segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O que África me ensinou

Em: http://www.edanaia.com/


Prefácio

Crónicas de Moçambique. Dos tempos em que eu conheci a terra – grande terra – e a gente – grande gente – já lá vão quatro décadas.
Foi assim que Eduardo Da Naia Marques me colocou a questão, num jantar: “Vou editar um livro. Muito em breve. Vai achar piada.”
E, aí, não resisti. Moçambique é a minha segunda Pátria. Palavra puxa palavra, acabámos a acertar estas linhas introdutórias.
Linhas que se explicam, antes do mais, pelo autor. Arquitecto, cidadão atento e participante. Companheiro no Lion, com quem fundei – em 1981 – o Lions Clube da Costa do Estoril. Pessoa disponível, leal, constante na sua amizade, sempre pronta a servir a comunidade.
Depois, temos o tema. Moçambique. Terra doce com gente doce. Que marcam todos aqueles que, alguma vez, lá viveram ou lá estiveram e viram (e sentiram) com olhos de ver (e de sentir).
Relembrá-la é um refrigério. Poder revisitá-la, como eu posso, para aulas, é um prazer inesperado. É como percorrer a juventude, mas fora do tempo e do espaço, num reencontro de pessoas e de locais se possível mais ricos do que os que havia descoberto nos anos 60
Pois é, precisamente, de Moçambique e dos ensinamentos lá colhidos que nos fala este “O que África me ensinou”, estas “Crónicas na primeira pessoa”, escritas com paixão, do mesmo modo que com paixão deverão ter sido vividos aqueles mais de 40 anos moçambicanos.
E está lá tudo o que o autor reteve de fundamental: a velha casa de ferro da Avenida Central, o Dr. Afonso Pais, a “picada” do alto Pafuri, os leões, a Maria Rosa Colaço, o Dr. Eurico Cabral e o Liceu então chamado Salazar, o carismático Dr. Cardigos dos Reis, a Matola-Rio, o inesquecível Rui Knopfli, a fronteira com a Suazilândia (perto da Namaacha), a Beira dos anos 70, o Tomé, o Mike Charlie (Cessna 150) do Aeroclube, o imparável Jorge Jardim e o Malawi, os projectos para o BCCI, o ICM e o Montepio de Moçambique (fora o Commercial Bank of Malawi), a DETA, Otelo Saraiva de Carvalho e o reencontro ocasional, o bacalhau do “Meireles” (em Quelimane), a nostalgia de Lourenço Marques (com Rádio Clube, Desportivo, Clube Naval, Velhos Colonos, Bilene, Xai-Xai, Scala, Socigel, Peters, Associação Africana à mistura), o Lions da Beira, Vila Pery, Ian Smith, a partida para Joanesburgo (e ainda quatro poemas complementares).
Lê-se de um fôlego. E, depois, relê-se, crónica a crónica, como livro de cabeceira ou de lazer.
Cheio de paixão africana. Confirmando o dito de que quanto a África não há senão dois sentimentos possíveis: amá-la ou odiá-la. O autor (como eu) ama-a.
Cheio de saudade. Mas uma saudade quase já sarada das feridas de 1974-1975 (que só afloram numa página inicial). Ou o autor não tivesse o seu filho Pedro lá radicado e não regressasse amiúde, para o rever (e a velhos amigos) e até para, por desporto, projectar para estes uma ou outra casa de férias.
Cheio de prazer de viver. É isso mesmo: este livro é um louvor à vida. Ou não fosse escrito por um crente, um espírito inventivo, um contador de histórias entusiástico.
Por tudo isto estamos gratos a Eduardo Da Naia Marques. Nós, os seus companheiros. Nós, os seus amigos. Nós, os que amamos Moçambique. Nós, os que gostamos de viver esta vida intensamente, cada dia como se fosse o último, não porque pensemos que nela se esgota o nosso percurso, mas porque a vemos como o início da construção do segundo ciclo desse percurso. E nela descobrimos o começo da eternidade.

Marcelo Rebelo de Sousa

Cascais, 12 de Maio de 2008

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