sábado, 19 de janeiro de 2013

Alô, Dr. David Simangôôôôô

Por Eduardo Costley White

Alô, Dr. David Simangôôôôô!

Bom dia. Escrevo-lhe, porque da última vez que telefonei a Vossa Excia a pedir-lhe uma audiência, levei um despacho mal humorado da sua primeira pessoa. Assim, e em face disso, olhe, va...i por escrito para ver se me ouve. Só espero que caso leia esta carta tire os seus óculos escuros com os quais é costume dirigir-se aos munícipes. A leitura certamente saber-lhe-á melhor e não fará outra interpretação senão a que tem como propósito esta.

Comecemos então. Provavelmente, o ilustríssimo edil, deverá pensar que todos os cidadãos que lhe telefonam têm como finalidade pedir-lhe alguma coisa para proveito próprio. Ora, não é o meu caso e se o fiz foi porque pensei que Vossa Excia me tinha em boa conta. Eu conheço-o há muitas luas, nos seus primeiros anos como Diretor Provincial de Educação e quando eu exercia a atividade de docente para dar de comer ao meu primeiro filho. Hoje, esse bébé vai fazer 29 anos. Veja só há quantas luas. Depois, tive a oportunidade de reencontrá-lo ao lado de uma figura de que gosto, particularmente, e que tem a sabedoria de saber ser gente de fino trato e que, por certo, toma o seu chazinho todas as manhãs. Falo do Dr. Aires Ali. Esse encontro deu-se, para que a memória se lhe avive, aquando do lançamento da Antologia denominada “ A minha Maputo…”. Pensei, então, que o senhor fazia parte desse elenco de autores que tinham esta cidade como nossa.
Ok. Adiantando-nos. Eu liguei-lhe, primeiro, para agradecer-lhe o facto desses fantásticos trabalhadores que se encarregam da remoção do lixo em frente da EP2 da Malhangalene e com os quais privo, note bem, com os quais privo, infalivelmente, todos os dias fazerem por manter a fachada frontal dessa instituição de ensino, livre dos dejectos que provêm do nosso mercado. Isto, também, em respeito ao próprio mercado, às Senhoras que aí trabalham e a todos os moradores da Malhangalene nos arredores do Jardim do Pulmão.
Depois, para felicitar ao Município a que preside pela feliz atribuição do nome Mário Pinto de Andrade, a quem tive a honra e o grato prazer de conhecer, à antiga Rua Padre André Fernandes. Rua que frequento faz 34 anos e onde tenho os meus melhores amigos. Também ali bebo o meu copinho, como o faz certamente Sua Excelência mas em local mais distinto, e escrevo alguns dos meus pobres versos e artigos. Ali aprendo e cresço, junto
ao meu Povo. Todos os santos dias do ano.
Não sei se é de bom-tom perguntar-lhe se conhece a obra e a vida do Prof.Dr. Mário Pinto de Andrade. No papel que desempenhou, com outras proeminentes figuras africanas, entre as quais, Amílcar Cabral, Marcelino dos Santos, Lúcio Lara, Viriato da Cruz e por aí adiante, no então Movimento Anticolonial (MAC) e no movimento da Negritude com Senghor e Césair. Não sei se, igualmente, conhece uma das mais referenciadas antologias literárias de autores das então colónias ultramarinas: NA NOITE GRÁVIDA DOS PUNHAIS. E, também, das suas atividades como primeiro presidente do MPLA.
Portanto, era para felicitar-lhe por isso, que muito me lisonjeia e me honra como escritor, e como mandatário de todos os malhangaleneses desta zona pulmonar, pedir-lhe que tenha uma postura mais contundente quanto ao monte de MERDA, não tenho outra expressão, desculpe, que invade a nossa tão amada EP2, que polui as nossas crianças e os nossos adultos estudantes por via de outro esterco que são as ruínas do Complexo Quetinha, esse monte de lixo que desonra a Educação, a Cultura e a Postura de uma cidade e, simultaneamente, a memória daquele distinto intelectual angolano mas sobretudo africano. Até Deus, aos Domingos, se recusa a visitar-nos. Depois, pedir-lhe, encarecidamente, umas lombas em frente da escola para evitar os circuitos de competição automobilística das chapas de transporte escolar e dos carros desvairados que ali se pavoneiam antes que algum desastre grande aconteça. Como só tenho 600 palavras para escrever por artigo, reservo as outras 600 para a semana que vem. Nesse espaço distinto, Dr DavidSimango, mostre-nos lá, sem lhe faltar o respeito, que tem “ tomates” para mudar isso como eu tive para arranjar o seu número e ligar-lhe, como eu tive para rebaixar-me perante a sua indiferença e como eu tive para escrever-lhe isto. Garanto-lhe que todos nós na Malhangalene, o ovacionaremos em pé e eu, redimida mente, esmagarei, com as mãos e perante o entusiasmo popular, os meus pequenos e já definhados ditos cujos. Creia-me, Dr, com muita sinceridade e com elevado apreço.

1. OBS: Um abraço ao cidadão Galomão, que todos os Domingos, às primeiras horas da manhã, munido de uma mangueira de água e de uma vassoura de arame, limpa e banha a Rua Mário Pinto de Andrade dando-lhe o brilho que merece e a dignidade e o respeito com que a vejo.

2. OBS. Este que é actual, é para perguntar-lhe se nao se afogou com as enxurradas de ontem com a cidade que dirige e os municipes que era suposto representar nos seus interesses. A questao do Quetinha está resolvida, de certa forma, mas de outra piorou. Dizem as mais informadas linguas do bairro que aquilo vai virar a Igreja Mundial. Puxa, aonde está a merda, desculpe, nao encontro outro termo, da nossa e sua urbanidades. Brincadeira tem hora, Dr. Simangooooooooooooooooooooooooooooooooo. Brincadeira, assim, tem custos connosco depois do seu mandato. Ou vai virar pastor? Quanto as lombas nada se fez até hoje e só depois de uma dezena de atropelamentos mortais é que vao lá po-las, nao é verdade? No que diz respeito ao lixo, palmas para o vereador e nao para si. As palmas para si serão de despedida e ai até lhe vou levar um ramo de lixo para o derradeiro Adeus. Veja se tem postura, sr. Dr., veja se tem postura.
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