sábado, 10 de novembro de 2012

80 anos depois...

12/01/2010

Em http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/01/80-anos-depois.html

 

Cartazanos30 Um destes dias, sem o pudor que me incutiram nos tempos escolares da euforia abrilina, decidi vasculhar o que se fazia no tempo do tão mal tratado Estado Novo e que, fruto de uma mansa imposição e jamais de qualquer negociação, bem se poderia ter transposto para os nossos dias, sabendo de antemão que nem tudo o que se faz hoje é bom, nem tudo o que se fez antes foi mau.

Foi com natural espanto que um destes dias, num conhecido concurso de entretenimento, assisti a um programa inteiro dedicado aos produtos portugueses. Digo que foi com "natural espanto" pois pelos vistos e fazendo jus à nossa tradicional tacanhez, desde a classe política ao "Zé Povinho", como diz Marcelo Rebelo de Sousa(e muito bem); não nos dignamos estudar atentamente o nosso passado, sem pudores republicanos ou pruridos do tipo "pró-democrata da borra", pois se o tivéssemos feito, teríamos facilmente percebido aquilo que há quase um século qualquer dos "retrógrados" políticos de então sabia de cor, ou seja, que um país, em termos da sua economia, em nada se distingue de uma família em ponto grande, de uma empresa ou no limite, bem se pode comparar à nossa simples carteira pessoal : quanto entrou; quanto saiu, quanto sobrou, ou quanto falta. O famoso Deve e Haver, mais conhecido que os tremoços em qualquer mercearia de aldeia do interior.
Diz um conhecido filósofo de negócios lá das Américas que todos nós deveríamos saber um pouco de economia.


No caso vertente - o português, se assim fosse, saberíamos certamente que não podemos ter tudo o que queremos ao mesmo tempo; que não podemos pedir dinheiro ao banco na nossa vila, e partirmos para a Alemanha comprar um carro de luxo em 2ª mão(se fosse um...mas foram milhares); que não podemos comprar tudo o que vem de fora sempre que precisamos de uma bugiganga lá em casa.
Eu não me confesso um amante do modelo económico chinês, mas, achando-me moralmente honesto, não posso deixar de reconhecer que o seu modelo de expansão global é, nem mais nem menos que o maior franchising que o planeta alguma vez viu. O chinês emigra para vender...produtos chineses, o que lhe confere à partida a garantia de que os produtos vão realmente ser promovidos. Visto de outro ângulo, seria o mesmo que a Coca-Cola ter um americano em cada barraca que venda o produto nos 4 cantos do mundo, o que não acontece. Por essa razão, antevejo um sucesso comercial do modelo de internacionalização chinês, capaz de destronar a referida empresa americana em apenas alguns anos, se é que tal ainda não aconteceu.
Imagine-se o Estado Português a patrocinar a abertura de empresas portuguesas que se dedicassem exclusivamente a vender produtos portugueses no exterior? O resultado seria exactamente o mesmo e totalmente diferente de termos um representante do país de destino da mercadoria a representá-la. É nem mais nem menos que comparável ao cuidado que teríamos com os nossos filhos, ou os filhos dos outros.
No caso europeu em geral, mas principalmente no nosso país, falta-nos definitivamente esse senso comum, tão importante e que nos será fatal, do que é importar, exportar, consumo interno e no limite, o que é a balança comercial, isto para não falar em PIB Per Capita, divida externa publico-privada e outros palavrões de economista que eu nem sequer sou.
Pior que isso é o facto de que no tempo da "antiga senhora" e mesmo depois da fervorosa revolução abrilina e implantação de uma das muitas formas de ditadura a que chamamos democracia( ditadura para quem não concorda com ela e por tal lhe foi imposta...);e até à adopção do livre comércio, era possível de certo modo controlar os ímpetos consumistas do que era estrangeiro, pelo natural facto de existirem procedimentos precedentes à compra.
Hoje em dia, e depois da abolição dessa "soberania" sobre as importações, apenas e só uma consciência nacional, individual e colectiva, nos pode salvar do inevitável afundanço a que o povo é completamente alheio por ignorância, e o poder político omite conscientemente por mera cobardia e simples jogo de poder imediatista ao velho estilo de "quem vier a seguir que feche a porta".
Ao contrário do meu espanto manifestado no início deste texto, não fiquei nada surpreendido com as afirmações de João Salgueiro - uma autoridade portuguesa em matéria financeira, quando ontem afirmou que Portugal pode estar à beira do colapso económico. Para um bom entendedor, sendo ele uma figura com elevadas responsabilidades no sector financeiro ao nível nacional, das suas palavras se deve depreender que Portugal, não pode, Portugal simplesmente está a caminhar a passos largos para receber a visita da comissão do FMI, pois da Grécia a Lisboa até é perto e bom caminho.
Voltando mais uma vez ao início do meu texto, não foi com espanto que encontrei num livro sobre a construção do Estado Novo, a imagem alusiva ao consumo de produtos nacionais, largamente difundida em outdoors nos longínquos anos 30, e obviamente não pude deixar de me questionar porque razão, uma tão mal amada ditadura, com total controlo sobre as importações, tinha ela necessidade de promover o produto nacional se simplesmente o poderia impor aos cidadãos?
Não foi difícil concluir que talvez a ditadura que me "venderam" na escola do PREC não fosse a mesma que se viveu entre os anos 30 e 70 do século XX em Portugal,...e também nas minhas conclusões não pude passar ao lado do facto da pedagogia, talvez excessiva de então, se ter transformado numa não pedagogia que nos irá seguramente custar a independência, as fronteiras e a falsa dignidade ganha com cravos, anarquia e sonhos terceiro-mundistas.
António Oliveira

Sem comentários: