quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Dhlakama acusa Frelimo de ter enviado espiões para Vunduzi para planear ataques e assassiná-lo


Afonso Dhlakama, Presidente da Renamo
O “O país” visitou a inacessível base militar da Renamo em Gorongosa.“Não podemos falar de uma democracia própria, sem que tenhamos uma administração pública e uma política de defesa e segurança isentas de influências da Frelimo”, defende Afonso Dhlakama.
Dois meses após o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, ter abandonado a sua residência em Nampula e afixar-se na sua antiga base, no interior do posto administrativo de Vunduzi, em Gorongosa, concretamente na região de Sanjundjira, a equipa de reportagem do matutino “O País” deslocou-se à inacessível base para ver de perto os contornos e o dia-a-dia de Afonso Dhlakama.
É um local de difícil acesso devido ao rigor imposto pelos homens que garantem a protecção do seu líder. Assim, por várias vezes, a viatura em que seguíamos foi abordada pelos guardas pessoais de Afonso Dhlakama e fomos submetidos a um questionamento típico de gente que não quer intrusos no local.
Durante um percurso de cerca de 5 quilómetros, a partir da sede do posto, vimos acampamentos militares dos seus comandos, idos de Sofala, Manica e Nampula. Chegados ao local, permanecemos cerca de duas horas a aguardar ordens, que sairiam de um escritório construído de estacas e capim, onde éramos aguardados pelo líder da “Perdiz”.
Eis a síntese duma entrevista de 45 minutos que o “O País” fez ao líder da Renamo:
Dois meses depois de se ter instalado aqui em Sanjundjira, como se sente?
Estou satisfeito, porque já conhecia este sítio desde o tempo da guerra e porque também vim cá voluntariamente à procura desta democracia que é esperada por todos. Sinto-me muito bem porque consegui colocar energia e televisão e vejo aqui as notícias, acompanho os debates, onde vários académicos dizem, publicamente, que as reivindicações de Dhlakama são justas. isso significa que não sou maluco, e sim estratega. Significa também que já não estou a exigir apenas aquilo que não foi implementado em termos partidários, estou a exigir o bem-estar de todo o povo moçambicano. deixei de ser apenas o líder da Renamo, passei a ser de todo o povo sofredor. Por isso, é o que me motiva a continuar esta tarefa.
Está satisfeito com o rumo das negociações entre o governo e a Renamo?
Ainda não tive um relatório formal, recebi um telefonema do secretário-geral que lidera a delegação e informou-me que teremos a segunda ronda, outros dados vi na imprensa. Entendi que para a Frelimo há um susto, nós não estamos a exigir para desenterrar o Acordo Geral de Roma, estamos a falar da lei eleitoral para evitar fraudes eleitorais. Falei recentemente com a chefe da bancada da Renamo na Assembleia da República, disse que as consertações havidas entre as chefias das bancadas em torno do pacote eleitoral falharam. A intenção da Frelimo é levar a proposta à votação. A Frelimo vai querer manter como está, para continuar a manipular os resultados eleitorais. Por isso, recomendei à chefe da bancada a abandonar, e nós vamos tratar do pacote eleitoral a partir de Gorongosa.
Por que o senhor presidente está aqui na base?
É aqui onde o fundador da Renamo morreu. a maneira de chorar e de se lembrar dele é mantendo-se aqui e, acima de tudo, vincar que não morreu em vão e o objectivo vai ser concretizado. é isto que motiva os homens que aqui estão. Eu não estou a fazer turismo aqui, estou a trabalhar para meu país e para todos aqueles que querem ver um estado de direito, uma administração pública isenta de opções partidárias. Hoje mesmo, para ser um chefe de escalão superior, é preciso ser da Frelimo, nunca algo semelhante, mesmo na China comunista, mesmo na antiga União Soviética era assim. O povo está nacionalizado, eu quero desnacionalizar. Não podemos falar de uma democracia própria sem que tenhamos uma administração pública e uma política de defesa e segurança isentas de influências da Frelimo. As políticas de defesa e segurança são da Frelimo, um comportamento que rejeita tudo que combinámos em Roma.
As suas ameaças não são levadas a sério, é quase um disco riscado, porque nunca produziram resultados. esta não é mais uma encenação?
Respeito a opinião das pessoas. O Dhlakama esperou e demonstrou em 20 anos. Desde as eleições de 1994 até 2009, sempre ameaçámos em não reconhecer e de fazer confusão, mas sempre recuamos, eu dizia às populações e aos militantes: “vamos ver se a Frelimo vai recuar”. As pessoas que dizem que Dhlakama ameaça e recua têm razão. confesso que fazia por bem, se eu não tivesse recuado ao logo destes anos, hoje teríamos um país como Somália ou Madagáscar. Se chegamos até aqui deveu-se à minha paciência e não da Renamo. Quero chamar atenção às pessoas: historicamente completámos 20 anos de uma paz camuflada e de sacrifício, este foi um ciclo. Abrimos um novo ciclo, isto é uma outra forma de estar dos membros da Renamo.
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