sábado, 8 de dezembro de 2012

Guine Bissau na lente de Analista

 


Guiné-Bissau, os militares angolanos e a CPLP

Uma das notícias que surgem no espaço cibernético, logo após o Golpe de Estado, prende-se com a acusação que os militares Bissau-guineenses fazem quanto à presença angolana no País e do Governo e presidente interino guineenses terem celebrado um “acordo secreto” com a Missang para colocar em causa as chefias castrenses Bissau-guineenses.

O certo, coincidência ou não, o tempo o dirá, foi o acontecimento ter ocorrido menos de 12 horas depois de Koumba Yalá ter anunciado que não iria fazer campanha para a segunda volta das presidenciais e até nem ir às mesmas porque não reconhecia os resultados da primeira. Yalá, que se saiba, até ao presente não formalizou a sua desistência junto do STJ.

Recorde-se que Yalá sempre disse que seria eleito logo na primeira volta com uma significativa vitória. Yalá augurava, talvez, que a sua etno-região, os Balantas, claramente assinalável no País (cerca de 30%), lhe desse a maioria necessária para ser eleito. A surpresa de Yalá esteve no resultado final que não atingiu nem 30% dos votos. E como se recorda as habituais recepções que Yalá regista quando as coisas não correm a seu contento…
Daí haver analistas, e não são pouco, a associar o Golpe ao anúncio de Yalá.
Perante a crise guineense questiona-se o que vai fazer a União Africana (UA), a CEDEAO e a CPLP.
Quanto UA a expectativa mantém-se. Nada se houve, nada se vê e nada se leu ainda. Provavelmente, a distância para Adis-Abeba deve estar a ser cumprida no lombo de um camelo ou de um dromedário ao atravessar o Deserto do Sahara…
Sobre a CEDEAO o interessante é já sabendo do Golpe ainda fala em eventual tentativa de Golpe na Guiné-Bissau e na expectativa que a legalidade seja regularizada rapidamente.
Já quanto à CPLP – e recordando que a presidência em exercício é levada a efeito por Angola que, por acaso, até ainda tem tropas na Guiné-Bissau – parece que procede em conformidade com o habitual. Ou seja, pensa, pensa, pensa… e nada decide.

Até porque o triângulo cerebral da CPLP continua a remar cada um para o seu lado…
A prova, apesar das palavras do presidente português Cavaco Silva dar a impressão de apoiar qualquer iniciativa da presidência angolana quanto à crise, limita-se, ainda assim, a esperar que seja rapidamente reposta a legalidade democrática.
Angola, condena e nada acrescenta. Deve aguardar que o Secretariado Executivo se reúna para decidir em conformidade.
Já o Brasil, o terceiro vértice e, gostemos ou não, o mais importante na actual cena internacional, já se decidiu: solicitou uma reunião urgente… mas no Conselho de Segurança da ONU!

Ou seja, a CPLP continua ser tricéfala e a não se entender.

Por outro lado, acresce que os francófonos da CEDEAO – França e Angola ainda andam a remoer as suas anteriores crises “conjugais” – temem perder a influência na Guiné-Bissau com a presença de forças armadas não afro-francófonas, no caso angolanas e, eventualmente, brasileiras, e destas para a CPLP.
Não esquecer que os militares e políticos senegaleses, guineenses (Conakri) e franceses ainda não esqueceram as humilhações que sofreram às mãos de militares Bissau-guineenses, em tempos e crises castrenses recentes.
Se a isto acrescentarmos as contínuas acusações da Secretaria de Estado norte-americana – cada vez mais próxima de Angola e da sua importância na região centro-africana e na sua possível globalização – contra alguns líderes militares Bissau-guineenses e contra o próprio País de ser uma plataforma de narcotráfico proveniente, na sua maioria, da América Latina, mais se entende como a presença dos angolanos e da CPLP não é bem quista nem interessa a alguns países vizinhos, também eles, recorde-se já acusados de estarem ligados ao narcotráfico.
Vamos aguardar que a calma volte a Bissau e ao resto do País e que a Justiça, a Democracia e a Legalidade não tenham tido mais que um pequeno e singular percalço e rapidamente restabelecidos.

Eugénio Costa Almeida, PhD
Researcher/Investigador do CEA-IUL (http://cea.iscte.pt/equipa/eugenio-costa-almeida/)

Eugênio de Almeida

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