domingo, 2 de dezembro de 2012

Papel do Ruanda e a reacção da comunidade internacional

Artigos
Afonso Mbumba |

 

02 de Dezembro, 2012
A situação militar no leste da República Democrática do Congo continua a inspirar cuidados e a mostrar que, além da actuação da República Democrática do Congo (RDC), Uganda e Ruanda, é urgente que a comunidade internacional também participe na resolução do conflito.
A solução africana funciona à medida que os parceiros internacionais cumprem o papel para que lhes está destinado. Relatórios consecutivos da ONU e de outras instituições internacionais revelam que o Ruanda apoia as milícias do Movimento 23 de Março, vulgarmente conhecidas por M-23.
A comunidade internacional começa a despertar para o papel que o Ruanda tem no conflito que opõe o Governo da RDC ao M-23, mesmo que Paul Kagame repudie as acusações. A BBC divulgou recentemente uma extensa reportagem baseada em depoimentos de ex soldados que serviram as milícias do Movimento 23 de Março que parece confirmarem não somente o apoio do Ruanda como a sua dimensão, bem maior do que se calculava.
O cerco diplomático e económico ao Ruanda continua a acentuar-se, o que torna o país alvo de atenções e preocupações semelhantes às que se verificaram em relação à Libéria de Charles Taylor quando apoiava a rebelião na Serra Leoa.
A empatia da comunidade internacional para com as autoridades do Ruanda tende a esvaziar-se à medida que se confirmam as evidências de apoio à desestabilização na República Democrática do Congo. As forças regulares da RDC fizeram prisioneiros soldados das milícias que confirmaram terem sido recrutados e preparados militarmente no Ruanda.
A missão da ONU para a estabilização da República Democrática do Congo, garantiram fontes deste corpo de forças internacionais, acolheu vários soldados que serviram as milícias do M-23 e que comprovaram também o papel desempenhado pelo Ruanda neste conflito.
Após estas revelações, os parceiros do Ruanda começaram por exigir responsabilidades e esclarecimentos e posteriormente a cancelaram ajudas, como forma de forçar o governo de Kigali a mudar o procedimento em relação à República Democrática do Congo. A União Europeia suspendeu, no final de Setembro, a ajuda ao governo do Ruanda, decisão que foi seguida pela Suécia, Holanda e Estados Unidos, enquanto a Bélgica interrompeu a cooperação militar com o governo de Paul Kagame.
O Reino Unido, aliado tradicional de Kigali e dos principais contribuintes na ajuda directa ao Orçamento Geral do Estado ruandês, também anunciou o cancelamento da ajuda de cerca de 26 milhões de euros.
A decisão do Reino Unido reforça a pressão internacional sobre o Ruanda, cujo orçamento dependente em quase metade das ajudas internacionais.
O Reino Unido, a par do Banco Mundial e da União Europeia, dos principais parceiros do Ruanda, pode ter um papel importantíssimo na criação da estabilidade militar na República Democrática do Congo. Alguns observadores defendem que as sanções aplicadas pelas Nações Unidas a elementos das milícias deviam estender-se a quem os apoia. Os mesmos observadores salientam que as sanções deviam ser igualmente aplicadas às multinacionais que alimentam a instabilidade militar no leste da República Democrática do Congo, beneficiando com a extracção das riquezas minerais naquele país.
O isolamento diplomático do Ruanda e a aplicação de sanções às multinacionais que no leste da RDC beneficiam da extracção dos “minerais de sangue”, referem, podem ser fundamentais na estabilização da região.
A abertura ao diálogo anunciada pelo Presidente da RDC, Joseph Kabila, deve ser encorajado como parte do processo interno da reconciliação congolesa.

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