segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Chuvas, desgraças e o confirmar das nossas fraquezas

Sempre que chove em Moçambique destapam-se os velhos problemas de sempre, as nossas fragilidades de todos os tempos quer na cidade, quer no campo onde a chuva devia ser sinónimo de alegria, prenúncio de boas colheitas e, logo, de segurança alimentar.

 
Nas cidades, num cenário de infraestruturas insuficientes e/ou obsoletas a que se junta a nossa teimosia em permanecer nas zonas propensas às inundações, ano após ano somos dados a assistir um espetáculo dramático cujo enredo já é tempo de mudar, quer fazendo uma manutenção preventiva das infraestruturas existentes quer investindo em novas que ajudem a aliviar a pressão quando Deus nos abençoa com chuva abundante como ocorre nos últimos dias.
 
A par do esforço que tem que ser feito pelos poderes públicos no sentido de prover mais e melhores serviços de saneamento público, é urgente que nós governados tomemos consciencia de que somos em primeiro lugar os responsáveis pela nossa vida, pela nossa segurança e dos nossos bens. Mais do que o Estado ou qualquer autarquia, cabe a cada um de nós velar pela vida própria e pela segurança dos bens que arduamente acumulamos. No contexto em que se aborda aqui, uma forma de garantir isso é abandonando as zonas de risco, quer os que resultem das chuvas, quer os que resultem de outros factores. Não vale a pena perpetuar um drama com finais anualmente macabros.
 
Aos poderes públicos urge a tomada de medidas corajosas usando os instrumentos legais disponíveis, quer planificando melhor a ocupação dos espaços nas nossas cidades quer, acima de tudo, tomando medidas para a desocupação de zonas propensas a erosão, inundações etc., garantindo ao mesmo tempo que, passado pouco tempo, ninguém retorna a essas zonas como aconteceu, por exemplo, na zona da Portagem de Maputo.
 
Esta é a altura em que a minha teoria de que o crédito a agricultura é condicionado pelo risco inerente a actividade agrícola no país ganha força. Quando se anunciam milhares de hectares inundados e culturas perdidas não vejo como um banco que almeja lucro daria crédito a agricultura. Espero estar enganado e espero que o banco pensado para esse fim tenha como contornar as questões relativas ao risco a que os agricultores se expõem com as chuvas numa realidade em que Moçambique apenas “Irriga 2% de um potencial estimado em 3 milhões de hectares”.
 
Espero, também, que tenha como contornar outros factores como (i) os subsídios de que beneficiam as agriculturas dos países concorrentes, facto que faz com que o custo a que produzem os agricultores moçambicanos não seja competitivo, (ii) a ausência de escala que reduz os custos unitários e torna a produção mais barata, agravada pelo extremo individualismo dos produtores moçambicanos onde cada um aluga o tractor ou a auto-combinada para lavrar ou colher a sua pequena porção de terra e cada um negoceia as sementes ou os fertilizantes sozinho tendo como resultado a carestia da produção como uma vez anotou Viriato Tembe em debate aqui no meu blog Ideias Subversivas.
 
Mais uma vez o Limpopo vai arrasar culturas em alguns distritos na Província de Gaza, tal como o Save e outros rios farão ao longo do seu curso destapando a nossa extrema pobreza e tocando mais uma vez o sino da necessidade de mais e melhores infraestruturas que ajudem a viabilizar a nossa agricultura para que o tão falado e necessário crédito a agricultura possa surgir mais forte e potenciar a produção interna de alimentos e outras culturas para a indústria nacional e para a exportação.
 
PS: Os meus parabéns ao Excelentíssimo Senhor Presidente da República pelos seus 70 anos de vida. Como disse Jacob Zuma em entrevista a STV essa é a idade da maturidade, maturidade que gostaria de ver cada vez mais vincada na resposta que o nosso Governo dá aos desafios que o país enfrenta incluindo o que dá mote a este documento.
 
PS2: Pelo pouco que vi pela TVM e pelo o que os jornais de hoje segunda-feira reportam, a festa dos 70 anos do Presidente da República foi brava. Espero que os presidentes de municípios e governadores provinciais presentes tenham saído dali bem nutridos e por isso suficientemente fortes para fazerem o que devem fazer: em nome das instituições que representam e para as quais foram eleitos e/ou nomeados devolverem a esperança a quem tudo perdeu e tomar medidas para que no futuro, as chuvas como as que nos fustigam nos últimos dias, não tenham efeitos tão dramáticos. Aliás, mais do que na festa e em festa (mesmo que do Presidente da República) era junto do povo que sofre com as chuvas que deveriam ter estado ontem, anteontem, hoje e até esta situação cessar. Mas cada um escolhe onde quer estar.
 

1 comentário:

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