segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Alter Ego politico


Em http://livrepensadormoz.blogspot.pt/2012/09/o-alter-ego-politico.html
É sem dúvida
mais fácil enganar
uma multidão do que
um só homem

Heródoto

Penso que já notaram, a repentina e extraordinária excitação que se apossou de alguns compatriotas por causa do X Congresso da FRELIMO em Pemba. Extraordinária, porque nem a mais ferrenha simpatia ou militância activa naquele partido, poderiam supor um escrutínio tão acirrado e exemplar do que vai acontecendo por lá, por parte de ausentes ao evento. É o submarinismo político da nossa classe média harmonizando-se com o seu way of life, luminárias sempre bem acesas, e pronta para saltar ao caminho rumo aos labirinticos corredores do poder.
É a nossa classe média C, do compromisso, com o status-quo. Da coacção implícita da sociedade, papagaiando todo telejornal, jornaleco ou até sms, conseguindo fazer aquilo, que nem a militância de base da FRELIMO um dia poderia conseguir, que é propagandear os projectos dos seus adversários políticos. É a nossa classe média C, que acredita na imparcialidade de toda revista ou jornal semanal de capitais supostamente privados. É a nossa classe média C, do consumismo snob, que nem sabe quanto gasta em roupa e gasolina com o seu cartão multibanco platinium, gold ou até diamante que as ajudas de custo lhe permitem. É a nossa classe média C, que odeia transportar-se nos "colectivos", mas que se conforma com um carro com 100.000 km de rodagem, pago a prestações de 5 a 6 lustros.
É a nossa classe média C, da contestação social subserviente, mas que só paga impostos quando obrigada. Que se endivida nos copos até ao limite da sua conta-salário para depois reclamar aumento. É a nossa classe média C, que conhece muito pouco do seu país, porque raramente por ele viaja, mas que se endivida à banca por um voucher de 3 deslocações mensais a Nelspruit para comprar o mesmo que compra cá, quase sempre ao mesmo preço.
É a nossa classe média C, complacente, com o sindicato Ninjas & Bufos Inc. que manda e desmanda no subúrbio, onde vive a babá que cuida dos seus filhos. Mas que fica indignada com o Governo quando se sente incomodada pela falta de transporte público, que impede a babá de vir trabalhar. É a nossa classe média C, conformada, com os pedintes esfomeados da zona nobre da capital, que estendem as mãos com base na coloração de pele do benfeitor. É a nossa classe média C, da condenação severa, quando há um assassinato na Coop ou Sommerschield, onde ela nem sequer mora. É a nossa classe média C, da comoção, que se desfaz em likes e dislikes nas redes sociais, quando aquela pintora de lisos se despe dos seus trajes ou beija outra mulher em público para ganhar um blackberry topo de gama.
É a nossa classe média C, comezinha, que diz duas ou três coisitas de ocasião, quando a classe dominante lhe manda aprovar leis para implantar oficiosamente a pena de morte, ou reduzir a idade penal dos mendigos, vadios e outros párias sociais. É a nossa classe média C, comprometida, e previamente bem informada dos acontecimentos, mas que nunca ousa compartilhar, que concorda e até faz passeatas contra as desgraças da humilde classe baixa, mas para aumentar a audiência da TV ou a tiragem do jornal do seu patronato, onde toda tragédia só importa quando lhe bate à porta, porque é mais fácil condenar quem já cumpre a pena dura imposta pela vida.
É a classe média C, cobarde, que gostaria de estar agora em Pemba a comer e beber do melhor, e que se pudesse, saia mesmo do "armário" para privar publicamente com a classe dominante, se esta última lhe estalasse imediatamente os dedos. Porque afinal, neste Moçambique, a política nunca se distinguiu pelas ideologias. Faz-se pelas oportunidades de uns e de outros serem ou não escutados atentamente pela classe dominante, o que, por outras palavras, é o mesmo que dizer, pela elite política da FRELIMO e seus associados familiares e económicos. Mesmo a ideologia política da suposta oposição, converge no final do dia com querelas bizantinas não resolvidas na geração da Frente de Libertação de Moçambique. Em suma, no processo de construção democrática em Moçambique, vive-se afinal um amplo e permanente "Estado-Geral Frelimista" envolto em shows de pirotecnia política voltados para as massas analfabetas e empobrecidas pelo seu alter egopolítico.

E se mais classe mé(r)dia C houvera, lá chegara...

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