quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Assad diz querer morrer na Síria e adverte sobre intervenção estrangeira

 
DAMASCO — O presidente Bashar al-Assad, inflexível após 20 meses de um conflito devastador, advertiu nesta quinta-feira que está decidido a "viver e morrer na Síria", em declarações difundidas por uma rede de televisão russa.
Diante da escalada dos violentos combates entre Exército e rebeldes, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) alertou para a situação humanitária na Síria, afirmando que não pode "lidar com o agravamento da situação".
"Não sou um fantoche, sou sírio e devo viver e morrer na Síria", declarou Assad ao canal russo Russia Today.
O Ocidente, a Turquia e muitos países árabes exigem há meses a saída de Assad para pôr fim à guerra que já causou a morte de mais de 37.000 pessoas, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Nesta semana, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, lançou a ideia de conceder a Assad uma saída segura do país, afirmando que isso poderia ser arranjado, enquanto a oposição síria descarta qualquer diálogo com o regime antes da saída do presidente.
Na contramão, os países aliados da Síria - Irã, Rússia e China - rejeitam qualquer ingerência externa e apoiam uma solução entre sírios.
Assad também advertiu que uma intervenção estrangeira na Síria pode ter "consequências mundiais", provocando um "efeito dominó" do Oceano Atlântico ao Pacífico.

A Síria, "último reduto da laicidade"


Ao apresentar o seu país como o "último reduto da laicidade, da estabilidade e da coexistência na região", Assad considerou que o "custo de uma invasão estrangeira da Síria, caso isso aconteça, seria tal que o mundo inteiro não estaria em medida para assumí-lo".
"Eu não acho que o Ocidente irá nessa direção, mas se isso acontecer, ninguém pode prever o que vai se passar", advertiu Assad, que chegou ao poder em 2000.
O regime acusa os rebeldes de serem "terroristas a mando de estrangeiros", assegurando que acabará com eles a qualquer preço.
Enquanto isso, o regime continua a usar sua Força Aérea em ataques.
Vários bairros de Damasco eram palco na manhã desta quinta-feira de novos combates e bombardeios. Morteiros caíram nos bairros de Midan e Nahar Aisha, de onde subiam colunas de fumaça, informou o OSDH, uma organização que recebe informações de uma ampla rede de militantes e de médicos sírios.
A ONG também informou sobre combates no bairro de Mazzé, onde recentemente foram registrados atentados e bombardeios.
"Eu não aguento mais. Cada trajeto que percorro é um calvário porque preciso atravessar sete postos de controle e pelo caminho eu corro o risco de ser morta ou presa", lamenta Amira, funcionária de um ministério em Damasco.
De acordo com um registro provisório do OSDH, 86 pessoas morreram nesta quinta-feira, entre elas 38 soldados.

Oposição e ocidentais em Doha


Com o aumento da violência, o presidente do CICV, Peter Maurer, declarou que sua organização não pode "desenvolver (suas) operações de maneira suficientemente rápida frente ao agravamento da situação humanitária".
"Os combates se desenvolvem e há mais feridos, mais situações de crise. Existem muitos (...) (locais) onde nenhuma ajuda consegue chegar", disse, citando Aleppo.
Outros redutos rebeldes, principalmente Homs (centro), estão cercados há meses e os militantes afirmam que a situação humanitária é insustentável.
O conflito tem transbordado para os países vizinhos.
Na fronteira entre Síria e Turquia, Ancara declarou se reservar o direito de se armar para garantir sua defesa e confirmou negociações com a Otan para instalar baterias antimísseis Patriot em seu território.
No posto de controle de Rass al-Ain, um dos últimos pontos de passagem para a Turquia ainda controlado pelo regime sírio, combates entre insurgentes e Exército causaram a morte de 26 pessoas, segundo o OSDH.
De acordo com a imprensa turca, cinco civis turcos ficaram feridos por balas perdidas durante esses confrontos.
Enfim, representantes das diferentes facções da oposição síria iniciaram nesta quinta-feira em Doha uma reunião na presença de autoridades árabes e internacionais, que as pressionam para levá-las a se unificar.
Inicialmente, a reunião deveria debater uma moção apresentada pelo ex-deputado Riad Seif, apoiada pelos Estados Unidos, propondo a criação de um "Comitê de iniciativa nacional síria" que reúna as diferentes correntes da oposição e permita formar um governo no exílio.
Enquanto isso, as autoridades síria denunciaram uma conferência do "Grupo de amigos do povo sírio", prevista para novembro no Japão para reforçar as sanções contra Damasco.
Em um vídeo postado na internet, uma jornalista ucraniana, Ankhar Kochneva,detida há um mês pelos rebeldes, afirma estar em Homs e pede às autoridades sírias, ucranianas e russas, para satisfazerem as exigências de seus sequestradores.

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