quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

“Papaito's Approach”

 

by Mablinga Shikhani on Thursday, December 27, 2012 at 1:09pm ·
(Notas Sociológicas para a Compreensão da Corrupção Cultural ou tentativas para entendimento da Corrupção Institucionalizada)

Pese embora a intemporalidade do dito "It takes a Village to Raise a Child" o que numa tradução contextual daria "toda a aldeia educa a criança" é acima de tudo uma realidade o que o dito compreende. Neste contexto de participação na educação da crianca, africana ressalve-se, encontramos, três níveis de parentesco e actores, nomeadamente: os avós (paternos/maternos), os tios de igual linhagem, toda a sorte de irmãos/primos e por último, nem por isso menos importante, toda a aldeia.

De igual maneira que as duas partes da família, a.) a consaguínea de relação directa e contínua e a b.) de afinidade de relação mista, isto é directa mas sazonal, e a indirecta: a aldeia no seu todo se alinham na educação, longe do contexto e significância escolástica do termo, numa perspectiva socioantropológica e cultura de formação da personalidade do indivíduo, menor que doravante chama-lo-ei Papaíto.

No crescimento do Papaíto, muitos actores, desde a aldeia a que pertence, os familiares por afinidade, adquiridos e os familiares consaguíneos, parentes directos e indirectos (na estrutura familiar africana e banta, os parentes indirectos não existem como tal, por exemplo os parentes adquiridos por via do casamento assumem o mesmo papel que os familiares directos e têm a mesma significância) anteriormente descritos têm e desempenham um papel fundamental nos processos de educação cultural, socioantropológica e quiça da personalidade do Papaíto.

Considerando que o Papaíto se enquadre com sucesso nos processos regulares de ascensão social, educação formal e ou sucesso no mundo empresarial e até político, o seu sucesso é igualmente o sucesso da aldeia, seus difentes níveis e numa dinâmica contrária a aldeia senta-se à espera da quota parte do seu investimento: o sucesso do Papaíto da seguinte forma:
a) Familia Directa:
Passa a ser a família do Doutor, empresário ou do político, conforme a àrea de destaque do seu membro. Ao mesmo tempo que se coloca na primeira linha muitas vezes, antes até dos dependentes/destinatários directos da nouvelle expertise do Papaíto;
b) Família Indirecta:
A aldeia, que passa a ser a aldeia do Doutor, de onde saíu brilhante e bem sucedida personagem e aguarda em segunda linha os benefícios de tal expertise.

Em ambos casos deve, tradicionalmente, Papaíto realizar um extenso e intemporal plano de devolução, principalmente material, pelo qual ele deve devolver, não no sentido de retribução, o conjunto de esforço que a aldeia empenhou na sua educação. Se o Papaíto é médico e no seu trabaho diário der de caras com um dos membros a sua aldeia, e por sinal numa posição distante na fila e o Dr aldeão não o tratar com a deferência que aquele dele espera (em primeiro lugar) reservar-se aquele o direito de relamar junto dos progenitores de Papaíto os maus tratos e indiferença com que foi tratado. Os progenitores repreenderão o Dr, funcionário público, empresário (ou o que fôr) que não tratou a família de acordo com os padrões educacionais, tradicionais que lhe foram transmidos. Remember you never grow up to your family: Once a Papaito, always a Papaito no matter how far you reach or went on your studies or in any field or area of expertise.

Ora, estando este Papaíto vinculado a normas e regras de subordinação e prestação de contas formais características de institutos legais e ao conjunto da sociedade no seu geral encontrar-se-á num gravíssimo e enorme dilema entre, por um lado, satisfazer os seus familiares e sua a aldeia e, por outro lado, a sociedade que julgará e sancionará qualquer desvio ao comportamento profissional ético e deontológico que dele espera e a ostracização a que estará votado pelo desdém professional e afectivo a que votou um dos seus.

Conclui-se daqui que (embora não seja necessariamente extensivo ao conjunto das práticas desviantes e desviadoras a nível institucional), para muitos africanos, principalmente as sociedades africanas bantas a questão da corrupção é estranha e na percepção geral não encontra enquadramento desviante e repreensível que comporta nas sociedades de Centro.

Em muitas sociedades africanas, incluindo as estruturalmente urbanas, a privatização institucional, a favor ou não de determinado grupo étnicolinguístico ou tribal é considerado legítimo, dado que a comunidade/aldeia que educou/criou o personagem que responde por determinado instituto tem, chama a si, o Direito natural de na escala hierárquica, do benefício, beneficiar-se em primeiro lugar do acervo dos recursos que tal comporta e ou controla.

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Referências
http://www.statenislandacademy.org/media/documents/Karisa2010.pdf

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  • Danilo da Silva Assuntos sérios uma hora destas tu também!...realmente nós somos o produto da sociedade em que fomos criados e em que vivemos, no entanto não vivemos num vácuo. Os nossos modos de estar e de ser vão mudando ao longo do tempo e ao longo do caminho- seja pela educação formal, seja pela informal, pelo contacto com outras realidades, etc.. Não creio que a legitimação da expropriação seja uma questão banta, ou africana. acredito que seja mais uma questão de consciência sobre como a mesma afecta os indivíduos e o seu bem-estar. Eu sou bantu, sempre vivi na cidade e não tenho qualquer ligação com o campo, minha educação e experiências com outras realidades impelem-me a questionar ou a reprovar qualquer actos estranhos que possam afectar o meu bens estar. Tribo , não tem nenhum significado para mim ja que não me defino pela minha tribo de origem mas sim pela minha nacionalidade, a minha ligação é mais com a nação que com a tribo.
  • Mablinga Shikhani Danilo please, não me obrigue a gritar aquilo que disse/apeteceu-lhe dizer no restaurante diante do comer natalício (joking). Concordo consigo, embora ache que neste crescimento, aculturação (seja o que for) os elementos nocivos vão ficando para trás. Mas uma questão se impõe: o que são elementos nocivos? É bastante comum comentar-se que as minorias são unidas, e a maioria arranja qualquer pretexto para se engalfinhar. Na aculturação despimos o que nos caracteriza e vestimos o que caracteriza outros. Outra provocação.


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