terça-feira, 13 de novembro de 2012

Angola está longe do que a população deseja e merece, diz missionário católico

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Lisboa - O padre Tony Neves, autor de uma tese de doutoramento centrada no papel da Igreja durante a guerra civil em Angola, considera que o processo de construção de uma sociedade democrática no país “vai demorar muito tempo”.

Fonte: Agencia Eclesia
“Estamos longe da Angola que os angolanos desejam e merecem”, disse esta quinta-feira em Lisboa o missionário católico aos jornalistas, durante a sessão de apresentação do seu livro ‘Angola. Justiça e Paz nas intervenções da Igreja Católica (1989-2002)’ (editora Texto), que transcreve a sua tese em Ciência Política.

O religioso português pertencente à Congregação dos Espiritanos sublinhou que “uma guerra destrói o tecido social, pelo que é normalíssimo que 10 anos após o fim dos combates ainda não esteja tudo refeito e persistam algumas injustiças que o conflito criou e que se vão perpetuar”.

“Parece-me estranho que um país com tantas capacidades financeiras e económicas tenha fome, mas são ainda efeitos retardados da guerra”, observou o padre Tony Neves, que segue com “atenção e preocupação” as notícias em Angola.

O religioso classificou a situação no enclave de Cabinda, no norte do território, de “problema político muito delicado” e lamentou que a Rádio Ecclesia, emissora católica angolana, não possa ser ouvida em todo o país.

“É grave que a voz da Igreja esteja silenciada fora de Luanda”, afirmou, acrescentando que a lei prevê a extensão do sinal a todo o território mas a sua regulamentação ainda não avançou, apesar das reuniões entre a Igreja e o Governo.

Questionado sobre as desigualdades sociais existentes em Angola, que disse ser o seu “segundo país”, o padre Tony Neves frisou que “o capitalismo liberal, por natureza, faz com que os ricos sejam mais ricos e os pobres fiquem mais pobres”.

A predominância daquele sistema económico, “que se vê em Angola, Portugal, Brasil e um pouco por todo o lado”, é “contra os princípios da doutrina social da Igreja” e “os princípios humanistas da igualdade de oportunidades”, vincou.

O novo volume, prefaciado pelo bispo do Porto, D. Manuel Clemente, e Marcelo Rebelo de Sousa, que apresentou o livro e foi arguente da tese, tem posfácio de D. Gabriel Mbilingi, presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé.

O estudo “foi uma tentativa de provar que a Igreja Católica em Angola, durante a guerra civil, teve uma intervenção de qualidade e marcou a diferença”, referiu o religioso.

“Os missionários ficaram onde mais ninguém ficou e a Igreja nunca se ausentou dos cenários de guerra, mesmo que isso tenha custado caro: diversos religiosos e religiosas foram mortos porque quiseram ficar com o povo nos momentos mais críticos da História da guerra civil de Angola”, assinalou.

O autor lembrou que “a Igreja dissecou muito bem o problema [guerra civil] a nível teórico, denunciou tudo o que havia para denunciar, como as atrocidades da guerra e as violações dos direitos humanos, propôs princípios para que se caminhasse para a paz e corrigiu alguns dos danos provocados pelo conflito através de uma assistência humanitária e uma presença solidária muito fortes”.

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