segunda-feira, 12 de novembro de 2012

"Eu quero os meus heróis"

25/08/2010

Em: http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/08/eu-quero-os-meus-her%C3%B3is.html

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GENESMACUA de: Sebastião Cardoso
 
 
Gungunhana01 Eu quero os meus heróis. Gungunhana, era neto de Soshangane, um general zulu que se revoltou contra o Imperador Tchaka.

Derrotado por este, em 1819, foge com o seu exército para Moçambique, subjugando, submetendo e absorvendo numerosos povos especialmente na área costeira desde o Limpopo ate ao Save, fundando, assim, o Império de Gaza. Humilhou, varias vezes, os portugueses, conquistando Lourenço Marques e Inhambane. A questão aqui é: Soshangane pode ser considerado uma figura da nossa Historia com que papel? Invasor zulu ou fundador machangane? Morre em 1858, sucedendo-lhe Muzila.
Vou saltar Muzila e escrever um pouco sobre o neto, Gungunhana, cuja fama ultrapassou fronteiras.
Após a morte de seu pai, em 1884, não sendo ele o legitimo herdeiro, assassina o seu irmão e obriga os outros dois a fugirem para o exílio.
Um fratricida no poder...arrepiante mas, nenhuma novidade na História do mundo.
Iniciam-se, 10 anos de terror, especialmente entre as populações. Até hoje, estranhamente, até os maronga e matswa partilham ressentimentos e, dificilmente, se identificam com os machanganes. Porque com as duas potencias estrangeiras interessadas na região, Gungu ia fazendo acordos, que nunca cumpria. Os portugueses davam-lhe aguardente e os ingleses libras de ouro.
Existem registos de algumas batalhas contra os portugueses, sempre com o heróico povo maronga na linha da frente, mas o balanço é francamente negativo, contrariamente ao seu avô. Chegou a ser nomeado Coronel do exercito português, recebeu a farda e uma bandeira!!! Pouco tempo depois, queimou estes dois símbolos de submissão, invocando que passavam doenças venéreas as suas mulheres.
Hilariante.
Jogando com um pau de dois bicos, ora juntava-se aos portugueses, ora juntava-se aos ingleses e manteve-se no poder até 1895.
E' abandonado pelos ingleses, cansados das suas qualidades camaleonicas e as atitudes de alcoólatra teem como consequência um exército completamente fragmentado, esfomeado e desmotivado.
Chegando esta oportunidade, os portugueses, comandados por Mouzinho de
Albuquerque ( o que levou tareia em Nampula) marcham em sua perseguição e
capturam-no à mão, em Chaimite, local sagrado onde seu avô estava sepultado.
É exibido em Lourenço Marques como troféu às populações, num acto politico de
vitoria.
Dão-lhe o estatuto de prisioneiro politico, enviam-no para Lisboa com as suas 7 mulheres e um cozinheiro. Ali, é, novamente exibido em público com a mesma finalidade política. O Leão de Gaza, está horrorizado. Chora, manda-se para o chão, promete o que já não tem: ouro, marfim, escravos, mulheres e terra em troca da sua liberdade. Nesta altura, encontrava-se debilitado e foi tratado num hospital de Belém com regalias de oficial.
Não sabia que o seu futuro, até nem seria muito mau.
É enviado, em Junho de 1896, para as paradisíacas ilhas dos Açores, sem as 7
mulheres, devido a intolerância pela poligamia, mas com o seu cozinheiro e dois companheiros que sempre se portaram com dignidade. Com ordens bastante terminantes de ser absolutamente respeitado, vive com uma reforma de oficial, em crescente liberdade, alimenta-se a base de carnes e embriaga-se regularmente com vinhos do Porto e da Madeira, visita semanalmente o bordel da cidade, caca coelhos no monte Brasil e como hobby faz cestos de palha que vende a população local. Passados 10 anos, em 1906, morre alcoolizado, alfabetizado e baptizado com o nome de Roberto Frederico Gungunhana.
Se fosse possível, hoje, teria a curiosidade de lhe perguntar:
- Beto, o que gostaste mais? Os 10 anos de Leão de Gaza ou os 10 anos nos Açores?
A saga de Gungunhana ainda envolve um último acto. Num acordo entre Machel e
Ramalho Eanes, uma urna contendo areia do local onde foi sepultado, com o peso de 225 kgs é trasladada para Maputo.
Em Junho de 1985, 79 anos após a sua morte, o Leão de Gaza ou Roberto Frederico Gungunhana, não sei, é recebido em Maputo com honrosas cerimonias de herói nacional e consegue, finalmente, a proeza de entrar na Fortaleza da ex. Lourenço Marques, tendo como companhia a estátua do homem que o apanhou à mão, Mouzinho Albuquerque!!!
Eu quero os meus heróis.
Há sete instituições de ensino superior em Nampula!!! Não há nenhum departamento que pesquise e investigue História?!
Por favor, dêem-me os meus heróis.
WAMPHULA FAX – 25.08.2010

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