quarta-feira, 3 de outubro de 2012

“Somos filhos de uma nação que constrói ricos com o suor dos pobres”

 
- Presidente do Parlamento Juvenil, Salomão Muchanga
“Não há paz quando temos mais Mercedes e menos hospitais”, adverte o PJ
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Maputo (Canalmoz) - Pela ocasião dos 20 anos da paz, que se assinalam esta quinta-feira, o Parlamento Juvenil, movimento de advocacia de direitos e prioridades da juventude, emitiu um comunicado contundente, onde para além de saudar a passagem desta data faz criticas duras à governação actual e diz que em 20 anos da Paz, muitos moçambicanos não estão a desfrutar da paz verdadeira.
“Nós jovens moçambicanos, rendemos a mais justa homenagem a sociedade moçambicana, neste acto briosamente representada por Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, que com o aperto e punho das suas mãos enterraram as diferenças, honraram as suas promessas e deixaram vencer os mais nobres ideais que unem os moçambicanos do Rovuma ao Maputo. Por este humilde acto milhões de moçambicanos respiraram paz, ainda que titubeante, diz o documento assinado por Salomão Muchanga, que de saudação só tem dois parágrafos, e outras dezenas de “advertências”.
O PJ saúda ainda “os desmobilizados de guerra, aos homens armados da Renamo em Marínguè, aos militares da FADM e a toda a força de defesa e segurança que ontem e hoje entregam as suas vidas para conservar este bem inalienável – a democracia e a liberdade de expressão”.
“Os moçambicanos não gritam que a Paz é um dado adquirido”
Assim começa a parte dura do comunicado do PJ. “Somos filhos de uma nação que constrói ricos com o suor dos pobres” diz e a seguir faz as numerosas advertências. Eis:
Não há paz numa sociedade engravidada pelo medo;
Não há paz quando temos mais Mercedes e menos hospitais;
Não há paz quando temos mais mega-projectos e mais desemprego;
Não há paz quando os servidores públicos delapidam os recursos nacionais;
Não há paz com uma população embrutecida que aguarda eleições para receber material de propaganda, que comercializa votos na eleição de um Governo que, depois, se torna apático e indiferente ao sofrimento deste mesmo povo nas filas dos hospitais e nas escolas sem carteiras;
Não podemos falar de paz num país onde as bolsas de fome ceifam vidas;
Não podemos falar de paz num país cujas florestas alimentam o sector industrial de outros países;
Não podemos falar de paz num país que exporta toros de madeira para depois comprar produtos acabados a preços proibitivos;
Não podemos falar de paz num país que promove o serventilismo em detrimento da competência;
Não há paz quando os madgermanes marcham todos os dias a reivindicar o resultado do seu trabalho e o Governo assobia para o lado;
Não há paz quando a ascensão na Função Pública é determinado por um cartão partidário;
Vivemos paz no país? Quando em menos de um ano vivenciamos contínuas manifestações com repreensão verbal e física amplamente mediatizada, (dentre elas: manifestações dos desmobilizados de guerra; manifestação dos vendedores do sector informal, manifestação de supostos ex-agentes do SISE, manifestação dos estudantes moçambicanos bolseiros na Argélia; Manifestação dos estudantes moçambicanos no Sudão; manifestações dos “madgermans”; manifestações dos transportadores semi-colectivos; manifestações dos estudantes menores no cursos nocturno (província e cidade de Maputo); manifestação dos estudantes nos lares; manifestação dos trabalhadores da empresa de segurança privada e; manifestação dos camponeses que lhes são usurpados as suas terras). Advertimos ainda que, os discursos sobre paz caem por terra quando as agendas de governação enfatizam mais o combate do que as conquistas diárias, quando observamos o comportamento repreensivo dos nossos governantes.
Ainda assim, porque acreditamos que promover a paz implica não calar diante das injustiças, estamos dispostos a orientar as nossas acções no sentido de fazer com que a história se incline na direcção da justiça.
Rendemos a mais justa homenagem ao calar das armas e propomos uma luta efectiva pela paz, uma paz que seja pronunciada por todos e não pelos mentores do seu acordo.
Lutamos por uma nova revolução que assegure o ensejo do trabalho que dê futuro aos jovens e segurança aos idosos, de modo a não permitir que a paz se transforme numa promessa vazia.
Nós jovens comprometemo-nos em honrar o compromisso de 04 de Outubro na busca por uma nova revolução que transforme a actual paz política em paz social. Travaremos um duro combate para gravar este legado com letra indelével no coração das futuras gerações.
Lutamos para promover uma geração de jovens briosos que defendem a paz social não como ausência de guerra e nem realizada apenas por exortação, mas alicerçada no respeito pelos direitos civis e políticos, na garantia da segurança e oportunidades económicas e, no prosperar do pensar diferente!” (Redacção)

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