quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Dia “D” dia do Diabo e “Deus” agiota

 

by Lazaro Mauricio Bamo on Monday, 26 September 2011 at 12:35 ·
Hoje é o famoso dia “D”, o tão esperado dia pelos crentes da Igreja Universal do Reino de Deus. Os crentes, a esta altura que escrevo este texto, estão concentrados em alguns campos de futebol da cidade e província de Maputo, a busca da fé e milagres. Muitos deles senão todos, são movidos pelas necessidades diversas e ali está a esperança de curar estas insuficiências.

Sempre acreditei que a coesão social das nossas comunidades è assegurada por um leque de crenças, que com a chegada do colono foram sendo absorvidas. O povo africano no geral e moçambicano em particular, sempre adorou seus deuses, o que pelo menos lhe garantia que sua vida estava directamente ligada a algo superior. Se formos a revisitar a nossa história, veremos que os rituais dos nossos povos foram sempre a solução para fome, seca, pandemias, guerras mas hoje é tudo visto como algo estranho. A minha questão é: até que ponto a distanciação do moçambicano com as suas tradições pode concorrer para a sua imoralidade e vulnerabilidade aos dias “D” e “M”?
Na minha óptica, a partir do momento em que, mergulhados no modernismo, começamos a assumir cegamente os argumentos pro-religiões convencionais, caímos no erro de que os seguidores das religiões tradicionais, nossos antepassados na sua maioria, não possuíam valores morais aceitáveis. Digo isto porque a religião é o garante da moralidade de um povo.
Muitas são as religiões que nascem a cada dia que passa, como resultado de frustração e/ou ganância de alguns crentes. O resultado é que assistimos cenários em que na busca do protagonismo, alguns religiosos ao invés da palavra de Deus, passam o tempo a atacar as outras religiões. Já ouvi por exemplo testemunhos de pessoas a dizer que durante muito tempo, eram apoquentadas por doenças, até tomaram banho de sangue mas não houve solução, só depois de conhecer o Deus daquela religião é que libertaram-se das enfermidades. Ora bem, se analisarmos bem este argumento, podemos ver que não é milagre de Deus que é enaltecido mas sim o nome daquela Igreja. A pergunta é que estará por detrás desta publicidade? Angariação de crentes? Demonstração do poder e Milagres Divinos?

Já assisti cenários em que um pastor convidava os crentes a desafiarem Deus com valores monetários. Para quê? Critica-se o facto de em alguns momentos sacrificarmos algumas espécies animais para entregar aos nossos antepassados, mas somos obrigados a sacrificar valores monetários que não temos em troca de bênção. O tempo passa o debate é que os que estão do outro lado estão perdidos. Só queria apelar para a questão do perigo oposto.

Isto tudo é o reflexo do capitalismo religioso selvagem que tomou as igrejas e confissões religiosas que chegaram ao ponto de designar momentos de orações especiais em prestação de serviços. As pessoas compram milagres, quem mais tira mais recebe e quem menos tira menos recebe, é exactamente isso que faz com que os pobres vendam o pouco que tem para dar mais a igreja e por conseguinte receber a recompensa de Deus. Acho eu que aquele deus daquela igreja é um agiota, cheio de dinheiro que passa a vida a aldrabar crentes. Ele dá dinheiro emprestado com garantias e cobra com juros, quem não paga continua na miséria como estão muitos. Esta distribuição de fé e milagres, que não é gratuita, acaba tirando a divindade dos actos religiosos, que era suposto serem a base de todo trabalho espiritual de qualquer igreja.

Aquele deus ali, é sim quanto a mim injusto pois só dá a quem tem, nós que estamos no zero não estamos contemplados neste banquete de milagres. A impunidade destas religiões é que faz com que elas desafiem a moral do nosso estado e abalem as emoções das pessoas. Quantas confissões religiosas existem em Moçambique hoje? Qual é o seu mandato? Se a moral actual está em crise ou é caracterizada por paradoxos, o que tem estado a fazer estas igrejas plantadas e implantadas em cada esquina desta cidade? O estado é laico sim mas devia procurar regular melhor esta questão.

Do dia “D” espero a consolidação da hegemonia daquela religião urbana, cujo foco é a minoria e seus problemas. Os midias foram tomados e estão a ser guiados (sobrevivência) e estão a ajudar na massificação da ideologia daquele deus agiota.

Mas também fico triste com a diabolização dos nomes tradicionais, os espíritos que se manifestam dos nossos irmãos convertidos pela imoralidade, são chamados de nomes como Theiasse, Muzima, por exemplo. Se por ironia do destino este tipo de religiões nos aculturar, adeus aos nossos sobrenomes e apelidos. Será está uma colonização Religiosa? Leio a história de Moçambique e o que noto é que os assimilados tinham hábitos do colono, se formos a ver os nossos pastores, já não são moçambicanos e jamais serão aquilo que agora pensam que são. São pessoas sem identidade. No final de contas vamos ver que são os catalisadores da imoralidade das religiões convencionais.
Temos também algumas religiões tradicionais fantoches, tem vindo a se aproveitar da nossa ingenuidade e falta de orientação. A cada dia que passa vejo placas publicitárias a falarem de médicos tradicionais que vem de longe, que curam tudo menos a pobreza que lhes apoquenta. Esses sim são outros, que vestindo nossa máscara vão vivendo às custas da nossa desgraça. Estes e aqueles pais dos milagres, correntes e tapetes, deviam ser julgados pela nossa racionalidade.

Para mim hoje é dia do Diabo pois ele vai usando nome de Deus para tomar as pessoas que na inocência estão entulhados em estádios para vender milagres e comprar a fé, algo gratuito que só a graça divina pode dar. Todos nós, enquanto filhos de Deus temos legitimidade para falar directamente com Deus sem intermediários, não precisamos de deus daqui ou dali, mas de Deus.

PS1: Você consegue ver – sim pastor consigo e nunca vi na minha vida mas agora vejo a sua camisa vermelh.(risos)
PS2: Digam a esse deus agiota que eu não tenho taco e já estou cheio de dividas não quero me individar mais

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