terça-feira, 6 de novembro de 2012

Barack Obama chega às urnas com vantagem sobre Romney, assegura pesquisador | Jornal Correio do Brasil

2

O candidato republicano, Mitt Romney, votou em Belmont, Massachusetts, acompanhado de sua mulher, Ann. A pequena cidade de 24 mil habitantes foi onde o casal se instalou em 1971
Na última avaliação do comportamento eleitoral dos norte-americanos, Barack Obama deverá receber o voto de 303 delegados e Mitt Romney de 235, conforme os cálculos do jornalista John Cassidy, da revista The New Yorker. Para vencer a disputa, o candidato à presidência precisa ter o voto de 270 delegados. Conforme Cassidy, as últimas pesquisas mostraram um pequeno e “notável” balanço em favor de Obama, que lidera em sete dos oito Estados decisivos.
Depois de uma campanha intensa e de pesquisas de intenção de votos que sugeriam o empate técnico, as eleições dos Estados Unidos ocorreram nesta terça-feira, polarizada entre Obama (democrata) e Mitt Romney (republicano). Ambos divergem nos principais temas em discussão no país: economia, política interna e externa, questões sociais. O resultado das eleições não será divulgado nas próximas horas, pois depende de cada um dos 51 colégios eleitorais, mas a contagem dos votos e os resultados das pesquisas de boca-de-urna já terão apontado, na manhã desta quarta-feira, o próximo presidente dos EUA. Em 17 de dezembro deste ano, os colégios eleitorais vão se reunir na capital de cada Estado e na capital do país, Washington, para formalizar a eleição do candidato vitorioso.
Obama defende o estímulo econômico direto por parte do governo, investindo na formação profissional e infraestrutura de transportes, telecomunicações e tecnologias. Do seu plano especial para a geração de emprego American Jobs Act, apenas parte dos benefícios fiscais destinados aos trabalhadores foi aprovada pelo Parlamento. As categorias profissionais apelam por mais financiamento federal para os Estados, assim como insistem na contratação de professores pelas escolas municipais. Romney defende a adoção do Plano de Cinco Pontos que se baseia na redução de tarifas e impostos para os empresários e na regulação para o setor.
Romney é contra as medidas de estímulo de curto prazo, pois disse que elas levam ao endividamento e à intervenção do governo no mercado de habitação. Por sua vez, Obama propõe a extensão por um ano dos cortes de impostos, excluindo os grandes contribuintes. A principal proposta do candidato republicano é reduzir em 20% as taxas, compensadas pela eliminação de deduções e créditos fiscais.
Durante a campanha, Obama disse que pretende reduzir a despesa do governo federal de 24% do Produto Interno Bruto (PIB) para 22,5%, diminuindo o déficit das contas públicas para 3%, sobretudo em despesas com a área de defesa. Para o presidente, é fundamental também mudar o sistema de segurança social. A reforma do sistema de saúde pública, destinado aos aposentados, levou o presidente ao desgaste nos últimos meses e divide opiniões. Romney é favorável a elevar em mais dois anos a idade para a aposentadoria de 67 anos. O objetivo do republicano é reduzir os gastos públicos.
Depois de ver frustrada sua meta de mudar o sistema de imigração, prometida em 2008, Obama promete empenhar-se para, por exemplo, legalizar os trabalhadores estrangeiros que estão no país. Em sua gestão, houve um número recorde de informações sobre imigrantes ilegais, mas uma redução na quantidade de jovens levados ilegalmente para o país pelos pais. Romney tem um discurso antagônico, assumindo uma posição crítica em relação aos imigrantes ilegais e recomendando a deportação voluntária para os países de origem. Também disse ser favorável a montar uma estrutura capaz de fechar a fronteira entre os Estados Unidos e o México.
Em relação à política externa, Obama promete retirar até o final de 2014 as tropas norte-americanas do Afeganistão. Romney considera Obama brando em relação ao Oriente Médio, à China e à Rússia, assim como ao Irã.
Primeira-dama
Michelle Obama, 48 anos, primeira-dama norte-americana negra, “mãe-em-chefe”, como se autoproclama, e campeã da luta contra a obesidade, é um trunfo importante para o marido presidente, que perde para ela em popularidade. No início, reticente em se instalar na Casa Branca, Michelle Obama gradualmente, com cada vez mais entusiasmo e sucesso, abraçou definitivamente a função de primeira-dama do país. Hoje, ela é um dos principais pontos fortes de Barack Obama, no momento em que o presidente democrata busca a reeleição.
Com seus 1,80 de altura quase tão alta quanto o marido (1,85m) Michelle é carismática e sabe “ser eficaz no uso de sua função, na utilização de suas palavras, tentando fazer a diferença nos setores que investiu”, explica Anita McBride, ex-secretária-geral de Laura Bush, esposa de George W. Bush, que leciona na American University de Washington.
A presença de Michelle Obama se tornou necessária na corrida eleitoral tanto é que a primeira-dama viajou, nos últimos cinco meses, 95 vezes. Ela fala sobre o marido, que precisa de “mais quatro anos”, de valores e dificuldades da vida cotidiana. Sua popularidade ultrapassa em 13 pontos a de Barack Obama, com 69% de opiniões favoráveis, segundo uma pesquisa Washington Post-ABC realizada entre 4 e 7 de outubro. Ela é “a mulher mais popular do país, ícone da moda e uma entusiasta da nutrição, ao ponto de ser criticada e chamada de babá nacional”, considerou Howard Kurtz, da Newsweek, após o discurso de Sra. Obama durante a Convenção Democrata.
Desde o início de 2010, a primeira-dama é campeã na luta contra a obesidade infantil com o seu movimento Let’s Move, multiplicando as aparições na TV, nas quais não hesita em brincar com bambolê. Para promover uma alimentação saudável no país do hambúrguer, criou uma horta orgânica na Casa Branca, onde ela convida alunos para visitar seu jardim e oferece vegetais aos chefes de Estado que passam.
Com Jill Biden, esposa do vice-presidente, ela dirige uma organização que ajuda as famílias de veteranos de guerra. E, como ela mesma diz, é sobretudo a “mãe-em-chefe” em referência ao comandante-em-chefe das forças armadas que é o presidente americano de suas duas filhas, Malia, 14 anos, e Sasha, 11.
Michelle nasceu em Robinson no dia 17 de janeiro de 1964, bisneta de escravos, foi também uma brilhante advogada que estudou em Princeton e Harvard antes de casar, há 20 anos, com Barack Obama. Cobrada no início do mandato por se intrometer nos assuntos da presidência, acusações que ela se defendeu, Michelle Obama é agora comparada com Jackie Kennedy.
Federação em xeque
Segundo o professor Virgílio Arraes, doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição, em artigo publicado na véspera, “apresenta-se a escolha à Casa Branca de um republicano ou de um democrata ao eleitorado como se houvesse uma demarcação ideológica bem definida entre os dois postulantes: um seria a direita ao passo que o segundo, a esquerda, ainda que moderada. O vermelho (republicano) seria insistentemente conservador enquanto o azul (democrata) seria persistentemente progressista. Tamanho distanciamento ideológico de ambos somente funcionaria em um plano ideal. Nem na retórica haveria tanta divergência”.
Na prática, segundo Arraes, “os dois grandes partidos comungam há muito tempo valores bastante próximos, com variação na intensidade da aplicação de certas medidas especialmente em política externa e econômica. Diferenças importantes entre os candidatos à presidência costumam prover de postura pessoal relativa a questões comportamentais, como as vinculadas ao direito de aborto ou de união civil do mesmo gênero, sem significar o acolhimento oficial de suas agremiações ou da maioria extrema de seus militantes”.
- A alternância atual de poder demonstra que os democratas, a despeito da histórica oportunidade de resgatar o progressismo do início do século vinte, optaram por acomodar-se politicamente logo no início da gestão, a não ser em uma área: a da saúde pública, setor em que os Estados Unidos se distanciam dos demais países desenvolvidos. Ao contestar a nova legislação, restou aos republicanos reviver o difícil debate acerca do grau de federalismo a existir em um país de extensão continental. Historicamente, há duas posições básicas entre as elites políticas – continuou.
De um lado, pondera o professor da UNB, “os defensores de um governo central habilitado ao asseguramento dos interesses comerciais em todo o globo e da preservação do status diferenciado das forças armadas perante as demais, via supremacia tecnológica e gerencial. Para tanto, há a imperiosa necessidade de manter dois ministérios bem presentes no cotidiano administrativo: o de Defesa e o de Estado; de outro lado, os partidários de uma administração descentralizada, direcionada mais para as necessidades de produção e de consumo interno e para o relativo isolamento nos assuntos mundiais, malgrado a privilegiada situação geográfica: voltado tanto para o Atlântico como para o Pacífico”.
- Ao longo da evolução da sociedade norte-americana, é possível identificar o perfil político-geográfico dos dois grupos: os chamados centralizadores situavam-se mais próximos do litoral atlântico e depois da segunda metade do século dezenove do Pacífico também e eram mais liberais na economia, enquanto seus opositores localizavam-se mais no interior e tendiam a ser mais protecionistas. Em três momentos, os centralizadores prevaleceram sobre os oponentes, após disputas políticas renhidas: entre 1776 e 1787, a novel federação passou por momentos difíceis, ao não dispor de poder para arrecadar na medida de suas necessidades e para definir as responsabilidades federais e provinciais. Diante disso, eles se concentraram na promulgação no ano seguinte de uma legislação maior, a Constituição. Com isso, encerrou-se a primeira disputa – pontuou.
- Quase 3\4 de século depois, nova confrontação entre as duas visões de mundo. Todavia, a divergência naquela vez desencadeou o maior conflito militar do continente até hoje, com centenas de milhares de mortes entre 1861 e 1865: a Guerra de Secessão, em cujo centro estava o papel de que tipo de mão de obra poderia ter o país. No lado concentrador, o posicionamento favorável ao trabalhador livre, com o objetivo de expandir o consumo interno, através da incorporação como assalariados, mesmo precária, dos futuros libertos e de imigrantes europeus e, em menor escala, asiáticos. A despeito da derrota militar, os Estados do sul conseguiram com o passar do tempo estabelecer um regime segregacionista, validado pelo poder judiciário ao fim do século XIX. Nos anos 50 e 60 do século passado, nova tensão federativa em torno do conceito de cidadania, a ser estendido a todos os habitantes em todo o território, independentemente da etnia ou ainda da religião. De novo, a vontade do Executivo nacional predominou sobre a dos governos estaduais – acrescentou.
- Na eleição presidencial da semana, é possível que, diante de novo resultado desfavorável, os republicanos tentem distinguir-se dos democratas não pela eventual adoção do progressismo social, de uma economia supervisionada ou de uma política externa mais multilateral, mas pela proposta de outro federalismo, sobre o qual as responsabilidades sociais como em educação e saúde seriam mais estaduais que federais. Dessa maneira, esperariam eles que a ampla classe média, em face da tentação de obter redução de impostos, ainda mais em momento de crise econômica, seria a de aproximar-se mais do espectro republicano, não obstante o alargamento das disparidades sociais – concluiu.

Compartilhe esta matéria:

Sem comentários: