terça-feira, 20 de novembro de 2012

A França na alça de mira da ortodoxia | Jornal Correio do Brasil

O momento não poderia ser melhor escolhido. Praticamente às vésperas da última cúpula da União Européia deste ano – a se realizar neste fim de mês – a ortodoxia econômico assestou suas baterias contra a França de François Hollande e mandou ver a artilharia pesada.
Hollande
Hollande é o novo 'perigo vermelho' do mercado financeiro
Parece até combinado: a revista The Economist dedicou 16 páginas a tentar demolir a política do governante francês e até mesmo o eleitorado, dizendo que este votou contra ou pelo menos à margem das “necessárias reformas” da economia e do governo, e que Paris permanece “anti-business”.
Por outro lado, muitos ricos franceses, temendo a elevação de impostos sobre suas fortunas, e capitaneados por nada mais nada menos que Gérard Depardieu, estão se mudando para os países vizinhos. Alguns – Depardieu inclusive – querem se mudar para a Bélgica, instalando-se a poucos quilômetros da fronteira francesa, mas a uma distância segura do “fisc” – como os franceses se referem à receita.
No início da semana foi a vez da agência Moody’s, rebaixando a nota francesa de AAA para AA1, sob alegação de que o ímpeto de Hollande contra o déficit público, não é suficientemente rápido nem forte, e que o mercado de trabalho francês permanece “rígido”, contribuindo para tirar “competitividade” do país.
De repente, o outrora pacato “Monsieur Normal” virou um “perigoso e agitador radical vermelho”, simbolizando o fato de que a França não é um país “moderno”, permanecendo presa a um ideal de salários e aposentadorias “altos demais aqueles, precoces demais estas”. É verdade que a eleição de Hollande desestabilizou o quadro político europeu, outrora dominado pela dupla Mekozy com a ajuda, no barco que está virando submarino ao lado, de David Cameron. Subitamente, o perigo anti-euro deixou de ser o Syriza na Grécia, ou a Espanha ou ainda a Itália, para ser a França.
Na próxima cúpula da U. E. estarão em pauta o seu orçamento, e questões como a necessária “disciplina” a ser mantida para com a Grécia, ou ainda os poderes reclamados pelo Banco Central Europeu em relação às dívidas soberanas e os títulos dessas dívidas. Haverá um esforço concentrado por parte de Berlim para que a troika – o B. C. E., o FMI e a Comissão Européia, desde Bruxelas, tenham poder maior cobre os orçamentos e as dívidas nacionais (na realidade, apesar dos discursos, em lugar de um poder maior sobre o sistema financeiro).
Dentro dessa perspectiva é absolutamente necessário enfraquecer (pelo menos) o poder de fogo do presidente francês, tanto para comprometer a soberania de Paris quanto para neutralizar seu “mau exemplo”, num momento em que os movimentos contra a ortodoxia econômica crescem em vigor na Europa e em amplitude internacional.
PS – É necessário adendar este comentário com um outro, ressaltando o que já mencionei na Rádio Brasil Atual, ou seja, que neste momento também cresceu a presença da presidenta Dilma como contraponto às políticas recessivas catastróficas que vêm sendo impostas Europa afora e guela abaixo.

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