terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Bajulação e humilhação - Nelo de Carvalho



Brasil - Às vezes sinto pena de quem deveria ser acusado e julgado por corrupção, mas é reverenciado na Terra ( ou melhor em Angola) como um deus que não teria lugar em nenhuma das latitudes reais e físicas conhecidas pelo ser humano. E não é pena por aquilo que a natureza reserva a todos nós, termos que lidar com a morte de um ser querido; ou, ainda, a nossa, quando acreditamos que em nós sobrou algo daquilo que consideramos vida.

Fonte: www.blogdonelodecarvalho.blogspot.com
Inteligentes descobriram o Culto à personalidade

A inteligência do “nosso pai”, camarada, ex-combatente, líder clarividente e de seus assessores, é mínima, mas o suficiente para enxergar que atrás da bajulação excessiva sempre existe a sutileza de humilhar e até desqualificar o bajulado.


José Eduardo dos Santos, além do que é, em Angola transformou-se num objeto de eventos; uma fonte de sucessos em que a sorte, o azar ou a desgraça vindo do mesmo é sempre bem-vindo. Afinal, de que viveriam os bajuladores se aquela fonte secar?


Suspeito que haja dois tipos de bajuladores torcendo que aquele objeto de eventos ou fonte não pare de emitir fatalidades, para o bem ou para o mal. E, também, para a desgraça dos angolanos.


O primeiro tipo deve ser aquele que se enquadra no estilo Kundy Paiama; esses bajulam, com certeza, para humilhar o sujeito, mas sem terem a intenção de ofender. Mesmo porque Kundy Paiama não faz parte dos homens que usaria a sutileza para ofender, provocar ou até mesmo bajular. Ainda que pareça que exista sutileza nessa forma de bajular em que o objetivo é humilhar o sujeito que está no centro de todas as atenções.


Nessa turma de indivíduos, em que o nosso General é parte, não existe tal intenção. Descobrir que há humilhação nesta forma de reverência é saga intelectual da vítima. É ele mesmo, com menos ou mais vergonha, e reconhecendo o que é entre seus semelhantes, descobre que não merece tanto assim. Descobre, simplesmente, que tudo não passa de uma humilhação, de uma farsa, ainda que sem intenção. Trata-se da humilhação descrita com a tinta da burrice, ou seja, aqui, nosso humilhado sente pena de quem bajula.

O segundo tipo de bajulador é aquele que tem consciência plena do ato. E já há tempos descobriu que a vítima bajulada não é nem se quer metade do que se acreditava ser (se existe mesmo algo a se acreditar e encontrar no sujeito). Este bajulador, inteligente, esperto, e provocador, usa a própria bajulação para humilhar nosso rei-príncipe venerado. Sabe o que faz. Talvez sejam esses que tenham preenchido as folhas do Jornal de Angola com tantos “frutos e presentes”, a serem enviados a venerada personalidade.

Os inteligentes descobriram, na sua luta contra a corrupção e o culto à personalidade, um enredo que retrata a própria tragédia humana, pode ser executado com toda sutileza. E o mesmo descreve e encena na grande plateia, desta vida e do mundo em que vivemos, como o individualista, o oportunista que nunca é contrariado, e nem suspeita daquilo que é, pode ser recompensado em cada um dos momentos, não só quando suas manias são manifestadas, mas até na hora da desgraça e da morte.

Fica explícita a lição moralista e a máxima que pode assim ser dita: todo egocentrista, na impossibilidade de se contrariar o mesmo, o ideal é deixar que o mesmo se afunde nas suas manias e objetos de conquistas ( quase sempre supérfluos, já que se descobriu que o malogrado nem ex-combatente era). Ora bolas, o que não faltam num país como Angola são ex-combatentes. O que não falta também são mortais por aí reivindicado glorias. Isso pode caber às vítimas da bajulação.

A essas vítimas deem tudo o que eles acreditam merecer! Quem sabe assim a sociedade angolana poderá se livrar mais rápido dos mesmos. Ou quem sabe, mais cedo do que tarde, se deem por conta de que seu egocentrismo é constrangedor para toda uma sociedade; e que até hoje seus maiores inimigos não são seus críticos, mas os que vivem bajulando o mesmo.

Termino desejando um abraço, vindo de quem não precisa bajular. Nesses momentos difíceis ( diga-se na hora da morte) todos precisamos de um abraço e de uma alerta que nos faça retornar no lugar adequado, que não é no paraíso nem no inferno, onde jamais qualquer um de nós irá. Porque pessoalmente não acredito. Mas aqui na Terra, em Angola mesmo, talvez é o lugar mais indicado que possa despertar em nós a obrigação de nos redimirmos com os outros e afastar todo lixo que há em nosso redor: esse lixo chama-se bajulação, que hoje vem dentro de um cesto chamado de Kundy Paiama e que tem como seu meio de transporte o Jornal de Angola.

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