sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Brasil quer replicar sua experiência em Moçambique


Luiz Inácio Lula da Silva
As anteriores dificuldades do Brasil são muito semelhantes às de Moçambique.
Para a nossa sorte, esta semana, o antigo presidente do país sul-americano, Luiz Inácio Lula da Silva, veio, mais uma vez, a Moçambique e deixou importantes lições sobre como a miséria e a fome podem ser eliminadas. Solidariedade para com os pobres é a palavra de ordem.
As dificuldades de que os moçambicanos se queixam, hoje, foram os desafios que os brasileiros enfrentaram até se tornarem uma das economias mais poderosas do mundo. Basta olhar para as medidas que tomaram para erradicar a fome e a miséria, para entender a “radiografia” que o presidente Lula veio tirar da actual situação socioeconómica de Moçambique.
Em oito anos, durante o governo de Lula, entre 2003 a 2011, os brasileiros avançaram para o reajustamento do salário mínimo acima da inflação; estimularam o acesso ao crédito com baixas taxas de juro no mercado financeiro; aumentaram o investimento na agricultura; introduziram programas de erradicação da fome e desnutrição crónica (fome zero e bolsa família); investiram na expansão de habitação a custos baixos; expandiram o acesso à energia eléctrica; expandiram o acesso ao ensino superior.
Todos estes pontos constituem as maiores fragilidades de Moçambique. Esta semana, o país teve a oportunidade de ouvir a experiência do presidente que liderou a viragem do panorama socioeconómico do Brasil. Luiz Inácio Lula da Silva, veio acompanhado de líderes de grandes empresas, casos da Electrobras, Petrobras, Camargo Corrêa, Vale, entre outras, que manifestaram interesse em replicar, com o empresariado nacional, a experiência do seu país em Moçambique.
Investir na agricultura
O antigo estadista brasileiro aconselha Moçambique a procurar auto-suficiência na produção de alimentos, através da aposta na produção agrícola. “Não podemos continuar com o discurso da cultura de subsistência. Precisamos de levar para o campo a tecnologia, fazer as pessoas produzirem mais por hectare, para permitir que vendam mais, consumam mais e produzam ainda mais”.
Para Lula, “isso está, obviamente, ligado a uma forte política de investimento na formação e na qualificação do povo de Moçambique, porque isso também conta para a atracção de investimentos de qualquer país do mundo”.
Para avançar com acções concretas, “a gente pode, com a ajuda da tecnologia brasileira, com a experiência de uma empresa como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), ajudar Moçambique e vários países africanos a adquirir uma capacidade produtiva para suprir parte das necessidades alimentares”, assegurou Lula, para quem “o problema da fome não é falta de alimentos. É mais falta de dinheiro do que de alimentos”.
O Brasil já apoia a agricultura moçambicana, através do programa Pro-Savana, no corredor de Nacala, terras semelhantes ao cerrado brasileiro, com grande potencial de produção de alimentos.
O papel do governo e do empresariado
“Não é orgulho para nenhum moçambicano nem para nenhum brasileiro abrir a porta de casa ou do carro e ver que há alguém que passa fome, que procura algo para comer no lixo. Esse consumidor não interessa a nenhum empresário, porque ele não é consumidor. É aí onde entra a responsabilidade do empresariado. O empresário deve saber que quanto mais os pobres ganham, mais a empresa vai crescer”, disse Lula, que considera o consumo o factor-chave para dinamizar a produção.
O antigo presidente do Brasil defende, ainda, que os orçamentos gerais e das empresas devem contemplar parte destinada aos mais pobres. “O que é importante é todos os dias a gente pensar qual será a parte do pobre no orçamento do país. Qual será a parte das pessoas mais pobres no orçamento de cada empresa. Porque se a gente não pensar assim, vai perceber que quem tem condições de viver, continuará a sobreviver”, aconselha.
Com efeito, no Brasil, durante oito anos, a massa salarial cresceu mais. Pela primeira vez, os pobres cresceram mais que os ricos, ou seja, em oito anos, os salários cresceram 577% mais do que os dos ricos, sem que estes tenham ficado mais pobres. “Os pobres tiveram uma ascensão e, quando assim é, tudo melhora. Isso vale para o Brasil, para Moçambique, Angola e qualquer país do mundo” explicou.
Não à dependência
Lula avançou que à semelhança do Brasil, os países devem lutar pela independência económica em relação aos países desenvolvidos, particularmente os Estados Unidos. O antigo presidente do Brasil considera que a dependência retarda o desenvolvimento dos mais pobres.
“O Brasil, como Moçambique e todos os demais países pobres e em desenvolvimento, ficava sempre na expectativa que os Estados Unidos e a Europa pudessem fazer o que nós mesmos teríamos que fazer. Ou seja, muitas vezes, nós ficávamos dependentes de que alguém no mundo desenvolvido viesse fazer os investimentos necessários ou viesse dar-nos aquilo que faltava”, comentou.
“Para o caso de Moçambique, que tem cerca de 40% do orçamento financiado por doações dos países desenvolvidos, sobretudo da Europa, isso faz com que o país tenha menos mobilidade do que um país cujo orçamento não depende de doações”, referiu Lula, acrescentando que “ao invés de vermos isso como um problema, temos que encarar isso como um desafio e começar a discutir a lógica para que o país tenha o seu orçamento próprio a partir da sua realidade, da sua capacidade produtiva, da sua capacidade de pensar e de estudar”.
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