quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Conflito sírio é "abertamente sectário", diz comissão da ONU

 
20 de Dezembro de 2012 07h55              
O conflito na Síria se transformou em um fenômeno "abertamente sectário" no qual se enfrentam grupos étnicos e religiosos, afirmou nesta quinta-feira a comissão independente patrocinada pela ONU para investigar a situação no país árabe.
"À medida que os combates entre as forças do governo e os grupos armados de oposição se aproximam do final do seu segundo ano, o conflito passou a ser abertamente sectário em sua natureza", disse a comissão em uma atualização de suas investigações.
A comissão, que é presidida pelo brasileiro Sérgio Pinheiro, informou que há na Síria "uma guerra desgastante que produziu uma incalculável destruição e muito sofrimento humano", com as partes em conflito agindo "de maneira mais violenta e imprevisível".
A revisão cobre o período entre 28 de setembro e 16 de dezembro e indica que nos últimos meses houve uma clara mudança na maneira com que os entrevistados pela comissão, que ainda não pôde visitar Síria, descrevem o conflito.
Um exemplo é o recente bombardeio em uma cidade da província de Latakia por parte das forças governamentais, que foi descrita pelas testemunhas entrevistadas como "uma ação comandada de cidades alauitas".
Outro caso é a descrição dos ataques por terra em Bosra, na província de Deraa, que acontecem "na crescente escalada de tensão entre xiitas e sunitas".
No local, a comissão assinalou que as tensões crescentes derivaram em combates entre diferentes grupos armados por uma questão sectária, sobretudo em zonas de comunidades plurais controladas por comunidades minoritárias pró-governo.
"Algumas comunidades minoritárias, notavelmente os alauitas e os cristãos, formaram grupos armados de autodefesa para proteger seus bairros dos combatentes antigovernamentais, estabelecendo pontos de controle", diz o documento.
Alguns desses grupos, conhecidos como Comitês Populares, supostamente participaram com forças partidárias do presidente sírio, Bashar al Assad, em operações militares em zonas rurais perto de Damasco e em bairros da capital.
Comunidades minoritárias como os armênios, os cristãos, os drusos, os palestinos, os curdos e os turcos "se viram arrastadas ao conflito", alertou a comissão.
No entanto, o texto apontou que a grande divisa no país é entre a minoritária e governante comunidade alauí, à qual pertencem os principais quadros dirigentes do regime e das forças armadas, e a majoritária comunidade sunita.
O efeito de um enfrentamento sectário, segundo a comissão, é que "oferece uma motivação a outros atores a se envolver no conflito", em referência ao grupo libanês xiita Hisbolá, que confirmou o apoio de seus membros a Assad na região.
A comissão constatou que "ao se sentirem atacadas, as minorias étnicas e religiosas se alinharam a um dos lados no conflito, aprofundando a divisão sectária".
O relatório diz que a violência aumentou "drasticamente" nas grandes cidades e em seus arredores, particularmente em Damasco e em Aleppo, onde os grupos de oposição "avançaram em bairros próximos aos respectivos centros urbanos".
A comissão considera que o governo mantém o controle da maior parte de cidades nas províncias meridionais de Deraa, Al Suweida e Al Qunaiterah, devido à forte presença de unidades do exército, junto à existência de grupos armados antigovernamentais relativamente desorganizados e pouco armados.
Os relatórios sobre as províncias do norte e do centro descrevem uma realidade diferente, com grupos armados de oposição exercendo o controle sobre grandes áreas do território.
Em províncias como Idlib, Latakia e Aleppo, a oposição "conseguiu se organizar de maneira eficaz e conta com ativos militares cada vez mais eficazes, o que lhe permite apresentar um sério desafio à autoridade das forças do governo".
Não há mudanças: os padrões de violações dos direitos humanos internacionais e da lei humanitária detectados pela comissão em relatório prévios "continuaram sem diminuir".

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