sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Novo, mas humilhante

Canal de Opinião
Por: Matias Guente
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Maputo (Canalmoz) – O novo terminal doméstico do Aeroporto Internacional de Maputo tem – transija-se a repetição – muito de novo. As inovações vão desde o edifício em si e as suas funcionalidades que são de orgulhar qualquer moçambicano emocionado.
Questões de qualidade da obra à parte, porque os empreiteiros chineses andam mesmo é mais preocupados com a beleza e a forma. Quando o debate é a durabilidade, preferem, tal como dizia o Prof. Jorge Pedro Sousa, o conforto do anonimato, ou mesmo se chega ao extremo de o Governo deixar-se usar como porta-voz chinês. Provas dessa asserção deverá ser, sem muito esforço, encontrada junto dos funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Centro de Conferências Joaquim Chissano, do primeiro edifício dos próprios aeroportos, são para citar alguns imponentes exemplos, quando chove!
Voltemos ao Aeroporto de Mavalane, mais concretamente a cuidado do seu mais novo edifício. Uma inovação de cunho chinês está a deixar as empresas que alugam instalações nos aeroportos, com os nervos à flor da pele, aliás, com as dores à flor das vértebras. É que as portas de todo o edifício têm a fechadura no canto inferior das portas. Isso mesmo. Ou seja, tal como a imagem testemunha a favor deste parágrafo, as fechaduras estão praticamente no chão. Os sacrificados logicamente não são os donos. São os funcionários que tem por tarefa abrir e trancar as portas. São obrigados a submeterem-se a um exercício, no mínimo, humilhante. As opções para trancar ou abrir as portas são três: todas invariavelmente irreverentes e abraçam de forma eloquente a humilhação e porque não mesmo constituírem-se em uma frente assassina da modernidade e da dignidade humana.
Para abrir ou trancar a porta, o funcionário encarregue da tal tarefa (1) terá de ficar de joelhos e com peito no chão, ou (2) completamente deitado, ou ainda (3) sentar o traseiro total e completamente ao chão para que a chave acerte com a fechadura adentro.
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Para as mulheres o exercício torna-se mais humilhante ainda. Se não derem cabo dos enfeites que a exuberância feminina obriga, são obrigadas a colocarem as suas roupas íntimas em hasta pública para apreciação e competentes comentários e risadas. “Estes chineses são mesmo uma mer**, desabafava uma senhorita deitada ao chão de uma saia que até nem era assim tão diminuta, mas por causa do exercício que a fechadura chinesa propunha, era obrigada a mostrar a roupa interior ao público que estava próximo. “Os chineses pensam que também somos chineses”, dizia um outro jovem sentado ao chão de terno, gravata e juba alinhada, que tentava acertar com a fechadura chinesa. O humilhante exercício repete-se por todo o edifício e os inevitáveis certificados verbais de estupidez chinesa são emitidos pelos funcionários por todo o aeroporto adentro.
É caso para as empresas dobrarem o seguro de vida dos seus funcionários acrescentando-lhes uma rubrica, que dependendo da escolha dos patrões chamar-lhe-emos de “subsídio de vértebras”, de “humilhação” ou de “rastejo ao chão”. Não se entende ali qual é a agenda dos chineses ao colocarem aquelas fechaduras no chão? Todos os manuais de tecnologia têm como abordagem a redução do esforço humano na execução de qualquer tarefa. Mas os nossos “queridos irmãos” chineses estão a navegar em sentido contrário, pelo menos na obra dos Aeroportos de Moçambique. E os funcionários estão a pagar pelo “xibantismo chines” implantado ali no “modernizado Mavalane”. Talvez seja a forma mais light encontrada pelos chineses de humilhar os moçambicanos, já que até bofetadas e pontapés já servem a caldeirada fria aos coitados dos trabalhadores moçambicanos nas suas empreitadas com o visto do Ministério do Trabalho. A ver vamos: hoje são os moçambicanos necessitados que servem de tapete para os chineses. Não nos vamos admirar que amanhã o Conselho de Ministros esteja a lavar louça na residência do embaixador chinês em nome da brilhante cooperação sino-Moçambique. Mas em todo caso deixo este protesto, vamos chamá-lo de “protesto de construção civil” como sinal da nossa profunda ignorância em relação a matérias sensíveis e complicadas como a colocação de portas em aeroportos internacionais sino-moçambicanos, dando palavra aos especialistas na meteria para que emitam um juízo com mais propriedade. Um abraço patriótico do tamanho deste vasto Moçambique aos funcionários das empresas que arrendam instalações no Aeroporto de Mavalane. (Matias Guente)

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