quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O 11 de Novembro de 1975 em Angola: dia da Independência ou de Luto nacional? - Makuta Nkondo

 Em http://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=13593:o-11-de-novembro-de-1975-em-angola-dia-da-independencia-ou-de-luto-nacional-makuta-nkondo&catid=17:opiniao&Itemid=124

Luanda - Na antiga República do Zaire, hoje República Democrática do Congo (RDC), as reacções sobre o anúncio de 11 de Novembro de 1975 como data da independência de Angola foram mitigadas, depois de um longo período de 14 anos de guerra contra um poderoso exército da potência colonial, Portugal.

Fonte: Angolense
O anúncio oficial da referida data foi feito pelo próprio líder da FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), Holden Roberto, num comício que presidiu alusivas às festividades do ultimo 15 de Marco na Base militar central do ELNA em Kinkuzu.

O 15 de Marco eh a data do inicio da luta armada pela conquista da Independência nacional por parte da FNLA.

O ELNA (Exercito de Libertação Nacional de Angola) era o braço armado da FNLA. A base de Kinkuzu situava-se na RDC, Região (Província) do Baixo-Zaire, hoje Baixo Kongo, Sub-região das Cataratas, na área de Bangombe, próxima da sede central da Igreja Kimbanguista, em Nkamba.

Nkamba eh aldeia natal do profeta Simao Kimbangu.

“Segundo as notícias da imprensa, ocorre uma situação politica anormal em Portugal que poderá culminar com as independências das suas antigas colónias em África; esperemos para ver…”, foi assim mais ou menos nestes termos que Holden fez o anúncio numa parada militar na famosa e temida base de Kinkuzu.
Na parada, duas unidades militares destacaram-se, uma chefiada pelo Comandante Penalty dito Kioto e outra dos Comandos boinas verdes por André Ndozi dito Leopardo.
O sonho do Yembe - nome pelo qual o Comandante-em-chefe do ELNA e Presidente da FNLA, Holden Roberto, era chamado – concretizou-se com o golpe de Estado contra o governo de Marcelo Caetano em Portugal, a 25 de Abril de 1975.
Em seguida, foi a vez da imprensa zairense (congolesa), nomeadamente os poderosíssimos diários Elima e Salongo a anunciarem em letras garrafais na capa a iminência da Independência de Angola.
O jornal Elima, antigo Courrier d’Afrique, concorria com o seu congénere Al Ahram do Egipto.
Os jornais esgotaram-se ao abrir e fechar dos olhos e eram revendidos a preços de ouro.
Foi nesta ocasião que os refugiados angolanos ouviram pela primeira vez falar de um terceiro movimento de libertação de Angola chamado UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) e do seu líder Jonas Malheiro Savimbi.
Dias depois, delegações dos três Movimentos de Libertação negociaram com a potencia colonial, em Alvor, Portugal, e assinaram um Acordo sobre a Independência de Angola chamado “Acordos de Alvor”.
Antes de Alvor, os pais da Independência nacional, nomeadamente Holden Roberto, António Agostinho Neto e Jonas Malheiro Savimbi, passaram por Mombasa, no Kenya, para uma reunião de concertação de ideias, sob a égide do carismático Presidente Jomo Kenyata.
Tudo aconteceu no tempo do falecido Presidente-fundador do MPR (Movimento Popular da Revolução) e da Republica do Zaire, Mobutu Sese Seko Kuku Ngbendu wa za Banga (antigamente Joseph Desire Mobutu).
Na base militar operacional do ELNA, em Luangu, a notícia provocou de um lado a euforia e do outro o cepticíssimo.
Muitos entoaram a canção fetiche da FNLA “Ketu kuenda e Ngola…” (Já vamos a Angola…).
Outros tantos duvidaram que a guerra e o colonialismo português pudessem chegar ao fim em Angola.
Na sede da representação do GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio) em Matadi, capital da Província do Baixo Congo, Jovelino Eduardo que fez parte de uma delegação da FNLA que participou numa conferência sobre a descolonização de Angola que decorreu no Egipto falou de um certo José Ndele que representou um Movimento de Libertação de Angola chamado UNITA.
Jovelino admirou a eloquência de Ndele que considerou de poliglota e inteligente, minimizando a existência da UNITA.
A propósito deste Movimento (UNITA), discutia-se muito sobre o nome de Savimbi. Muitos consideravam que os jornais erraram na ortografia do nome que, em vez de Savimbi, seria Savimpi, pois Saúde em língua Kikongo eh Vimpi. Ou então Savimba ou Savimbu, pois Vimba eh verbo inchar, dilatar e Vimbu o seu substantivo.
Outra curiosidade foi de constatar que os nomes mais destacados do movimento (UNITA) terminavam em Bi ou Ba. São nomeadamente Savimbi, Sitakumbi, Sangumba, Kakumba, alem do famoso e popular jovem engenheiro Vakulukuta.
Fala-se repetidamente destes nomes e muitos chamavam a UNITA de o Partido dos Mba, Mbi e Vakulukuta.
Na base militar de Luangu, o primeiro adepto da UNITA foi um jovem marceneiro chamado Kinu Eduardo, filho de Pedro Kinkela. Ele era natural da actual Comuna de Kinsimba, Município do Tomboko, em Angola.
Foi o Kinu que – não se sabe como – conseguiu um jornal Salongo que trazia os programas políticos dos três Movimentos de Libertação de Angola, FNLA, MPLA e UNITA, com as fotografias dos respectivos lideres na capa.
Fez muita propaganda a favor da UNITA e ele (Kinu) apelava as pessoas a apoiarem este movimento de base político ovimbundu.
Mas ninguém conhecia a existência da UNITA na luta de Libertação de Angola. Alguns já tinham ouvido falar de Savimbi, mas como Secretário-geral da UPA e Ministro dos Negócios Estrangeiros do GRAE.
No exílio no Congo Democrático ou Zaire, a política não era assunto comum ou banal, contrariamente ao que acontece actualmente em Angola. Ninguém prestava atenção ao que se passava noutras partes do interior do pais onde operava a UNITA.
Duvidava-se mesmo dos anúncios sobre as operações militares do MPLA em Angola, que o carismático locutor e activista politico Manuel Lamvu, fazia nas ondas da Rádio da Revolução Congolesa em Brazzaville.
Ninguém acreditava na existência real das zonas libertadas do MPLA, nomeadamente no Bengo, em Cabinda e Moxico, como pregoava o mbuta-muntu (mais velho) Lamvu.
Cabinda era frente militar do ELNA chefiadas sucessivamente pelos falecidos comandantes João Ngusu, natural da Damba (Angola) e Pedro Kombanlayi, natural do Kiowa, município do Tomboko (Angola).
No Bengo existia a mais famosa base militar operacional do ELNA chamada Koba, dirigida pelo falecido Pedro Monteiro Londres.
Desconhecia-se o Moxico, de ponto de vista das operações militares.
As conversas centravam-se sobre o equilíbrio militar no terreno em Angola e a influência política de cada movimento de libertação, para tentar encontrar qual dos três dirigiria o pais depois da Independência.
Para muitos, a FNLA era o único movimento que lutava para libertar Angola do jugo colonial português. Os outros dois, MPLA e UNITA eram invenções.
O MPLA era considerado como grupo dos Portugueses, seus descendentes mestiços e aliados Kimbundu e a UNITA era inexistente.
Antes das negociações de Alvor, corriam rumores segundo os quais o General António de Spínola queria dar uma Autonomia político-administrativa ah Angola.
Os refugiados Angolanos rejeitavam esta ideia, exigindo uma Independência Total para o país.
Muita expectativa gerou-se em volta de Angola independente, muitos dos angolanos, nomeadamente os refugiados diziam em língua Kikongo que “Ngola ikukulanga owiki ye mamvumina” (Angola que tem o mel e o leite).
Muitos pensavam que com a Independência nacional surgiria o paraíso terrestre em Angola.
Com a euforia de regressar à terra mãe, os refugiados angolanos começaram a vender os seus bens móveis, imóveis, corporais e incorporais. Venderam as lavras, as casas, os carros, e tiraram os filhos das escolas.
Não queriam mais saber de outra coisa, senão regressar já ah Angola. Que ingenuidade!
Os refugiados começaram a chantagear e vingar-se dos zairenses que lhes humilhavam, chamando-os de “ba refugiés kuizaka na makumba na inua” (os refugiados que chegaram com as bocas fechadas a cadeados).
No ex-Zaire, quando morria um refugiado Angolano, os zairenses insurgiam-se dos choros dizendo em língua Kikongo “mbenze kutu vo muntu ofuidi, kinga ko refugie kuandi” (Pensei que faleceu uma pessoa, afinal eh um refugiado).
Os zairenses consideravam o peixe tubarão como “Ngombe ya basolongo” (A carne de vaca dos bassolongo). Musolongo (singular) e Basolongo – lê-se bassolongo – era o nome pejorativo pelo qual eles (zairenses) chamavam os refugiados Angolanos da etnia Kikongo, os outros eram tidos como sendo Bailundu.
Ninguém imaginava que Angola se transformaria num inferno e que todos os diabos incluindo Lúcifer se transfeririam para este país.
É aqui onde a morte, a miséria, a divisão, o empobrecimento e a humilhação lhes esperavam.
Desde o dia 11 de Novembro de 1975, o poder (político e económico) escapou do Angolano genuíno, indígena e autóctone. Angola passou a ser uma propriedade privada dos alógenos (estrangeiros) e pessoas de origens desconhecidas e duvidosas.
Era ingenuidade pensar que Angola independente se transformaria em Paraíso terrestre.
A maioria dos cerca de 600 mil (seiscentos mil) refugiados angolanos que existiam na altura no ex-Zaire – chifra do HCR (Alto Comissariado da ONU para os Refuggiados) - pertenciam ah etnia Kikongo.
Os bakongo constituem a base política da FNLA e são estes antigos refugiados regressados do ex-Zaire os primeiros a serem desiludidos e frustrados. Ao regressarem ah Angola de que tanto choravam foram adjectivados pelo MPLA de serem canibais, comedores de carne humana, de Zairenses, de Retornados ou simplesmente retros, estrangeiros que não falavam a língua Portuguesa, acusados de serem veículos da expansão da autenticidade de Mobutu e da negritude de Senghor, etc.
Fala-se de um médico angolano militante do MPLA que retirava vísceras humanas dos Hospitais e as colocava nas geleiras que se encontravam nas residências abandonadas pelos dirigentes da FNLA expulsos de Luanda pela forca cologada FAPLA-russo-cubana.
As geleiras contendo corações e tripas de pessoas, nomeadamente de crianças eram filmadas pela Televisão angolana que as apresentava em seguida no telejornal como sobra das refeições dos dirigentes da FNLA antropófagos (comedores de pessoas).
E como a FNLA eh considerada como o Movimento ou Partido politico dos Bakongo, toda a pessoa da etnia Kikongo era adjectivada de canibal.
Este discurso que foi público e oficial por parte do MPLA, nunca foi desmentido. Mesmo os membros do MPLA da etnia Kikongo chamavam os seus irmãos bakongo de canibais, zairenses e estrangeiros que não fala(va)m o Português.
Diplomas e Licenciaturas pertencentes aos quadros bakongo regressados do ex-Zaire eram rasgados e queimados por levarem os símbolos do MPR de Mobutu.
Durante as negociações de Alvor com Portugal, dois Movimentos de Libertação de Angola complotavam contra o outro, com o objectivo de excluir o outro das negociações. Os líderes dos dois consideravam os do outro como sendo matumbos, analfabetos que falavam mal o Português.
Por milagre, os Acordos de Alvor foram assinados pelas quatro partes, nomeadamente FNLA, MPLA, UNITA e Portugal.

Em vez de trazer felicidade, a independência de Angola enlutou, entristeceu e empobreceu o Angolano genuíno.

Logo ao regresso ah Angola, a primeira decepção veio da violação dos Acordos de Alvor pelo MPLA que usurpando o poder, expulsou os dois outros Movimentos que lutaram para libertar este país do jugo colonial português, a FNLA e a UNITA.

Apelidou os membros da FNLA que zairenses que comem pessoas e os da UNITA de Bailundos, angolanos de segunda classe.

O MPLA violou os acordos de Alvor e os invasores russo-cubanos em seu apoio deram o golpe de misericórdia na guerra pela usurpação de poder.

Por conseguinte, a 11 de Novembro de 1975, a independência de Angola foi proclamada simultaneamente por Agostinho Neto do MPLA em Luanda, Jonas Malheiro Savimbi da UNITA no Huambo e Holden Roberto da FNLA no Uige.

“Embizi avo ivilua emfua, yakuna ebakilu” (Tudo que começa mal, termina mal) – diz uma sabedoria Kikongo.
Pior ainda, o c
Esta violação dos Acordos de Alvor e usurpação de poder pelo MPLA provocaram guerras civis sangrentas que ceifaram milhares de vidas humanas e destruíram totalmente o país. As referidas guerras civis só terminaram com o assassinato do líder-fundador da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi, a 22 de Abril de 2002 em Moxico, tendo o país conquistado a paz militar.

Contrariamente ao que estava previsto pelos Acordos de Alvor, Portugal não entregou a Independência a ninguém, o seu ultimo Alto Comissario em Angola, General Silva Cardoso, tendo pura e simplesmente abandonado o território angolano regressando a sua terra.

Durante a guerra contra o colonialismo português assim como durante as guerras civis, os três ditos Movimentos de Libertação nacional dizimaram os seus quadros políticos, militares, politico-militares, intelectuais de primeira linha e tantos outros inocentes.
A maioria dos melhores quadros de Angola, os pesos pesados, famosos e elites das etnias angolanas, foram assassinados pelas formações políticas que eles defendiam e promoviam.
Quadros cinco estrelas de primeira geração foram abatidos como cães.
Por simples intriga ou suspeita muitos destes quadros foram executados impiedosamente, sem julgamento.
Seria fastidioso estabelecer-se uma lista das vítimas dos holocaustos angolanos.
A partir de 11 de Novembro de 1975, o MPLA dividiu profundamente os Angolanos, exterminando os que comungam convicções e ideologias diferentes.
O MPLA substituiu a identidade nacional pela filiação ideológica e a paternidade biológica pela partidária. Um companheiro do mesmo partido político vale mais que um irmão biológico de pai e mãe.

Eis alguns exemplos de horrores registados em Angola. O jovem Kinu Eduardo, acima referido morreu na sequência de rebentamento de uma mina anti-pessoal quando regressava de uma caca a Angola, na área da aldeia de Kinga dia Tava, no Município do Noki.

Um jovem estudante em Matemáticas e Físicas de nome João Makonda, natural da aldeia de Kulungu, foi assassinado na fronteira angolana de Kinguvu e Lukala, no Município do Noki, quando por via de corta-mato entrou em Angola onde se encontravam os seus pais para lhes a noticia de fim de estudos.

O jovem diplomado – que era muito entusiasta com a Independência de Angola - foi assassinado a tiro pelos elementos da ODP (Organização de Defesa Popular) do MPLA do Noki, juntamente com três outras pessoas, nomeadamente Garcia Kuka, Hipólito e uma criança filho deste ultimo (Hipólito), todas naturais da aldeia de Santa, Município do Tomboco.

A noticia da sua morte so foi conhecida anos depois, na procedência pensando que os homens chegaram bem ao destino e aqui pensando que estes encontravam-se no ex-Zaire.

Os caçadores de armadilhas que presenciaram escondidamente o seu fuzilamento guardaram o segredo e um destes já faleceu.

Como os viajantes nunca chegaram ao destino, nem regressaram a procedência, surgiram rumores do seu assassinato.

Por outro lado, a “Independência Nacional” empobreceu o Angolano que perdeu as três refeições diárias, a luz, a água, a saúde, a educação e o emprego.

Eh motivo suficiente para questionar se o 11 de Novembro eh data da Independência ou de Luto Nacional?
Há quem defende que em caso de recomeço, ninguém aceitaria mais a ideia da Independência para Angola. E velhos questionam: “quando eh que a Independência terminara?”.

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