quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Abençoada miséria portuguesa que nunca chegue em Angola – Boaventura Araújo

 

Luanda – Decidi escrever estas linhas a propósito dos ataques infames que o Jornal de Angola tem feito a Portugal e aos portugueses. Uma vez que vivi em Portugal cerca de 30 anos e vou lá com alguma regularidade conheço muito bem a realidade portuguesa nos seus vários aspectos (justiça, infraestruturas, saúde, educação, segurança social, situação economia e crise portuguesa) e, conhecendo também a realidade angolana, proponho-me ao longo de três artigos estabelecer um paralelo entre as duas realidades (portuguesa e angolana).

Fonte: Club-k.net
O Sr. José Ribeiro e agora o Sr. Rui Ramos têm dito cobras e lagartos de Portugal e dos portugueses só porque um cidadão angolano a viver em Portugal resolveu apresentar nos tribunais portugueses uma queixa crime contra altas individualidades angolanas e o Sr.Rafael Marques resolveu escrever um livro sobre o que se passa nas Lundas com as empresas diamantíferas e fez em Portugal e na Parlamento Europeu (a convite deste) declarações pouco abonatórias para o regime Angolano.

Curiosamente foi também nos tribunais portugueses que as pessoas visadas no livro que Rafael Marques escreveu apresentaram queixa contra este por difamação. Mas porquê apresentar esta queixa-crime em Portugal e não em Angola?

Portugal e os portugueses não têm culpa nenhuma que estes cidadãos angolanos tenham preferido utilizar a justiça portuguesa em detrimento da angolana para resolver os seus problemas. Além disso os veredictos judiciais em Portugal não se fazem por encomenda nem os juízes se deixam influenciar pela pressão exercida por artigos jornalísticos semelhantes aos que estes dois senhores publicaram no Jornal de Angola, pois por lá o poder judicial é autónomo e independente do poder político. Nem a Presidência da República, nem o Governo interferem nas decisões dos tribunais.

Vou dar alguns exemplos. Há cerca de quatro ou cinco anos, o ministro da Economia do governo de José Sócrates, Dr. Manuel Pinho, viajava numa das três auto-estradas que ligam Lisboa ao Porto a cerca de 200Km/hora. Para azar seu passou por um dos carros descaracterizados da polícia à paisana que circulava na mesma auto-estrada. Estes carros estão munidos de radar.

Verificando a velocidade a que a viatura do ministro circulava, iniciaram uma perseguição ao infractor mandando-o parar e estacionar. Foi-lhe movido um auto que de seguida deu entrada no tribunal para julgamento. Daqui resultou uma multa de mil euros e inibição de condução por um período de dois meses. Este caso foi amplamente divulgado nos meios de comunicação social portugueses.

Aconteceu também há poucas semanas que o actual ministro das Finanças, Dr. Victor Gaspar, estacionou a sua viatura em cima do passeio do seu ministério. Os peões que por lá passavam não gostaram e telefonaram a polícia. Esta deslocou-se ao ministério e o titular da pasta das Finanças foi obrigado a retirar a sua viatura do passeio. Se foi ou não multado não sei.

Um último exemplo: há cerca de 20 anos, era na altura primeiro ministro o actual Presidente da República, Cavaco Silva. O ministério da Saúde de então fez uma importação de sangue de França. Aconteceu que um dos lotes deste sangue vinha contaminado com o vírus do HIV SIDA. Infelizmente foram feitas uma série de transfusões de sangue com este lote o que ocasionou a contaminação destes pacientes com o maldito vírus. Os familiares destas vítimas apresentaram queixa em tribunal contra o ministério da Saúde resultando daí a prisão efectiva por seis anos do então secretário de Estado da Saúde e a indeminização das vítimas pelos danos causados. Em França também os responsáveis do laboratório que vendeu o sangue a Portugal foram parar à cadeia.

É bem conhecido o caso do Banco BPN (foi comprado pelo nosso Banco BIC): o BPN serviu durante muitos anos para fazer empréstimos a conhecidos políticos e empresários portugueses que depois não honraram o compromisso assumido com o banco. Embora estando ainda sob investigação criminal há indícios de ter servido também para lavagens do dinheiro dalguns destes senhores.

Este banco chegou ao ponto de ter de ser nacionalizado pelo governo para não entrar em falência. O presidente e alguns dos responsáveis pela gestão desta instituição estão na cadeia bem como alguns destes clientes especiais (Políticos e Empresários).

Agora pergunto: Será que se estes casos tivessem acontecido no nosso país, os nossos tribunais e a nossa comunicação social pública teriam agido da mesma forma? Tenho sérias dúvidas. A diferença está em que, apesar das leis angolanas sejam praticamente iguais às portuguesas, por lá a lei cumpre-se e é igual para todos e por cá não se cumpre e é igual só para alguns.

Nos vários artigos publicados no JA o Sr. José Ribeiro e o Sr.Rui Ramos falam da miséria, desemprego, fome, do abismo em que Portugal está a cair e da inveja que os portugueses sentem em relação aos angolanos. Nem parece que visitam Portugal com alguma regularidade. Vamos então analisar a miséria portuguesa e compará-la com a pujança e o invejável desenvolvimento da nossa Angola:

1. INFRAESTRUTURAS

Nestes 37 anos pós ditadura salazarista Portugal conseguiu sair do grupo de países em vias de desenvolvimento e entrar no grupo de países desenvolvidos (países do primeiro mundo) e acabar com todos os bairros de barracas estilo Cazenga, Sambizanga, etc, etc, etc. Antes da demolição destes bairros de barracas foram construídos os chamados bairros sociais, com casas de qualidade (electricidade, água e gás canalisados incluídos), jardins, escolas, campos desportivos, rede de esgotos, ruas asfaltadas e centro comunitário onde os jovens desenvolvem actividades culturais.

Estes bairros estilo Cazenga,Sambizanga e outros só foram demolidos depois de transferirem os habitantes para estes bairros sociais. Hoje não existe uma barraca naquele país existindo pelo contrário, e de acordo com um artigo publicado recentemente no jornal Público online, 975 mil casas por vender (é caso para dizer que neste país sim construíram-se um milhão de casas ).

Todos os cidadãos nacionais e estrangeiros têm uma habitação condigna (devo lembrar que cerca de 80% da população adulta tem casa própria), com luz e água canalisada 365 dias por ano, onde até o gás natural que se consome em casa é canalisado dispensando assim o uso das perigosas botijas de gás.

Quando é necessário, por exemplo, fazer trabalhos de manutenção nas condutas de água as populações são avisadas com uma semana de antecedência através dos meios de comunicação social públicos e privados de que no dia tal das tantas horas as tantas horas não haverá água, podendo assim armazenar este líquido para suprir a sua falta no período indicado.

As cidades e vilas portuguesas têm todas as suas ruas asfaltadas e sem buracos (em Portugal uma estrada asfaltada dura no mínimo 30 anos e entre nós, com alguma sorte pelo meio, duram 2 anos),com redes de esgotos e escoamento das águas das chuvas funcionais, sinalização rodoviária eficiente levando a que os portugueses conduzam de uma forma disciplinada respeitando o código de estrada e os sinais rodoviários, onde, por exemplo, todos os peões atravessam a estrada nas passadeiras pois têm a certeza que os automobilistas param para os deixar atravessar; nestes aglomerados habitacionais não há lama quando chove (se chover até os carros ficam lavados), não há fossas pois todas as habitações estão ligadas á rede de esgotos, não há lixeiras a céu aberto, nem lixo nas ruas pois os municípios disponibilizam aos habitantes contentores em número suficiente onde depositar os seus lixos.

Ainda quanto ao lixo devo dizer que as pessoas separam-no em suas casas: colocam os plásticos num saco, as latas e outros metais noutro, os papéis e cartões num outro e os restos de comida noutro saco e com os vidros acontece o mesmo. Na rua existe um contentor para cada um destes tipos de lixo o que permite ao município reciclar todos estes detritos e reaproveitá-los.

Em Portugal, se por acaso aparecer um buraco numa das ruas e não estiver devidamente sinalizado, os municípios assumem o pagamento dos danos causados às viaturas que lá caírem. Se estiver sinalizado naturalmente não assumem.

A respeito de estradas ouvi há dias um comentário numa rádio privada que reflecte claramente a situação das nossas ruas. Dizia a pessoa entrevistada que em Angola o governo está a criar um novo tipo de pessoas que desenvolve escamas e barbatanas para poder andar nas nossas ruas. Achei um piadão.

As cidades e vilas portuguesas têm um sistema de transportes públicos altamente eficiente e de qualidade superior em termos de comodidade para o utente. Autocarros, comboios, eléctricos, metropolitano e táxis fazem com que grande número de pessoas prefiram utilizá-los em detrimento do seu próprio carro porque vale a pena, poupando assim dinheiro e tempo.

Todos estes aglomerados habitacionais têm enormes e maravilhosos jardins, parques infantis e infraestruturas desportivas para os seus jovens, sendo Portugal conhecido em todo o mundo como um jardim á beira-mar plantado. Nestes 37 anos de democracia foram construídas escolas, liceus, universidades, centros de saúde e hospitais em todos os municípios do país.

Os portugueses construíram uma rede de auto-estradas e pontes neste período pós ditadura salazarista que não fica nada a dever as auto-estradas dos restantes países da União Europeia; hoje todas as capitais de distrito estão ligadas por auto-estradas e entre Lisboa e Porto existem três e para quem vai da capital para o Algarve existem dois.

Lisboa é atravessada pelo rio Tejo que na sua foz chega a atingir 15km de largura. Neste rio foram construídas a ponte 25 de Abril com 4Km de comprimento, três faixas de rodagem para cada lado e por baixo do tabuleiro da ponte construíram duas linhas de caminhos de ferro para circulação de comboios e a ponte Vasco da Gama com 15Km de comprimento e três faixas de rodagem para cada lado.

Na zona de uma vila chamada Carregado existe uma fazenda chamada “Companhia das Lezírias” que tem cerca de 13 Km de comprimento. O anterior governo de José Sócrates decidiu construir uma auto-estrada que partia do “Carregado” em direcção ao Algarve. No sentido de não cortar a fazenda ao meio foi construído um viaduto com 13Km e 3 faixas de rodagem para cada lado por cima da referida fazenda permitindo assim que esta se mantivesse como estava e que os tractores fizessem o seu trabalho passando por baixo do viaduto.

Recordo-me que aqui há uns anos atrás o governo do Partido Socialista liderado pelo 1º Ministro José Sócrates decidiu terminar a construção da barragem do Alqueva, situada no Alentejo, cuja construção estava parada há vários anos. Acontece que quando esta entrasse em funcionamento iria criar o maior lago artificial da Europa ficando a Aldeia da Luz, próxima da barragem, completamente debaixo de água.

Para que a população desta aldeia não ficasse sem casa e a dormir ao relento o governo tomou a decisão de construir uma aldeia nova com a mesma arquitectura num local escolhido pelos seus habitantes e fez o transporte de toda a população, suas mobílias e haveres para a nova aldeia sem qualquer custo para os cidadãos sendo as novas casas oferecidas. O respeito pela dignidade humana tem destas coisas.

Seria muito mais fácil deixá-las a dormir ao relento ou pô-las a viver em tendas com a promessa de mais tarde realojá-las num qualquer lugar, mas felizmente prevaleceu o respeito pelos direitos humanos e pela Constituição da República.

Será que em Angola se passa o mesmo? Quando vejo estradas e auto-estradas a encherem-se de buracos ao fim de dois ou três anos de construção, hospitais e outros edifícios que ao fim de 4 ou 5 anos após a sua construção têm que ser fechados por estarem em vias de derrocada, demolições de casas deixando as famílias que lá viviam a dormir ao relento ou colocadas nos Zangos a viver em tendas com a promessa de que em poucas semanas lhes será atribuída uma casa e quando são atribuídas colocam 3 ou 4 famílias a viver na mesma casa, ruas que chegam a ser cortadas ao trânsito tal é a quantidade de lixo que se acumula, fico com dúvidas.
 
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