segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Rebeldes sírios executam soldados; aumento de islamitas preocupa

 
DAMASCO — Os rebeldes intensificaram nesta quinta-feira as execuções de soldados do regime na Síria, onde a oposição atribuiu a influência crescente dos jihadistas à falta de ação da comunidade internacional, após as críticas americanas nesse sentido.
A violência em todo o país deixou pelo menos 96 mortos nesta quinta-feira -- 53 soldados, 27 civis e 16 rebeldes --, de acordo com um registro provisório do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que indicou mais de 36.000 mortes desde o início da revolta, em março de 2011.
Entra as vítimas desta quinta, pelo menos 28 soldados foram mortos em combate ou executados a sangue frio em ataques de rebeldes contra três postos militares perto da cidade de Saraqeb (noroeste), indicou o OSDH, com sede na Grã-Bretanha, que se baseia em uma rede de militantes e médicos no terreno.
Um vídeo divulgado por militantes mostra rebeldes prestes a atacar cerca de dez soldados feridos, antes alinhá-los no chão e de chamá-los de "cães dos shabbihas de Assad", nome dado aos milicianos pró-regime.
Antes de executar um prisioneiro, um rebelde diz: "Você não sabe que pertencemos ao povo deste país?". Aterrorizado, o soldado responde: "Juro em nome de Deus que não atirei".
"Ao mesmo tempo em que o Observatório denuncia as execuções nas prisões do regime, ele nega as de prisioneiros de guerra por parte dos rebeldes", denunciou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
A Anistia Internacional denunciou em um comunicado as imagens "chocantes de um crime de guerra potencial prestes a ocorrer, que mostram o desprezo absoluto do grupo armado em questão pelo direito humanitário internacional".
A organização de defesa dos direitos humanos "não confirmou no momento a identidade do grupo armado que cometeu essas execuções sumárias, e nenhum grupo as reivindicou. Mas vamos continuar a investigar".
Cinco rebeldes também morreram em combates na estrada internacional que liga Damasco a Aleppo, as duas principais cidades do país, indicou o OSDH.
Enfraquecidas pela multiplicação das frentes em todo o país, as tropas regulares sofreram pesadas baixas, com mais de 9.000 soldados mortos em cerca de 20 meses de levante contra o regime, lembrou o OSDH, indicando que os rebeldes também haviam conseguido blindados.
Diante deste panorama, a aviação assume cada vez mais as ofensivas das forças do governo. Nesta quinta, aviões bombardearam Damasco e suas imediações, assim como localidades da província de Idleb (noroeste), segundo o OSDH.
Helicópteros militares metralharam Hajar al-Aswad, no sul da capital, deixando feridos, enquanto um avião militar bombardeou Harasta, subúrbio nordeste de Damasco, de acordo com a mesma fonte.

Comunidade internacional acusada


Depois de a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, ter mencionado na quarta-feira "informações preocupantes sobre extremistas que vão à Síria e tentam desviar para seus fins o que era até então uma revolução legítima", o chefe da principal coalizão opositora síria denunciou a falta de apoio internacional à rebelião.
"A comunidade internacional é responsável, em razão de sua falta de apoio ao povo sírio, pelo crescimento do extremismo na Síria. O extremismo é a consequência e não a causa da inação da comunidade internacional", afirmou à AFP Abdel Basset Saida, chefe do Conselho Nacional Sírio (CNS).
"A comunidade internacional deve se voltar para si mesma. O que ela deu ao povo sírio? Como ela ajudou os sírios a conter o regime assassino?", acrescentou.
Reagindo às afirmações de Hillary, que havia pedido uma oposição ampla por considerar que o CNS não pode mais "ser considerado o líder visível da oposição", Saida explicou que seu organização está preparada para agir com grupos de fora do Conselho, mesmo que, para ele, a fraqueza do CNS se deva, acima de tudo, à falta de apoio internacional.
Diante desta perspectiva, o CNS prepara uma reunião no dia 4 novembro em Doha. "O CNS representa todas as correntes da sociedade síria, incluindo os islamitas, os liberais e os laicos. Também estarão presentes em Doha grupos curdos, assim como novos grupos militares e civis", ressaltou Saida.
No plano diplomático, a China anunciou ter feito "novas propostas construtivas" para tentar pôr fim ao conflito, incluindo um cessar-fogo organizado por regiões e por fases, e a formação de um governo de transição.

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