quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Crianças trocam escola pela busca de ouro “mortífero”

No distrito de Changara, em Tete
 
Um grama de ouro é comercializado por valores entre 1000 e 1800 meticais e compradores não faltam. Mas a actividade do garimpo acarreta sérios riscos de saúde devido a doenças contraídas pela inalação de vapor de mercúrio usado na limpeza do ouro. Por semana, dependendo de sorte, cada jovem consegue extrair dois a quatro gramas de ouro.
Maputo (Canalmoz) – Adolescentes e jovens da localidade de Chirodzi-Sanangwe, distrito de Changara, na província de Tete, trocam a escola pelo garimpo. A razão não é para menos.
Um grama de ouro é comercializado por valores entre 1000 e 1800 meticais e compradores não faltam. Mas a actividade do garimpo acarreta sérios riscos de saúde devido a doenças contraídas pela inalação de vapor de mercúrio usado na limpeza do ouro.
Por semana, dependendo de sorte, cada jovem consegue extrair dois a quatro gramas de ouro.
A reportagem do Canalmoz interpelou dois adolescentes na zona de Chirodzi-Rio. Empunhando material de trabalho (pás, picaretas e ceifadores) e carregados de farinha de mexoeira, peixe seco e feijão para as refeições no acampamento, os jovens estavam nas margens do rio Zambeze, do lado de Changara. A travessia é assegurada por canoas. Na outra margem do rio, situa-se o distrito de Chuita, onde outros jovens da localidade de Chirodzi-Sanagwe estão acampados.
A missão é a busca de ouro. A extracção do metal mais precioso do mundo é feita na outra margem do rio, isto é numa zona que administrativamente pertence ao distrito Chiuta. Lá ficam acampados em tendas. Contaram-nos que nos acompanhamentos junto de um riacho que deságua no Zambeze, situa-se a zona mineira de Cadjodjo. Há também pessoas de outras nacionalidades que não souberam identificar. “Falam inglês, Swahili e Shona”, disseram.
António Julião, 13 anos e Eusébio Buanalivo, 14 anos contam que quando abandonaram a escola para se dedicar ao garimpo, eram alunos na Escola Primaria de Chirodzi-Sanagwe. O primeiro estava na 4ª classe e o segundo na 5ª classe. Refira-se que nesta escola, este ano, estavam matriculados 250 alunos dos quais 30 na 5ª classe, segundo disse Egídio Junta Sabonete, director da escola.
“As escavações de extracção de ouro duram cerca de 7 horas por dia. Os compradores vêm de Chimoio. São moçambicanos e estrangeiros. Há muitas pessoas a viver em tendas, uns são garimpeiros e outros são compradores. Vem de diversos pontos do país”, conta Buanalivo.
O tempo que levam nas tendas, depende de quantidades de ouro que conseguem acumular. Ficam no “terreno” entre três semanas a um mês.
Com apoio inocente das famílias
Dizem que desde que começaram com actividade de garimpo, aliviaram os seus pais das despesas domésticas. Afirmam que com o garimpo, viraram criadores de cabeças de gado e cabritos adquiridos com dinheiro do garimpo.
“Os nossos pais gostam destas actividades. Trazemos dinheiro e compramos bois e cabritos. Também ajudamos nas despesas”, disse o menino António Julião.
As doenças que se podem contrair
Segundo o Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS), uma organização da sociedade civil moçambicana de defesa do ambiente, cerca de três mil garimpeiros moçambicanos que se dedicam à extracção de ouro nas províncias de Manica, Tete, Nampula, Zambézia e Niassa, estão expostos a doenças.
De acordo com o CDS, as doenças são contraídas devido à inalação de vapores de mercúrio usado na recuperação de ouro fino que, muitas vezes, se encontra nos jazigos.
“Nos pulmões, o mercúrio é oxidado e transforma-se em substâncias solúveis no sangue, provocando inibição do oxigénio. No caso de uma intoxicação aguda pode causar falha renal aguda, erosão ou perfuração gástrica e esofágica, para além do colapso cardiovascular que podem conduzir à morte”, explica um técnico do CDS.
As doenças podem aparecer 20 a 35 anos após a exposição aos vapores do mercúrio.
Refira-se que o mercúrio permite separar o ouro de outras partículas densas durante a queima da bola de amálgama, provocando a evaporação de mercúrio libertando o ouro.
A evaporação de mercúrio é apenas evitada através do uso da técnica de retorta que consiste na utilização de bacias metálicas como tampa onde o produto vai-se condensar. (Cláudio Saúte
 
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