domingo, 16 de dezembro de 2012

20 de Janeiro de 1973: O plano era prender Amílcar Cabral e Samora Machel*

      
Tuesday, 20 January 2009 19:00
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Cabral levou inicialmente uma rajada que lhe atingiu o baço e o fígado. Ao enfrentar os conspiradores recebeu “um tiro fatal de pistola no olho”.
O objectivo dos conspiradores que assassinaram Amílcar Cabral era prender, no mesmo dia, os líderes do PAIGC e da Frelimo, Samora Machel, que se encontrava, na altura, de visita à Guiné-Conacri e planeava visitar a Escola Piloto, em 21 de Janeiro, revela a combatente da Liberdade da Pátria, Josefina “Zezinha” Chantre, em entrevista a www.tvisao.com
“Uma vez presos, eles seriam levados a Bissau e entregues ao General [português] António de Spínola. Daí se deduz que os colonialistas portugueses estariam envolvidos no complot”, afirma Zezinha Chantre.
Ela acrescenta que o objectivo não era para matar mas sim prender e amarrar Amílcar Cabral, Aristides Pereira e Samora Machel*.
Chantre declarou que a captura seria uma forma pretendida pelas autoridades lusitanas para desmentir a informação de que o PAIGC dominava 2/3 do território guineense.
Ela avançou, ainda, que Spínola teve conhecimento, através do Rádio, de que Samora Machel iria visitar uma escola piloto e se reuniria com a cúpula do PAIGC.
Para Zezinha Chantre, a antecipação do plano deveu-se ao facto de Cabral ter sido informado por dois emissários, nessa mesma manhã de 20 de Janeiro, que estava em marcha uma conspiração contra ele. “Cabral era uma pessoa muito frontal, muito directo, ele não escondia nada, e após a reunião com os emissários, sai do gabinete e se encontra com um dos seus guarda-costas e disse-lhe: ‘Vieram dizer-me para tomar cuidado porque há um complot contra mim... E vocês da segurança não descobrem nada?”, conta.


Segundo Zezinha Chantre, o guarda-costas meteu-se num jeep, foi à base da marinha e teria sugerido o adiantamento da operação. “Fizeram um juramento entre eles para garantir que ninguém revelaria o segredo e apontaram para essa noite [a materialização do plano]”, afirma.
De acordo com Chantre, eles aguardaram o regresso de Amílcar Cabral de uma recepção que tinha assistido na embaixada da Polónia, e foi quando tentaram prendê-lo e amarrá-lo.
Mas Cabral lhes disse: “toda a vida lutei para vocês não serem amarrados e a mim ninguém me amarra”. Mas, depois de morto acabaram por amarrá-lo, avançou a combatente.
Chantre revelou que Amílcar Cabral levou inicialmente uma rajada que lhe atingiu o baço e o fígado. “Pediu à mulher, Ana Maria, que fosse chamar um médico e ao enfrentar de cara os colegas [da conspiração] recebeu “um tiro fatal de pistola no olho”.
Ela ainda adiantou que Cabral escrevera um documento sobre um provável “complot” contra ele, após descobrir um bilhete escrito pelo militante do partido, Momou Touré a Aristides Barbosa. Estes viriam a ser os cabecilhas da conspiração de 20 de Janeiro. Os dois seriam depois fuzilados após o inquérito levado a cabo em Conacri.
* Samora Machel também teve uma morte estranha em 19 de Outubro de 1986. O avião em que viajava, modelo soviético e com pilotos russos, caiu na localidade de Mbuzini, na África do Sul.
* Este texto foi feito com base numa entrevista concedida por Zezinha Chantre a www.tvisao.com, no Verão de 2004. A conversa está sendo divulgada em várias partes. Neste domingo, 25 de Janeiro, será apresentada uma segunda parte.
Veja a reportagem em www.tvisao.comsobre os acontecimentos de 20 de Janeiro de 1971.

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