sábado, 17 de novembro de 2012

Ponte Maputo-KaTembe

Uma alternativa mais barata a ponte Maputo-KaTembe Já vem tarde. O contrato já foi assinado (e as obras prestes a começar). Mas vale a pena ler
Escrito por Jonathan Mccharty
Não me lembro da quantidade de “seminários de estradas” em que participei, cujo tema assente era a “pavimentação da estrada para a Ponta de Ouro”!! Os números ali apresentados, mostraram sempre com clareza
, que não existia tráfego suficiente para justificar esses investimentos!! Mas se forem a notar, em nenhum momento da nossa abordagem condenamos a construção dessa estrada!! O que temos estado a defender no decurso desta série, é que, nas condições actuais, o Estado Moçambicano não está em posição de enveredar por soluções arrojadas, quando alternativas mais racionais e económicas, estão disponíveis e, em nossa opinião, devem ser exploradas! Em momento algum contestamos que a população da KaTembe deve ser servida por infraestruturas que permitam a sua rápida mobilidade de e para Maputo.
O que está aqui em causa são as opções financeira e economicamente insustentáveis que se querem adoptar. Porque, sejamos francos: a KaTembe é neste momento um “deserto”, com uma reduzida massa populacional, sem produção agrícola ou industrial, sem meios circulantes, sem tráfego!! Por essa via, inclua-se Matutuine, Bela Vista, Ponta de Ouro, etc. Por mais que queiramos esticar a fita de “previsões de expansão e crescimento futuros”, neste momento, esses locais todos não reúnem uma “base de sustentação” que permita a expansão necessária para reaver os investimentos que se pretendem fazer com a construção da ponte Maputo-KaTembe!! É preciso que haja essa “base de sustentação”, é preciso que haja esse “ponto de partida”!!Se vamos criar algo a partir do nada, então temos que ter noção de limites!! Não vamos construir uma ponte de 600 milhões de dólares, para um sítio onde não existe nada!! Mas podemos fazer uma ponte de 20 milhões, 30 milhões de dólares (50 milhões de dólares já seria discutível), para impulsionar o desenvolvimento que pretendemos nessa região, deixando com clareza que há sacrifícios que devem ser consentidos nesta altura, até que a situação económica do país permita a adopção de soluções que hoje não estão ao nosso alcance!!
O sucesso da KaTembe, que virá a permitir a sustentabilidade da construção de uma ponte multimilionária, reside na preposição que a KaTembe seja habitada “sem limites para a sua expansão”!! A validade deste argumento, de nada depende do que venha a acontecer nem em Matutuine, nem em Bela Vista, nem na Ponta de Ouro!! A KaTembe deve ser olhada como uma entidade que depende apenas de si própria, porque para que uma ponte Maputo-KaTembe seja viável, deve existir “tráfego diário” para os dois lados da baia. Tal só será possível, se a KaTembe for massivamente habitada e, melhor ainda, se tiver actividade industrial e comercial. Que não se pense que uma ponte Maputo-KaTembe será viável com tráfego mobilizado por “turismo de fim de semana, Páscoa ou fim do ano”, como se está a querer vender!! Isso não irá acontecer!!
É nessa perspectiva que propomos um plano alternativo para a urbanização não restritiva da KaTembe que, conforme veremos nas próximas linhas, será muito menos oneroso, fará um melhor aproveitamento do Projecto da Circular de Maputo, permitirá o desvio de tráfego desnecessário que doutra forma iria para o centro de Maputo, e fundamentalmente, permitirá que, na eventualidade da construção futura do porto de Techobanine, unidades industriais em Matutuine, etc, qualquer carga a ser transportada de e para esses locais, tenha acesso directo a EN4 (África do Sul), EN2 (Suazilândia, África do Sul) e EN1 (resto do país) sem ter que perturbar o tráfego na cidade de Maputo. Esta estrada iniciaria na intersecção com a EN2 depois da ponte da Matola-Rio e antes de Belo Horizonte, perfazendo uma distância de aproximadamente 10Km até ao centro da KaTembe. Este troço, entrando pela parte Oeste da KaTembe se iria intersectar com outro vindo da actual ponte-cais, numa extensão de aproximadamente 8 Km, servindo assim de bases para a execução de malhas quadradas, que permitiriam a urbanização da KaTembe em toda a sua extensão, tanto em direcção à Matola-Rio (Belo Horizonte), como em direcção ao Oceano Indico no extremo Este, evitando que todo o protagonismo da vila esteja na secção que faz frente à cidade de Maputo.
Esta estrada teria uma ponte sobre o rio Umbeluzi, com aproximadamente 250m de comprimento e outra sobre o Rio Tembe, com cerca de 750m de extensão. Usando tabuleiros compostos ou outras soluções que se considerem baratas, estas pontes não custariam acima de 10 milhões e 30 milhões de dólares, respectivamente, visto que não teriam que ter dimensões monumentais para permitir a passagem de navios de grande calado debaixo dos seus tabuleiros. Na entrada a Maputo, esta estrada faria o devido uso da Circular de Maputo, a partir do nó da Machava.

2) Marinas
Seriam construídas duas Marinas modernas, onde hoje se situam as pontes-cais do lado de Maputo e do lado da KaTembe. Estas estruturas deveriam ser concebidas não só para a atracagem de ferry-boats, mas também com uma área comercial, restaurantes, as marinas propriamente ditas para a ancoragem de pequenos yates, etc, servindo assim para promover o turismo de mar (pesca/mergulho) dos dois lados da baía. Sem querermos ser muito arrojados, estas duas infra-estruturas poderiam ser executadas com uma quantia total de 30 milhões de dólares, que seria complementada com uma verba de 5 milhões de dólares para a aquisição de 2 ferry-boats modernos. Por mais que um dia, a ponte Maputo-KaTembe seja construída, é preciso tomarmos em conta que a travessia por ferry-boat deverá ser mantida, por ela emprestar um cunho turístico particular à nossa cidade capital!! Por outro lado, a grande maioria da população da KaTembe não tem viaturas particulares, o que significa que, para se deslocarem ao trabalho na baixa ou centro da cidade de Maputo, nenhuma ponte lhes fará melhor serviço que o ferry-boat.

3) Estrada KaTembe-Ponta de Ouro

A estrada Maputo-KaTembe, incluíndo a ramificação primária no interior da vila da KaTembe compreenderia uma extensão total de aproximadamente 35Km. Adicionados a mais 115 Km até à Ponta de Ouro, este projecto teria uma extensão total de 150Km de estradas. Uma estrada de 2 faixas, com revestimento duplo, trabalhos de drenagem, etc, está avaliada em cerca de 1 milhão de dólares/Km, o que indica que, em termos de estradas, o investimento seria de aproximadamente 150 milhões de dólares para todo este projecto.

4) Custos Totais
- Estrada Maputo-KaTembe: 35 milhões USD
- Ponte sobre o Rio Umbelúzi: 10 milhões USD - Ponte sobre o Rio Tembe: 30 milhões USD
- Marinas Maputo/KaTembe: 30 milhões USD
- 2 Ferry-Boats: 5 milhões USD
- Estrada KaTembe – Ponta de Ouro: 115 milhões USD
- Contingências: 25 milhões USD
- TOTAL: 200 milhões USD

Se tomarmos em conta que, uma e outra obra de arte terá que ser construída no troço KaTembe-Ponta de Ouro, vemos que com um valor global não superior a 250 milhões de dólares, todo este projecto pode ser executado. A expansão da KaTembe executada nestes moldes, possibilitará a sua ligação tanto a Maputo como a Matola, o que aliada ao Projecto Circular de Maputo, que possibilitará o desenvolvimento de novas zonas habitacionais, abriria caminho à construção de uma verdadeira “Região Metropolitana de Maputo”, devidamente interconectada!!
O aspecto particular desta “solução alternativa” é que não estaremos a incorrer em gastos directos excessivos com a construção, que serão posteriormente exacerbados com valores exorbitantes para a manutenção, como se observará se se avançar unilateralmente para a construção da ponte Maputo-KaTembe!! Por outro lado, é falacioso dar-se constantemente primazia ao “centro da cidade de Maputo” quando se sabe de antemão que a grande maioria da sua população vive nos seus arredores. Falo dos bairros de Jardim, Benfica, Magoanine, Malhazine, Machava, as várias Matolas, Belo Horizonte, Tchumene, e por aí fora!! Toda esta população, que acreditamos irá melhorar gradualmente o seu poder de compra, tendo interesses (turísticos) na KaTembe ou Ponta de Ouro, estará muito melhor servida por esta proposta que aqui apresentamos!! Aos citadinos “ricos”, o sacrifício que se lhes pede, será contornar a baía numa extensão de meros 25Km, para desfrutar os seus fins de semana do lado da KaTembe!!
A nossa proposta está aqui feita! Se tem outros números ou sugestões alternativas, não se coíba de apresentá-los, antes de prosseguirmos para a conclusão desta série, no próximo artigo!!

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