segunda-feira, 19 de novembro de 2012

“Afonso Dhlakama é inconsciente”

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Joaquim Chissano questiona ainda a autoridade que o líder da Renamo tem para exigir a ida do Presidente da República a Gorongosa para negociar: “Ele não é um Deus, por enquanto”.
O ex-presidente da República, Joaquim Chissano, manteve ontem um encontro com o antigo estadista brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva. A reunião durou mais de uma hora. À saída do hotel onde Lula se encontra hospedado, “O País” procurou ouvi-lo, na qualidade de signatário do Acordo Geral de Paz, sobre as recentes movimentações político-militares que levaram o líder da Renamo a “estacionar” em Gorongosa e, mais recentemente, a recusar-se a reconhecer a equipa de negociações indicada pelo partido Frelimo. Pela relevância do assunto e do autor das declarações, transcrevemos na íntegra a entrevista com Joaquim Chissano.
Qual é a sua reacção ao facto de a Renamo se recusar a dialogar ou negociar com a equipa indicada pela Frelimo?
Eu penso que é uma decisão descabida. Se é um partido que quer encontrar soluções de problemas no país, é bom que discuta com outros partidos e, em primeiro lugar, com o partido que está no poder. Eu não sou contra uma discussão com o Presidente da República em aspectos que podem ser do interesse também do Governo. Mas é importante que os partidos políticos discutissem. Agora, não vai o Governo negligenciar o resto da sociedade, porque a democracia não é só um partido político e muito menos de um partido político da oposição que quer impor a sua vontade e essa vontade tornar-se a vontade do povo. Há fóruns próprios para a discussão de assuntos de Estado, mas nada impede que o partido Renamo vá apresentar-se a uma entidade como o Presidente da República e exponha os seus problemas. Quando a Renamo convida o Presidente da República a ir a um lugar que só é conhecido pela própria Renamo, isso torna-se descabido.
Mas as movimentações de homens armados da Renamo, bem como das forças de defesa e segurança, não põem em causa a paz, a estabilidade política e o prestígio do país?
Isso obrigar-me-ia a dizer que o senhor Dhlakama é uma pessoa inconsciente. Se ele, na sua inconsciência, pensa no povo, não creio que possa fazer essa barbaridade. Ele próprio já disse, muitas vezes, que é um homem de paz, que quer a paz e que se depender dele não haverá guerra. Portanto, por esse ponto, podemos estar tranquilos quanto a isso. Mas, apesar disso, não é bom fazer ameaças de guerra, mesmo quando ele (Dhlakama) se iliba da responsabilidade (de uma eventual guerra). O desejo de uma pessoa de paz é a paz. É de trabalhar para que haja paz e nunca sugerir guerras. Se houver guerra, mesmo eu que não sou nada, devo sentir-me responsável. Todos nós devemos nos sentir responsáveis. Não há ninguém que possa eximir-se desta responsabilidade.
Mas a Renamo diz que quer negociar com o Governo e não com o partido Frelimo. O que acha desta exigência?
Não conheço essa modalidade de um partido político que quer dialogar com o Governo, exija que o Governo vá ao seu encontro num Distrito. Não conheço isto de nenhum país do mundo onde um partido político vai para um recanto do país e depois convida o Governo para lá e, sobretudo, convida o Presidente da República. Ou reconhece que é Chefe do Estado ou não reconhece.
Qual seria a atitude sensata da Renamo na sua opinião?
A atitude sensata seria o senhor Dhlakama pedir uma audiência com o Presidente da República, ir ao gabinete do Presidente da República, sentar-se e conversar, como fez comigo muitas vezes no passado. Essa é atitude mais sensata, e dizer o que quer. Qual é a autoridade que o líder da Renamo tem para convocar um Chefe do Estado para ir ter com ele? Ele não é um Deus...por enquanto.

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