domingo, 23 de dezembro de 2012

“Os angolanos estão a terminar o ano de 2012 mais pobres do que estavam no ano 2002”, disse Isaías Samakuva



Luanda – Discurso proferido pelo presidente da UNITA, Isaías Samakuva, por ocasião dos cumprimentos de fim de ano.

Caro Vice-Presidente do nosso Partido
Prezado Secretário Geral do nosso Partido,
Distintos Membros do Comité Permanente e da Comissão Política do nosso Partido,
Caros Membros, Militantes, Simpatizantes e Amigos do nosso Partido
Ilustres Membros e Representantes de Partidos Políticos
Distintos Membros e Representantes de Igrejas,

Minhas senhoras e meus senhores,

Compatriotas:

Estamos a aproximar-nos do fim do ano mas antes deste chegar vamos celebrar o Natal, que é o dia convencionado para o mundo cristão celebrar o nascimento de Jesus Cristo, ocorrido no início do milénio transacto. Começaremos, então, por tecer algumas considerações sobre este evento importante no calendário do mundo cristão.

Apesar de ter vivido apenas 33 anos, Jesus Cristo marcou de maneira incomparável a história da Humanidade. Seja como filósofo, salvador, líder de massas, ou revolucionário, como divergem as avaliações, a verdade é que Jesus Cristo fundou uma nova civilização, foi percursor de novos valores e afirmou-se como expressão máxima da humildade, do amor e da paz entre os homens.

Logo ao anunciar o seu nascimento, os anjos clamaram: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”!

Hoje, permito-me recordar Jesus Cristo, neste Natal de 2012, como “Príncipe da Paz” e, por isso, gostaria de convidar a todos os meus compatriotas para transformarmos este Natal numa jornada de reflexão em prol da paz!

Alguns dirão: “mas já conquistamos a paz há mais de dez anos...Que paz é esta que precisamos ainda de buscar agora?”

Bom, é verdade que as armas de fogo convencionais calaram-se em 2002, quando os militares assinaram num documento um acordo sobre uma certa paz. Mas não é desta paz de sentido limitado que queremos falar. Angola precisa de conquistar outra paz! A paz mais lata, mais completa, a paz entre o governo e o povo. É desta paz que queremos falar hoje.

Actualmente, ouvindo os cidadãos nas ruas, nos mercados e nos bairros, escutando as emissoras, lendo os jornais, concluímos que o regime que vivemos é de ditadura; é aquele em que o governo está em guerra contra o seu próprio povo. De facto, os angolanos são agredidos todos os dias no seu direito à vida, à liberdade e à igualdade. São agredidos no seu direito de ter água potável e corrente, no seu direito à habitação, à educação de qualidade e à saúde. São agredidos no seu direito ao emprego, ao salário digno e ao acesso igual à riqueza.

À partida, parece que estamos em paz, porque já não se escutam mais explosões, os canhões pararam, as bombas já não caiem mais sobre nós ou sobre as nossas casas. Porém, as armas da corrupção, da exclusão social, da intolerância política e da alienação cultural, são apontadas e disparadas todos os dias contra os angolanos, especialmente contra os mais pobres e contra a juventude, que constitui o futuro da Nação.

Parece que estamos em paz mas confrontamo-nos hoje com várias situações indicativas de que no nosso país há um clima de elevada tensão nas relações sociais, quer seja entre trabalhadores e patrões, entre a polícia e os munícipes, governantes e governados, entre os que têm tudo e os que não têm nada.

De facto, se por exemplo, o Tony que acabou o curso, sabe que não tem possibilidade de emprego, ele não pode ter paz. Se a Jacinta, que estuda à noite e tem de apanhar dois táxis para chegar a casa, num bairro sem luz, sabendo que pode cruzar com homens fardados de polícia que ela nunca sabe se são polícias de verdade ou se são bandidos, ela não pode ter paz!

Os pais, sabendo que a péssima qualidade do ensino que existe não permite que seus filhos tenham bons empregos no futuro, não podem ter paz! Os empresários, que vêm os trabalhadores insatisfeitos, com fome, revoltados e sem esperança, mas que sabem que ainda têm de aguardar meses e meses antes que lhes sejam pagos os valores dos produtos ou serviços que forneceram à instituições governamentais para também poderem pagar salários devidos, também não podem ter paz!

Tudo isso, cria este clima de tensão que, todos sabemos, resulta em primeiro lugar das injustiças e da desigualdade de oportunidades no acesso à riqueza, no acesso à imprensa e no acesso à justiça. Estas desigualdades construídas de propósito ao longo dos anos para dividir os angolanos, perigam a paz.

Meus irmãos:

Paz significa democracia; e democracia significa liberdade, igualdade, educação, saúde e habitação para todos. Não basta o desenvolvimento físico do território; não bastam as inaugurações de obras descartáveis, os discursos, as galas, as promessas e as festanças, para caracterizar a paz.

Na luta em busca da Nação angolana, só a democracia permite combinar divergência com consenso; poder com responsabilidade; liberdade com autoridade; racionalidade com sentimentos; e, por meio da combinação e convivência dessas polaridades numa harmonia dinâmica, concretizar a paz.

A paz é obra da liberdade. A liberdade, protegida pelas leis e garantida nos direitos individuais inscritos na Constituição, afasta o medo, desfaz as desconfianças, elimina os ressentimentos e estimula a cooperação, a solidariedade e o apoio mútuo.

A paz é obra da humildade. Da humildade que eleva a pessoa, não da que a rebaixa. Da humildade que provém da consciência de que essencialmente somos todos iguais, filhos do mesmo Criador, e que nenhuma diferença de poder, riqueza, conhecimentos, nos torna melhor que nossos irmãos que não possuem estas vantagens. Da humildade que encara estas diferenças como meios, que nos foram dados, para ajudar os que não os têm.

A paz é ainda obra da generosidade. Da generosidade que é capaz de reconhecer erros e corrigi-los, que é capaz de escutar os outros para os compreender e atender as suas preocupações. Da generosidade que é capaz de abrir mão de interesses pessoais em favor do interesse social, e que é capaz de confessar, abrindo o caminho para pedir e aceitar o perdão, sem arrogância ou ressentimento.

A paz, é obra da inteligência, de quem sabe que, para a vida civilizada, para a busca da felicidade, para o futuro das crianças, não há alternativa à paz. E, por saber isso, concebe a organização social, económica e política, de forma a preservar e garantir a paz, mediante regras e procedimentos para dirimir pacificamente as naturais divergências que surgem entre as pessoas.

A paz, por fim, é diálogo; é respeito ao próximo, à sua liberdade e à igualdade básica que existe entre nós. Se nós precisamos de comer, os outros também precisam. Se os nossos filhos precisam de uma boa casa, os filhos dos outros também precisam!

Afinal, somos todos iguais, filhos do mesmo Criador, viemos do mesmo pó e vamos todos para o mesmo lugar. A democracia é a garantia da autenticidade e do verdadeiro respeito por essa igualdade e liberdade.

O reconhecimento desta igualdade não permite que algum governo faça duas políticas de educação, de saúde e de habitação para o mesmo povo: uma para os seus filhos e o seu Partido e outra para os restantes, que são a maioria. O reconhecimento desta igualdade não permite que algum Chefe do Executivo promova o enriquecimento ilícito de algumas famílias à custa do sofrimento de todas as outras famílias.

O reconhecimento desta igualdade não permite que algum Partido manipule a comunicação social, a justiça e os processos eleitorais para se perpetuar no poder. Isto não traz paz. Por isso é que o povo está descontente. Nas ruas, nas fábricas, nas lojas, no campo e nas cidades, não há paz! O povo quer a mudança. Votou para a mudança e foi traído. Traído pelas mesmas promessas de 32 anos, que não se realizam.

Estamos nas vésperas do fim do ano; quando as pessoas noutros lugares renovam as esperanças, fazem os seus votos e se preparam para encarar o futuro com confiança, os angolanos na sua maioria estão sem esperança…

Passaram-se já mais de cem dias desde as eleições e a vida da esmagadora maioria dos angolanos continua numa miséria. Nada nos indica que temos dias melhores. Não há empregos. Não há saúde. Não há água, não há luz. O dinheiro não chega. Os Bancos só emprestam a quem já tem dinheiro, cartão de membro do MPLA ou a quem já aceitou a humilhação de negar a sua própria identidade.

Ao invés de governar, o Governo preocupa-se mais a corromper o povo. Corrompe o povo e destrói a moral da Nação. O Governo tornou-se num veículo corruptor e destruidor da moral social, por se empenhar em actos que constituem um verdadeiro atentado à PAZ.

Angolanas e angolanos:

Apesar de toda a riqueza que Angola produz, os angolanos estão a terminar o ano de 2012 mais pobres do que estavam no ano 2002! Algo está errado quando há crescimento do Produto Interno Bruto e ao mesmo tempo há crescimento do nível de desemprego dos nacionais e dos níveis de pobreza das famílias.

Não importa o que dizem as estatísticas do Governo, pois o facto é que todos somos testemunhas do aumento da criminalidade, do agravamento da má qualidade do ensino, dos serviços públicos de saúde e do desastre no fornecimento público de água e luz.

Todos estamos preocupados com o rumo que o país está a levar, porque sentimos na carne que algo está socialmente errado por detrás dos números que ilustram o crescimento económico de Angola.

A gravidade da situação do país, exige de nós, homens públicos, medidas de política ousadas que nos permitam construir a PAZ no seio de cada família. E o Natal apresenta-se como uma excelente oportunidade para o efeito.

Proponho, assim, que neste Natal busquemos, não tanto as diferenças, mas o que nos une e o que nos faz uma nação. Busquemos a PAZ para garantirmos um futuro seguro para todos.

Convido a todos os meus compatriotas para transformarmos esta quadra natalícia numa jornada de reflexão nacional em busca da PAZ entre o governo e o povo.

Se em 2002, os militares assinaram num papel a paz militar, eu quero convidar a todos para assinarmos agora em 2013, nos nossos corações, a paz social entre o governo e o povo.

Já sabemos que há injustiças! Há quem tem milhões e explora o trabalho de quem não tem nada. Todos também parecem estar de acordo que tem de haver maior preocupação com os mais fragilizados e desprotegidos da sociedade.

Então há necessidade de diálogo. Precisamos de estruturar de maneira prática um diálogo abrangente e eficaz, que nos permita escutar como Nação as preocupações de uns e de outros. Um diálogo sem pré-condições, que não se limite aos preconceitos de novos ou antigos, maiorias ou minorias, ricos ou pobres. Um diálogo entre irmãos ameaçados pelos mesmos males e que precisam de construir a PAZ entre o governo e o povo para garantir um futuro seguro para todos.

Precisamos de criar canais de descompressão entre governantes e governados; e entre empregadores e empregados.

Seja por via dos sindicatos, dos movimentos sociais ou outros veículos, Angola precisa de estar à escuta e em diálogo permanente com as mais íntimas aspirações dos seus cidadãos e colocar o interesse nacional acima dos momentâneos interesses partidários e pessoais.

Este diálogo, como disse anteriormente, é para ser feito principalmente entre os adversários de ontem. Porque o destino e as mudanças conjunturais transformaram estes adversários de ontem em vítimas dos mesmos males e aliados na luta pela conquista da paz social.

Quer o militante da UNITA quer o militante do MPLA, são vítimas da falta de água, da educação sem qualidade, da criminalidade e da falta de esperança para o futuro. Estes são os inimigos actuais do povo angolano. Se sofremos juntos, então, devemos trabalhar juntos para vencer estes males e trazer a PAZ para todo o povo.

O país não pode continuar a suportar o custo da pobreza extrema, das desigualdades e da corrupção, que se estima em cerca de 30% da despesa pública global, ou seja, $10 bilhões de dólares americanos! Este é um fardo enorme para os mais de dez milhões de angolanos que vivem na pobreza extrema.

A boa governação é incompatível com a injustiça e com o enriquecimento ilícito das autoridades públicas.

Angolanas e angolanos:

Prezados compatriotas do MPLA, da UNITA e dos demais Partidos: Se a paz militar foi assinada pelos militares, num papel, a paz social entre o governo e o povo precisa de ser assinada por todos nós, nos nossos corações.

O primeiro passo para assiná-la é comprometimento de todos com a democracia, que é o regime político da paz. Ela e só ela institui o quadro institucional indispensável para que se promova a definitiva reconciliação nacional.

Esta reconciliação tem que ser assumida como uma responsabilidade pessoal de cada angolano, num movimento do coração, de reconhecer o antagonista como adversário e não como inimigo, de buscar aquilo que aproxima ao invés daquilo que afasta, de tratar o outro, do qual divergimos, como gostaríamos de ser tratados. Tal como dizem as Escrituras: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”.

Se o povo, isto é, cada um de nós, assumir a sua parcela de responsabilidade nessa empreitada em prol do nosso país, a tão sonhada reconciliação nacional se constituirá, na sua plenitude, em muito menos tempo do que podemos imaginar.

Estas reconciliações silenciosas, que ocorrem no dia a dia, sem alarde, de modo incansável e persistente, que não desistem diante das dificuldades e das provocações, irão recuperar, a partir de milhares de pontos isolados, o tecido nacional rompido pela guerra, pelas desigualdades e pela corrupção.

Apelo, por isso, aos meus irmãos da UNITA, do MPLA e dos demais partidos para darem este exemplo.

No que nos diz respeito, neste Natal, reafirmamos, mais uma vez, para todo o povo angolano, o nosso compromisso irreversível e incondicional com a reconciliação nacional.

Meus irmãos, caros compatriotas:


A responsabilidade de mudar Angola e acabar com o sofrimento é nossa; é de todos nós. Se nós não o fizermos, ninguém irá fazê-lo por nós. O povo já decidiu que quer a mudança. Se alguém não quer transformar a democracia angolana num valor social que elimine a pobreza, promova a igualdade económica e concretize a reconciliação nacional, com vista a melhorar a qualidade de vida de todos os filhos desta Pátria, será brevemente julgado pelo Povo, porque este diz que já não pode esperar mais. O povo precisa de melhorar a sua vida agora.

Nós estaremos sempre do lado do povo angolano, porque para nós, primeiro o angolano, segundo o angolano, terceiro o angolano, o angolano sempre.

Porém, achamos que a mudança pode ser feita com a participação de todos, através do diálogo, de maneira responsável e pacífica, para o benefício de todos na base duma agenda de três pontos:

Em primeiro lugar, vamos reflectir sobre o que nos impede alcançar a verdadeira paz e reconciliação nacional. Identificados os obstáculos, vamos, em segundo lugar, removê-los através de um diálogo estruturado, sem complexos nem preconceitos, que envolva também uma auscultação do Povo. Este exercício ira, certamente, fornecer-nos resultados que serão, em terceiro lugar, implementados para promover a igualdade de oportunidades, eliminar a exclusão social, acabar coma pobreza extrema e realizar a justiça social.

Estou certo de que, desta forma encontraríamos facilmente as melhores vias para instaurar a PAZ verdadeira, fundada num verdadeiro Estado de direito.

Esta é, caros compatriotas, a nossa proposta de Agenda Nacional Para a Paz em 2013.

Boas Festas à todos e muito obrigado por terem vindo.

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