quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Weekend out - Querido Diário,

 

by Lorena Massarongo on Wednesday, 9 November 2011 at 18:40 ·


Hoje fui a mais um daqueles bem animados almoços com casais camaradas. Sabe sempre bem rever os amigos, pôr a conversa em dia, trocar idéias, partilhar experiências e, claro está, tricotar q.b.
A criançada corre animada, entre um choro e duas queixinhas, como é costume. Os cavalheiros vão falando alto quando o assunto é futebol, política, automóveis ou crianças (sim, sim, eles também conversam sobre os rebentos) e, como igualmente é costume, reduzem drasticamente o volume quando o assunto é mulher: as esposas e as ex-futuras-esposas (abrangente esta designação, hein?!?)!
Entre nós, as damas, como não deixa de ser costume, tudo começa com aquele cumprimentar a la raio-x, em que cada uma passa um olhar clínico pela outra e, numa fracção de segundos, faz um scan geral, do calçado ao penteado, do qual quase nunca se escapa ilesa de um “elogio” e, nos dias menos bons, de uma azeda crítica do estilo: “essa blusa ficava a matar com aqueles teus jeans brancos”. Nem preciso dizer que a vítima fica a matar, com o olhar, à autora do “elogio”.
Segue-se o desfile dos pirex´s, travessas, tigelas, etc., contendo os best of de cada uma. É de praxe comentar da maratona que foi a manhã de sábado: limpezas p´ra cá, compras p´ra cá, cabeleireiro p´ra acolá, instruções à criadagem para além... Nada fácil o roteiro femenino; fica-se exausta só de ouvir descrever.
Até aqui tudo bem! Sobrevivo! O caldo começa a entornar-se quando entramos para o campo das especialidades culinárias: todas têm uma, menos eu! E uma delas resolve ter a iniciativa de pedir-me para, digamos, recitar a receita de uma das especialidade da minha “autoria”. Penso eu: estou tramadex! Tenho que elaborar uma resposta adequada, e tem que ser já.
Penso, repenso e volto a pensar, e a repensar, e, finalmente, desisto de pensar e de repensar! SOS!!!!! E agora? Como dizer a estas camaradas que não faço a mínima idéia de como é que se preparam estas iguarias, sem ferir susceptibilidades nem fazê-las passarem a encarar-me como uma E.T.? Como?
É que a minha rotina, sabem, é bem outra. Não me encaixo no figurino da dona de casa pródiga que todos os dias prepara/orienta o pequeno almoço para a família e instrui à empregada sobre o comer, as limpezas, etc. Comigo é mais linhas-mestras do tipo se segunda cozinhou legumes, na terça que seja arroz branco, na quarta massa, na quinta arroz de vegetais, na sexta xima, no sábado puré e no domingo massa. De igual modo, vai alternando entre mariscos, carnes e verduras.
Com a roupa é lava 3 dias e passa outros 2, um dia por semana para mimar as janelas, armários, geleira e outros lugares menos, digamos, acessíveis. A cada quinta-feira à noite, deve estar disponível na porta da geleira a lista das necessidades para a semana seguinte; não sou adepta de grandes ranchos porque acho que empatam dinheiro desnecessariamente e, ademais, gosto dos ingredientes fresquinhos, capricho este que me toma parte da sexta-feira ou, nas sextas da preguicite aguda ou dos tchilings, transfiro para o sábado, de preferência à primeira hora, antes das tradicionais enchentes.
Sábado de manhã, cedinho, dou duas buzinadelas e largo as compras com as “donas”, largo a pequenita no parque e sigo para o me time: primeira hora no salão, unhas, depilação e uma vez e outra, uma massagem (why not?). Bem antes do fim da manhã, missão cumprida, e sobra tempo par um drink ao som de uma boa musiquinha!
Nem nos sábados em que tenho visitas/saídas abro mão do meu precioso me time; as “donas” são comunicadas com a devida antecedência e é tarefa delas garantir que tudo saia na perfeição. Limito-me, como sempre, a definir linhas-mestras como coordenar o menu (quase sempre sugestão delas com um retoque meu só para rematar e re-estabelecer quem, afinal, manda), escolho o serviço de jantar e pouquíssimo mais. À hora da visita/saída, lá estou eu, serena, enfeitada e perfumada!
A idéia da dona de casa altamente atrapalhada, atrasada e stressada não me cativa, muito menos acredito que as empregadas domésticas são seres incapazes! Há que delegar! Acredito na capacidade do staff e acredito ainda mais fortemente que, se responsabilizamos e capacitarmos as equipes que nos servem, maximizamos o rendimento do conjunto e motivamos à participação de todos e de cada um; se todos sentirem que o seu contributo conta, e muito, para o sucesso do conjunto, a mão invisível actua e faz-se um bom trabalho!
Não faz sentido que, numa altura em que as mulheres estão cada vez melhor e mais formadas não sejam capazes de transformar este conhecimento na melhoria das pequenas GRANDES tarefas domésticas. Outrossim: se o ambiente profissional está cada vez mais exigente e competitivo, há que imprimir proporcional exigência às equipes que connosco colaboram, sob pena de acabarmos com donas de casa cada vez mais stressadas e empregadas domésticas cada vez mais rejuvenescidas e folgadas. Neste âmbito, sou assinante de revistas de culinária – segredos de cozinha, pão com badjia – e, adivinhem quem as lê e aplica? E pasmem-se: A-D-O-R-A-M!!!!!!
Voltei ao planeta terra, ao almoço com as minhas queridas amigas, sorri, enchi o peito de ar e, fresca, respondi:
- Não sei a receita, não sei cozinhar especialidade nenhuma: a minha especialidade é Gestão de Recursos Humanos Domésticos!

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