domingo, 13 de janeiro de 2013

Ano Novo, velhos sonhos - William Tonet



Luanda - Entrei em 2013 vivo, para desgraça dos meus inimigos e detractores, pese estar a travar mais uma luta, para debelar as complicações clínicas do meu estômago. São dores, tal como as pulgas do regime, que me perseguiram ao longo de 2012.
Fonte: Folha8
A minha convicção é a de seguir em frente, porque desistir é o caminho mais fácil, de quem não tem noção da nobreza da resistência e da necessidade da implantação de uma verdadeira democracia em Angola.
Eu acredito que, mesmo despojado de muitos direitos constitucionais e depois de uma feroz campanha difamatória, caluniosa, dolosa e danosa sem precedentes, orquestrada pela Presidência da República e executada, escabrosamente, pelos bastonário da Ordem dos Advogados de Angola, Hermenegildo Cachimbombo e procurador-geral adjunto da República, Adão Adriano, questionando a minha formação académica, desistir seria o pior caminho, ante pessoas que demonstraram agir como os grandes chefes da inquisição nos séculos XVIII e XIX.
No final de 2012, vi como uma ditadura, manipulando as instituições do Estado, inclusive a judicial e da mídia, pode lançar mão aos meios mais escabrosos, para atingir algo que não conseguem comprar: a honorabilidade dos seus adversários.
O meu único crime diante de José Eduardo dos Santos, que me elegeu (é uma honra), seu inimigo número 1, foi e é o de me manter fiel, vertical, coerente, não bajulador e competente, na defesa dos ideais de liberdade, pluralidade, respeito às tradições dos povos angolanos e à democracia.
As hienas do templo, sedentas de sangue, não entendem e, por isso, também, em nenhum momento da sua campanha, aludiram à incompetência de algum acto por mim praticado, na acção profissional, enquanto jurista ou advogado, pelo contrário, atacaram a competência e devoção com que me bato na defesa dos autóctones contra as injustiças, nos tribunais.
Nesta descarada maldade e perseguição política do regime, de que fui alvo em 2012, descobri não poder contar com um “presidente de todos os angolanos”, pois, Eduardo dos Santos, coloca-se à margem deste instituto, ao agir como Pilatos, por omissão e cumplicidade, quando em causa está ser injustiçado, quem não o bajula, tão pouco o idolatra.
No ano que findou, a sua máquina diabólica recorreu a todas as armas, inclusive, em desespero de causa, a académica, como se eu, consciente da natureza dantesca, que caracteriza muitos dos seus actos, fosse deixar uma cauda tão vulnerável. A minha formação académica atormenta a mente de Eduardo dos Santos, por esta razão, move todos os moinhos para retardar o reconhecimento dos estudos, instrumentalizando a Universidade Agostinho Neto, obrigando-a, vergonhosamente, a violar acordos académicos, que afectam dezenas de estudantes angolanos, entre os quais estão muitos dirigentes do seu regime.
Quer dizer, que a raiva e o ódio, quando cegos chegam, também, a atingir alguns “aparatichs”, que se calaram em 2012 e continuarão calados, mas com “a raiva” incubada, esperando o melhor momento para se vingarem.
Antigamente dizia-se que “da discussão nasce a luz”. Hoje, neste regime do culto de personalidade, da não discussão ou respeito pela diferença de opinião, nascem vários assassinatos: político, profissional, moral ou físico, quando a máxima depois do fim da guerra bélica em 2002 e do assassinato de Jonas Savimbi, deveria ser “e da paz fez-se a luz”.
Não é preciso ser “bestseller” da literatura para acreditar no poder das palavras e na força dos desejos inconfessos. Não acredito, pode ser até que me engane, mas nada aponta para que Dos Santos descanse em 2013, enquanto não me votar à indigência, a pão e água e, de preferência, “matrapilhado” a chafurdar no seu tambor de lixo, para recuperar os pedaços dos seus bifes e postas de peixe, para alimentar os meus filhos, enquanto os seus continuarão a enriquecer, com base no slogan: “produzir mais para distribuir melhor”… entre eles, é claro.
A sua natureza é essa: humilhar os adversários, não pagar as dívidas a quem ouse pensar diferente e, no final, no final, o fim… Nomes para quê, se os exemplos estão à mão de semear…
Agora de uma coisa estou certo, pese toda esta maldade, raiva e ódio desmedido, amanhã, em qualquer circunstância, estarei mais à vontade, para humana e politicamente acolher e proteger, em minha casa, José Eduardo dos Santos, ou no meu escritório como advogado, que ele, hoje, por abuso de poder, mandou retirar a carteira profissional, para o defender, em respeito ao art.º 67.º da “Constituição Jessiana” de “ninguém pode ser detido, preso ou submetido a julgamento senão nos termos da lei, sendo garantido a todos os arguidos ou presos o direito de defesa, de recurso e de patrocínio judiciário”.
Chegados aqui, alavanco um trecho da canção de Raul Seixas: “sonho que se sonha junto é realidade” e os autóctones das várias tribos angolanos, não podem desesperar, nem fugir ante esta luta desigual, por ela ser nobre e cidadã, já dizia Nelson Motta e eu acredito, que meus desejos expressem os de muitos leitores, ou, ao menos, de alguns deles. E que as nossas palavras tenham o poder de realizá-los, pelo menos os mais óbvios, em 2013.
Estou ciente do desafio que terei de enfrentar, mas gostaria de estender a mão a José Eduardo dos Santos para, lhe recomendar e aconselhar a um combate limpo, transparente e honesto com os adversários, nos marcos da lei e da democracia, pelo enorme poder que tem, não precisando de chafurdar na lama, para os eliminar, como tem sido feito, até aqui, porquanto, no mundo democrático, pelos vistos Angola, ainda não é uma democracia, nenhum presidente tem o poder ilimitado, que ostenta.
Por isso desejar menos e aceitar mais, em 2013, só o irá dignificar, já que insiste em se afastar das percentagens de tolerância e sentido democrático do Velho Madiba, Nelson Mandela, um verdadeiro ícone dos seus povos e do mundo, cujos exemplos, se quiser acabar, com poucos inimigos, ainda estão ao seu alcance.
Finalmente, reconciliemo-nos, verdadeiramente, todos, em 2013, em nome de Angola e dos angolanos, para que a guerra, não volte nunca mais ao nosso solo pátrio.

Sem comentários: