sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Pressão da Gorongosa e insatisfação urbana complicam as contas de Maputo?...

Canal de Opinião
Por: Noé Nhantumbo
Manifestações em Maputo colocam o governo na defensiva
 
- Que dizem os porta-vozes e defensores do “bom estado da nação”?
Beira (Canalmoz) - De uma maneira directa e inconfundível a pressão sobre o governo da Frelimo aumenta a cada dia que passa.
O início de mais uma manifestação popular em Maputo, alegadamente relacionada com o aumento do custo dos transportes de passageiros, revela que mesmo no “bastião” do poder político as coisas não estão tão bem como alguns apregoam aos quatro ventos.
Se de Gorongosa a pressão tem rosto e é conhecida, de Maputo o que se sabe é que há manifestações de inúmeros cidadãos. Será só o preço dos “chapas cem? Serão manifestações espontâneas ou existirão alguns mobilizadores concretos de mais esta greve?
Qual é a leitura que a PRM e os serviços de inteligência fazem neste momento?
Acumularam-se sinais de insatisfação popular sobre este aspecto transporte e outros especialmente nas cidades moçambicanas.
Quando um governo não consegue dar resposta as preocupações legitimas dos cidadãos e se refugia em tecnicismos e legalismos de valor desconhecido e relativo criam-se as condições propícias para rebentamentos de focos de violência e consequente descontrolo. A ordem pública corre sérios riscos de entrar em colapso.
As reações da PRM conhecida que é a sua tendência de disparar balas reais como forma de conter ânimos exaltados e só depois investigar, são até ao momento desconhecidas mas há razões para se temer uma actuação que descambe para morte de inocentes como afinal já aconteceu em outras ocasiões.
Importa que o governo saiba reagir com cautelas e que procure uma saída que traga ordem e tranquilidade para a cidadã capital. É necessário entender que o número de desempregados, meliantes e outros indivíduos com as mais variadas agendas podem aproveitar-se de manifestações legítimas de repúdio contra decisões inaceitáveis, para desencadear outro tipo de acções que lesem os direitos de concidadãos.
Assaltos a estabelecimentos comerciais, bombas de gasolina, residências, veículos poderão ocorrer sob capa de que foram manifestantes que se tornaram violentos.
Também podem ocorrer provocações concebidas e elaboradas por agentes dos serviços de inteligência com o objectivo de facilitar a repressão violenta de manifestantes pacíficos.
Direito à manifestação e liberdade de expressão são parte indissociável da democracia.
Os cidadãos não estão satisfeitos e este facto é insofismável. Não há discurso por mais politicamente correcto que seja com capacidade de ludibriar os cidadãos.
Neste momento aconselha-se os governantes a fazer as leituras apropriadas e a não se enganarem com supostos aparatos policiais ao seu serviço.
As revoltas de cidadãos descontentes pode ser prenúncio de crises mais profundas e generalizadas. O assunto pode ser despoletado por aumentos de transporte ou de arroz, de propinas escolares ou outro qualquer.
Os moçambicanos têm níveis de vida extremamente baixos, sofrem de carências nos mais diversos aspectos de suas vidas e encontram-se numa encruzilhada preocupante.
Não se pode adiar os diálogos essenciais nem colocar impedimentos de qualquer ordem. É urgente que se diz governo assumir plenamente as suas responsabilidades e agir em conformidade.
Há espaço para um debate sério e consequente dos assuntos nacionais.
Aproveitamentos políticos em situação de crise são normais e de esperar mas isso não deve constituir razão para que os governantes se recusem a entabular conversações com os demais interlocutores sociais.
Haverá tendências para procurar bodes expiratórios de uma situação que se mostrava iminente mas que os responsáveis dos respectivos pelouros descontavam ou consideravam improvável.
Requer-se urgência e responsabilidade por parte dos actores sociais e governamentais. Aos políticos pede-se contenção e responsabilidade para aconselharem as melhores saídas para uma crise multifacetada.
Cabe a quem governa assumir na íntegra as suas responsabilidades e tudo fazer para que a calma e ordem pública retorne e que os cidadãos se tranquilizem em Maputo.
Nossos problemas nacionais devem ser resolvidos por nós através de todo tipo de concertação.
Os cidadãos foram como que empurrados contra a parede e deixados sem alternativas. Quem deveria produzir soluções escondeu-se ou enveredou pelos caminhos aparentemente mais fáceis. São tantas as preocupações dos cidadãos por uma vida mais digna que foram tratadas com ligeireza pelos governantes que chega-se a um momento de saturação em que as explosões sociais acontecem por via natural. Uma faísca, uma decisão de burocratas mal equacionada degenera em incêndio de faz “arder a floresta”.
Aumentam as dificuldades do governo em lidar simultaneamente com a “crise de Maputo” e coordenar esforços internamente para os debates ou conversações com a liderança da Renamo acantonada na Gorongosa.
Afinal os “distraídos” não são aqueles que normalmente são catalogados de tal por diversos porta-vozes governamentais.
Distraídos são efectivamente aqueles que com tempo e oportunidade se negam ou se recusam a estudar soluções produtivas dos problemas nacionais.
Separar o “trigo do joio”, engajar os interlocutores sociais no debate necessário e urgente deve ser iniciativa do governo do dia.
Ninguém está imune no que se refere a possibilidade de errar. Mas recusar dialogar é prolongar o sofrimento dos cidadãos e isso é simplesmente inaceitável.
Se há que apertar o cinto e consentir sacrifícios isso deve ser feito e assumido por todos, com os governantes servindo de exemplo…
Repudiar decisões e políticas claramente lesivas é direito dos cidadãos mas neste processo não linear é necessário que partidos políticos organizações da sociedade civil, confissões religiosas exerçam sua influência para que as manifestações se realizem pacificamente e que as autoridades policiais e os serviços de inteligência actuem segundo o preconizado pela lei… (Noé Nhantumbo)

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