domingo, 18 de novembro de 2012

Moçambique não pode continuar a sofrer por egocentrismos e agendas sinistras de uma clique…

 

Por: Noé Nhantumbo
Ninguém “enche” a barriga com uma “dose de Unidade Nacional”. Quando alguns pensam e acreditam que os moçambicanos não são sofisticados o suficiente, para perceberem os contornos da ininterrupta campanha pela “Unidade Nacional”, enganam-se redondamente, pois já é claro para todos o logro em que se configura toda uma movimentação de políticos do partido no poder. Enquanto uns dormem na “Unidade Nacional” outros vão aumentando suas contas bancárias…
Quem supunha que os moçambicanos não conseguiriam evoluir e crescer no que se refere ao seu entendimento em relação às motivações políticas dos actores e demais forças presentes no terreno enganou-se redondamente.
Revelam-se cada vez mais vozes clamando por novos entendimentos na arena política moçambicana.
Os golpes baixos que se acumularam ao longo do tempo, antes e depois do famoso AGP (Acordo Geral de Paz) de Roma (1992), esgotaram a sua utilidade e mostram agora a sua insustentabilidade entanto que formas de solucionar os diferendos patentes.
Algumas das accões ou omissões ocorridas no percurso foram resultado de avaliações que agora se revelam oportunistas e descabidas se atendermos que os objectivos eram construir as bases para o estabelecimento de uma paz e estabilidade duradouras.
Parece que desde os primeiros dias as negociações entre os ex-beligerantes terão sido concebidas e realizadas com má-fé.
Torna-se cada vez mais claro que em Moçambique sofre-se constantemente de convulsões derivadas de posições que não se coadunam com os reais interesses da maioria dos cidadãos.
Os protagonistas da acção política estão se mostrando extremamente atrasados em entenderem e compreenderem que suas agendas privadas estão declaradamente em choque permanente com os interesses de seus concidadãos.
Um país com recursos naturais de nomeada, uma população relativamente diminuta não deveria estar sofrendo de taxas altíssimas e desconhecidas de desemprego, escassez de serviços sociais e de saúde, pobreza e indigência generalizadas.
Cada vez fica mais claro que mesmo trocando de líderes alguns partidos estão presos a um conjunto de procedimentos que denotam falta de frescura ideológica. Para eles só vale e deve ser instituído o que signifique a continuação da monopolização da acção política e governamental.
Pertença ao governo parece ser o objectivo em si e nada mais importa do que assegurar que isso aconteça.
Já não se faz o marketing da ideologia que pereceu ao longo do percurso político moçambicano. Socialismos, comunismos efémeros, maoismos de má recordação, fachadas de liberalismo e demais emaranhados ideológicos foram se desmontando de maneira quase invisível mas permanente. Os moçambicanos quase que generalizadamente em estado de “analfabetismo político”, na realidade pouco informados, jamais se assumiram segundo os rótulos ou catálogos que os políticos procuram impor. Mas isso não significa que eles não sentissem na carne e na pele os sofrimentos que os desarranjos e inépcia governativa provocavam.
Quem vivia imbuído em teorias políticas de consistência duvidosa também se deu conta de que alguma coisa não estava correcta. A tristemente famosa escola Patrice Lumumba na ex-URSS produziu alguns “cordeiros e carneiros” entre os moçambicanos.
Comissários políticos de diferentes escolas e tendências espalharam-se pelas cidades moçambicanas e procuraram a custa da imposição fazer funcionar unidades económicas. Isso falhou porque não possuíam os rudimentos de gestão. Outra coisa que rapidamente os proclamadores da Independência impuseram aos moçambicanos foi a “Unidade Nacional”. Numa fórmula que se pretendia infalível como forma de dominar mentes e vontades viu-se solidificada uma maneira de conduzir os assuntos nacionais de maneira cada vez mais frívola, ou seja leviana.
O povo, os cidadãos, eram uma massa amorfa sem vontade própria que deveria ser alegadamente guiada para a construção do país segundo os pontos de vista de supostos eleitos.
Uma pacotilha de mentiras de dogmas estranhos a todo um povo tornou-se na única ideologia aceite e professada. Aqueles que foram apanhados ao longo dos anos comungando de pontos de vista diferentes foram habilmente catalogados de hereges e exemplarmente punidos.
Só que por maior que seja a carga de opressão e repressão, os cidadãos rebelam-se e encetam manifestações reais de resistência e desobediência.
Se as utopias ideológicas que os “libertadores” queriam impor falharam isso foi doloroso e conseguido através de uma batalha sem quartel; chamada por uns de guerra de desestabilização e por outros de guerra civil, a verdade manda dizer que só após 16 anos de combates apoiados por parceiros externos de filosofias diferentes, é que os moçambicanos se sentaram e assinaram um acordo para terminar com as hostilidades militares.
Num processo complexo que significou cedências de parte a parte chegou-se por algum tempo a acreditar que os moçambicanos desavindos haviam assumido a necessidade de abertura, diálogo e convivência baseada no respeito escrupuloso dos outros.
Mas logo se tornou claro e evidente que as partes jogavam sujo ou que objectivos de dominação, sinistros, continuavam no arsenal de alguns.
Quando afirmarmos que as hesitações políticas evidenciam fraquezas sistemáticas não é mais do que reconhecer que as escolhas das lideranças políticas vão mais no sentido de produzir confrontações do que construir plataformas de entendimento e de convivência pacífica em prol do desenvolvimento nacional.
Posturas que mostram relutância em aceitar a necessidade de compartilhar o país tornaram políticas eleitas por quem governa.
Batem na tecla da “Unidade Nacional” como se fosse a fórmula resolvente dos problemas do país e dos moçambicanos mas, na verdade, o que fazem é uma açambarcamento feroz e selvagem dos recursos nacionais, de maneira assimétrica e violenta.
Quem se monta no poder através de esquemas institucionais implantados à custa da monopolização política decerto que não pretende promover a democracia política.
Afinal o AGP assinado aparentemente de boa-fé terá sido uma forma efectiva de adiar uma derrota no terreno militar, evitar a desagregação geográfica de um país e continuar no poder fortalecendo posições através das possibilidades que estar no governo vem oferecendo.
Algum atraso por parte dos adversários políticos em entenderem o que estava em jogo e quais as motivações do partido no poder, terão alavancado suas posições e se tornado na base utilizada para a construção de sua estratégia política.
Só que “mais vale tarde do que nunca”.
A crise actual que o Executivo e seu partido não querem reconhecer como real e resultantes de reclamações legítimas, está acontecendo numa altura crucial do processo de desenvolvimento da democracia em Moçambique.
Embrulhadas nas reivindicações do outro signatário do AGP estão outras questões que toda uma sociedade suporta e quer ver solucionadas.
Questões militares, de segurança, estão claramente misturadas com assuntos políticos fundamentais como o Pacote Eleitoral. Quem já se supunha beneficiário em exclusivo dos recursos naturais através de joint-ventures com megaprojectos e pagamentos secretos ilícitos “acorda” com os outros concidadãos exigindo a sua quota-parte em tudo o que sejam recursos nacionais públicos.
Do que parecia simplesmente uma reivindicação partidária está ficando cada vez mais claro que o assunto ultrapassa a esfera partidária e envolve neste momento confissões religiosas nomeadamente a Igreja Católica, organizações da sociedade civil, académicos, jornalistas e outros comunicadores sociais. É todo um povo dizendo, mesmo que em surdina, que as coisas não estão correndo bem.
Há evidentemente uma contracorrente liderada por figuras do partido no poder que aparecem em público repetindo slogans esfarrapados sobre a Unidade Nacional.
Ninguém “enche” a barriga com uma “dose de Unidade Nacional”.
Quando alguns pensam e acreditam que os moçambicanos não são sofisticados o suficiente, para perceberem os contornos da ininterrupta campanha pela “Unidade Nacional” enganam-se redondamente pois já é claro para todos o logro em que se configura toda uma movimentação de políticos do partido no poder.
Enquanto uns dormem na “Unidade Nacional” outros vão aumentando suas contas bancárias. Numa ofensiva cirúrgica de identificação de actores políticos que podem servir de cobertura e “capa” para sustentar que estão promovendo a Unidade Nacional, alguns “gatos-pingados”, especialmente do sexo feminino, vemos escolhas feitas se demonstrando caricatas pelo seu conteúdo.
Não importa a mediocridade discursiva nem a sua pobreza mas, sim, a repetição em si, do que os altos escalões do partido considerem orientação a seguir.
Só desse modo se pode entender o que “vomitam” figuras como Margarida Talapa e outras Conceitas Sortane quando se referem as reclamações da oposição política moçambicana e a uma pretensa validade da tese da Unidade Nacional.
Quando alguém diz e é anunciado na comunicação social que sempre houve condições para o diálogo deve estar brincando com as palavras e com o entendimento dos cidadãos.
Agora se torna evidente a razão e motivação das chamadas “marchas da paz” organizadas e lideradas por certos sectores da comunicação social moçambicana. Investimentos mediáticos para a produção de livros elogiosos suportados por uma empresa da comunicação social como a SOICO, revelam o grau de penetração que o partido Frelimo possui neste sector. Já não é só a comunicação pública que alinha pelo diapasão do partido “vermelho”.
Querem uma paz que os favoreça na continuação do saque dos recursos públicos em regime de exclusividade. Isso é que a sociedade civil moçambicana digna desse nome deve denunciar. Isso é que deve constituir matéria de debate parlamentar.
Essa é a matéria-prima para os partidos políticos da oposição.
Quem se faz eleger governo, sucessivamente por meio de artifícios ilícitos, não deve merecer a confiança dos moçambicanos como interlocutor válido para a solução dos problemas de hoje.
Joseph Stiglitz, famoso economista, recentemente, disse ao New York Times que temos um “país rico com povo pobre”. “Tem-se milhões de dólares fluindo para dentro de países como Moçambique mas não há criação real de emprego e não há desenvolvimento sustentável”.
Sem uma confrontação real e séria dos assuntos que preocupam os moçambicanos, o fim será vermos uma nova guerra civil rebentando, desta vez por causas eminentemente económicas e sustentadas por um ordenamento político incongruente e antidemocracia.
Moçambique não pode continuar a ser “mansões, piscinas, golfe, whisky de 20 anos, contas bancárias rebentando pelas costuras, poder discricionário para uma ínfima minoria” e nem saber o que será para o almoço e jantar para a maioria esmagadora.
Esta é a equação que os políticos devem responsavelmente resolver sem demagogias e embustes…
Canal de Moçambique – 14.11.2012

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