma rede de canais de escoamento. Agora é o caos sempre que chove!
Os transportadores de semi-colectivos das faixas Costa do Sol-Baixa, Costa do Sol-Xikelene, Hulene-Xipamanine, Magoanine-Baixa, Xikelene-Baixa, Baixa-Xipamanine, foram forçados a encurtar as suas rotas, tendo muitos, senão mesmo todos, abandonado as carreiras antes de chegarem ao destino, em consequência das chuvas.
Nesses locais, eram visíveis viaturas a flutuarem e outras imobilizadas pela fúria da água.
A água era tanta que aos peões chegava-lhes por altura da cintura de um homem alto.
Na baixa da cidade, alguns estabelecimentos comerciais, como por exemplo a Farmácia Tunduro, a Padaria Aziz, o Café Scala, foram invadidos pelas águas. Na 25 de Setembro, na zona do Café Continental a água chegava a meio das portas dos carros ligeiros.
Nos bairros periféricos, algumas casas de construção precária e até mesmo de cimento foram invadidas pela intensidade das correntes de água que levaram à frente toneladas de solos alterando significativamente o perfil de cotas em vários bairros suburbanos da capital do país.
A título de exemplo, a nossa Reportagem constatou que nalguns bairros dos mais populosos dos distritos municipais visitados, as crateras deixadas pelas chuvas torrenciais de 2000 e 2002, e que nunca chegaram a ser reparadas, voltaram agora a desenvolver as suas dimensões pois serviram de condutas para a água que se precipitou ontem de manhã..
Apesar de serem as primeiras chuvas da época húmida pode-se dizer que se a situação que já era grave agora ficou bem pior. Desta vez obrigou mesmo à intervenção voluntária de alguns populares na tentativa desesperada de evitarem que as suas casas e as de amigos ou vizinhos fossem destruídas. As pessoas em vários pontos da cidade juntavam-se para abrir caminhos para a água escorrer em tentativas, algumas delas frustradas, de evitar-se o pior.
Não foram vistos os Serviços de Bombeiros, nem da Polícia e das Forças Armadas a apoiar as populações. Estes meios de socorro não chegaram a ser accionados deixando claro que quando são necessários para apoiar as pessoas eles não estão capazes.
As chuvadas intensas desta terça-feira não deslocaram apenas solos. Destruíram vias rodoviárias e casas. A chuva causou também enormes danos nas principais fontes de água utilizada pelos moradores daqueles bairros. Os poços em que geralmente se abastecem e cuja profundidade não vai para além dos dois metros, foram também atingidos. A água tornou-se imprópria porque muitas fontes estão agora cheias de lixo que foi arrastado pelas correntes de água. Vem aí ainda as consequências em termos de saúde pública que se pode estimar que virão a ser graves.
Unidades eléctricas e postos de transformação de energia da empresa pública Electricidade de Moçambique (EDM) também foram seriamente afectados, sobretudo na baixa da cidade, concretamente na avenida Samora Machel, próximo ao Café Scala. O levantamento geral ainda terá de ser feito.
Como consequência da situação grave que agora se vive nos bairros de Maputo e arredores, a preocupação imediata é evitarem-se doenças e assistir-se os afectados.
Já havia casos de cólera na zona da lixeira do Hulene, e do Mercado de Xikelene, segundo deu a conhecer uma vendeira naquele mercado, e prevê-se que a situação possa agora agravar-se.
A chuva que vem caindo na cidade de Maputo desde a semana passada também agravou a situação de higiene nos principais mercados dos bairros suburbanos, nomeadamente o da Praça dos Combatentes e da Costa do Sol, Triunfo, Mahotas.
No mercado do Xiquelene, acontece geralmente e perante a indiferença das autoridades, aliás tal como em outros mercados espalhados por esta cidade, os produtos como peixe, hortícolas, tomate, cebolas, verduras, pão e outros géneros de grande procura e consumo, serem colocados no chão em exposição para os clientes. Os vendedores, ávidos de negócio, pouco cuidado têm com a saúde dos consumidores. Com estas chuvas a indiferença agravou-se. Agora é vulgar verem-se os géneros por cima da lama misturados com o lixo produzido no próprio mercado, cuja remoção por parte do Conselho Municipal acontece apenas raramente apesar das taxas de lixo terem sido bastante agravadas com a promessa de que pagando-se mais tudo iria melhorar. Não é o caso e as fortes críticas ao desempenho do Conselho Municipal dirigido pelo Dr. David Simango, tanto partindo dos vendedores, como também dos compradores e transportadores, crescem de dia para dia.
Em ano de eleições autárquicas o desleixo das autoridades municipais e do Governo da cidade, com estas enxurradas fica mais evidenciado. As mazelas são fruto do desleixo e não apenas das chuvas. O Governo não foi capaz de canalizar verbas para prevenir situações como as que agora afectam a população da capital do país e a zona do Grande Maputo, a mais densa de Moçambique, com cerca de quatro milhões de habitantes.
Também em consequência da chuva da terça-feira, muitas crianças dos bairros periféricos não tiveram aulas. Poucas se fizeram presentes às escolas.
Muitos trabalhadores não se fizeram presentes aos seus locais de trabalho, devido a dificuldades de circulação tanto a pé, como de “chapa”. Os “chapas” praticamente foram obrigados a paralisarem as actividades ou a encurtar as rotas.
Ontem, terça-feira, por temerem as condições quer das estradas alagadas, bem como das condições das infra-estruturas escolares, algumas delas em grande estado de degradação, sem janelas, nem portas, até mesmo sem carteiras para os alunos, os níveis de absentismo foram elevados.
Muitos alunos faltaram às aulas com o consentimento dos respectivos pais e encarregados de educação, que também tiveram receios de que o pior poderia vir a acontecer com os seus educandos a caminho ou mesmo na própria escola.
As chuvas intensas começaram de madrugada mas a verdadeira enxurrada aconteceu por voltas das nove da manhã. Durante cerca de três horas uma chuva persistente fustigou a região de Maputo.
Na Escola Comunitária da Polana Caniço “B”, a direcção desta escola, como tradicionalmente têm feito quando as chuvas caiem com grande intensidade, decidiu fechar o estabelecimento de ensino, até à normalização da situação. Nesta escola o recinto foi evadido pelas águas. A chuva precipitou-se em volume considerável para o recinto e interior das salas.
Com volumes de água não era sabido até ao princípio da noite de ontem, se havia ou não registo de vítimas humanas, dado que as autoridades municipais ainda não se tinham pronunciado. Mas sabe-se da ocorrência de danos materiais, sobretudo em habitações e veículos.
Na rotunda da Malanga, junto da Toyota, as valas de drenagem encheram completamente revelando incapazes de canalizar a água que ali se acumulou. A densidade de construções que ao longo dos anos se foi permitindo construir acabou por impermeabilizar completamente os solos e agora as rodovias transformam-se em canais de água sempre que chove muito em poucas horas.
Em todas a cidade há registo de destruição de algumas casas de construções precárias, sobretudo de anexos tais como casas de banho e pequenos estabelecimentos de negócios.
Foram também arrastados pelas correntes de água consideráveis volumes de solos tornando algumas vias locais agora de difícil acesso.
Algumas famílias foram vistas ao relento na tentativa de desviarem os cursos de água, que consigo arrastavam lixo.
A Avenida da Marginal, na sua extensão desde o Clube Marítimo, até ao bairro dos Pescadores, já estava em péssimas condições pela destruição causada pela erosão do tráfego e de falta de manutenção. Com as chuvadas de ontem voltou a estar condicionada. Está agora ainda mais degradada podendo-se mesmo falar de ameaça total ao ponto de um dia destes não surpreender a ninguém que deixe de haver estrada sobretudo para o bairro dos Pescadores, depois do Restaurante da Costa do Sol.
Também deixou de funcionar para qualquer tipo de veículo a estrada de lama que nunca foi reparada, ligando Xikelene-Ferroviário-Albazine, concretamente Avenida Dom Alexandre José Maria dos Santos, porque os carros enterram. E sendo assim a indiferença das autoridades do Município e do Governo Provincial de Maputo-Cidade, dirigidos pelo Dr. David Simango e Lucília Hama, respectivamente, vem dando aos munícipes mais informados um sinal claro da incompetência que este governo lhes reserva. Nada fizeram até aqui por forma a prevenir estas consequências das chuvas, nem há sinais de pretenderem inverter a situação, estando sempre à espera da ajuda externa, apesar de serem notórias despesas fúteis em áreas onde se imagina que pudesse haver alguma contenção para acorrer a outras prioridades como a da marginal e dos bairros periféricos.
A situação na marginal é já de tal forma grave que mesmo com cuidado os automobilistas que usam a rodovia no seu dia-a-dia, com destaque para os transportadores semi-colectivos que servem o bairro dos Pescadores onde habita uma enorme comunidade que presta serviço na zona centro da cidade, correm o risco de acidentes.
Na época seca as autoridades municipais e governamentais pura e simplesmente ignoraram o caso pelo que enquanto a chuva continuar a fazer-se sentir nesta parcela do país, pouco ou nada se deve esperar do Conselho Municipal que nem ao menos sinaliza os buracos adequadamente. Também é importante referir que pelo menos até ontem as autoridades não possuíam qualquer inventário dos prejuízos causados pelas últimas chuvas.
Como indicam as previsões meteorológicas é de prever que a precipitação pluviométrica se mantenha por mais alguns dias, o que certamente fará com que a situação se agrave. (Bernardo Álvaro)

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