sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Islamismo assalta o poder a Norte do continente Africano

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Africa-radicais-mapaO poder a norte do continente africano, sacudido pela chamada “Primavera árabe”, foi tomado de assalto pela religião islâmica, estando actualmente refém de uma série de perigos que colocam mesmo em causa a própria essência democrática.
Curiosamente essa corrente islâmica que actualmente domina o poder dos países a norte do continente africano beneficiou, para atingir este desiderato, do forte apoio das grandes potências ocidentais que durante décadas mantiveram e sustentaram regimes que, obedecendo as “regras do jogo”, tudo fizeram para impedir que a religião mandasse na política, pagando por essa “intransigência”o preço da sua própria decapitação.
A actual situação do Egipto caracteriza, na perfeição, aquilo que se passa na Tunísia e na Líbia. O governo argelino conseguiu perceber o que se passava e soube adaptar-se as novas circunstâncias e Marrocos beneficiou do facto do rei, apesar de contestado nas ruas, ser uma figura politicamente correcta, tendo-lhe bastado aprovar uma Constituição que o ocidente considerou “aceitável”.
Mas é no Egipto que está o centro de todas as grandes movimentações que beneficiam os interesses ocidentais na região, não propriamente no que se refere ao norte de África mas, concretamente, em relação ao Médio Oriente. Durante o regime de Hosni Mubarak o Egipto, a grande potência económica e militar da região, tinha em relação ao Médio Oriente uma posição que nem sempre favorecia os interesses estratégicos dos seus mentores, sobretudo dos Estados Unidos.
Não terá sido por um mero acaso que o presidente Barack Obama escolheu a Universidade do Cairo para proferir o seu primeiro grande discurso que tinha como destinatários os países da região.
Para os Estados Unidos o Egipto era o seu principal aliado na região e, por isso, recebia uma generosa ajuda financeira destinada a melhorar o funcionamento prático das suas forças armadas.
Porém, o regime de Hosni Mubarak mantinha com os países vizinhos árabes um tipo de relacionamento não alinhado com os Estados Unidos. Por isso, demasiado independente para quem beneficiava de uma ajuda privilegiada e imprescindível para o seu próprio bom funcionamento.
Depois de várias advertências por si ignoradas, Hosni Mubarak acabaria por cair perante o interesse que o ocidente tinha de colocar no poder um regime mais cooperante e compreensivo para com as suas “necessidades”.
Depois de falhada que foi a experiência de ter no poder um regime militar que nunca teve a simpatia da população, precisamente pelo facto dos seus principais líderes terem servido anos a fio o anterior regime, foi chegada a vez de dar lugar a uma nova tentativa: conjugar a força religiosa com o poder político. Para evitar maiores dissabores, o ocidente sentiu a necessidade de promover uma liderança política baseada na religião, mas que desse a garantia de que seria “cooperante” e aplicaria aquilo que melhor servisse os interesses da “paz” e da “democracia”. Com esse objectivo, a nível de toda a região do norte do continente africano, começaram a ser promovidos membros dos Irmãos Muçulmanos, uma confraria islâmica não radical e entre a qual numerosos clérigos se licenciaram na Europa e nos Estados Unidos.
Para um país da grandeza do Egipto e no qual estavam depositadas as grandes esperanças políticas a escolha teve de ser feita com um maior rigor.
Mohammed-Mursi-egiptoDos seus arquivos, não tão secretos como se pode pensar, saiu então o nome de Mohamed Morsi (imagem ao lado), um ilustre desconhecido da maioria dos egípcios, com um curto passado pelas masmorras da polícia secreta de Hosni Mubarak, mas que tem a “grande virtude” de se ter licenciado numa universidade dos Estados Unidos.
Depois de ter vencido tangencialmente o candidato do anterior regime, Morsi tratou de dar início a agenda para a qual foi escolhido como candidato eleito, aplicando uma série de decretos que anulavam algumas decisões que os militares haviam tomado durante o período em que estiveram ao leme do poder.
Mas foi na definição da política externa do país que Mohamed Morsi mais se esmerou na correcção daquilo que vinha sendo a estratégia do anterior regime e que tão caro lhe custou.
De uma assentada, Mohamed Morsi reafirmou o cumprimento dos acordos comerciais e políticos que haviam sido estabelecidos com Israel - e que os militares haviam suspendido - alterou aquilo que era a linha estratégia do Egipto em relação aos seus vizinhos árabes ao mesmo tempo que deixou cair o seu empenhamento no reforço das relações com os outros países africanos. No seu discurso na última Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente Morsi enfureceu alguns dos anteriores aliados do Egipto ao proferir um discurso de completo alinhamento com o ocidente no que respeita ao actual conflito na Síria e que motivou que os representantes deste país no referido evento tivessem que abandonar a sala.
Aquilo que o ocidente fez ao impor novas lideranças no norte de África acaba por se traduzir em privar o continente negro de, pelo menos, três dos seus mais importantes países, Egipto, Tunísia e Líbia, entregando-os de mão beijada ao conturbado mundo árabe, onde correm sérios riscos de divisão religiosa.
Por Roger Godwin

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