quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Que as chuchas e os rebuçados sejam recebidos mas que não obstem a acção necessária

Canal de opinião
Por: Noé Nhantumbo
 
• Demissões, exonerações e nomeações em Moçambique…
• Alavancar a Educação de modo acelerado deve ser uma das apostas…
Beira (Canalmoz) - Uma nomeação ou exoneração é motivo de preocupação para os visados. Enquanto os exonerados e demitidos ficam claramente desapontados e seu universo sofre uma dramática transformação, momentaneamente, é preciso admitir que tal não deve ser considerado como um golpe vital.
Tudo faz parte de um processo dinâmico em que diversas considerações são tidas em conta e influem para que decisores retirem confiança e optem por colocar novas figuras em determinados cargos governamentais.
Uma queda dupla como se poderia dizer, terá afectado alguns membros que não conseguiram lugar no partido no decorrer do congresso de Pemba e posteriormente foram removidos do governo. Esta purga no governo é algo que deve merecer atenção particular pois acontece numa altura do “campeonato” em que os jogadores se preparam para grandes desafios eleitorais nos próximos dois anos.
Consolidar o poder parece ser o objectivo principal do PR se atendermos que não estaria satisfeito ou confortável com a possibilidade de alguém não estreitamente relacionado consigo, e até certo tempo de fidelidade duvidosa emergisse como presidenciável. Há muito a perder se o próximo chefe de estado não estiver sob controlo do presidente do partido Frelimo. Aires Ali terá sido reconhecido como alguém que se notabilizou na arena governamental a partir de uma nomeação do ex-presidente da república Joaquim Chissano. Objectivamente falando isso em si não constitui uma garantia de sossego para quem constitucionalmente não se pode recandidatar a sua própria reeleição. Num jogo de suposições em que vale tudo importa não menosprezar qualquer factor que terá sido utilizado como motivação para a tomada de certas decisões quanto a distribuição de pastas ministeriais e provinciais logo após o congresso de Pemba.
Uma nova correlação de forças emergente do congresso terá permitido ao PR e simultaneamente presidente do partido Frelimo tomar decisões com uma liberdade que antes não possuía.
Aprofundar o desgaste dos adversários no seio de seu partido e alavancar suas posições, para que chegados os pleitos eleitorais, ele possa escolher com sossego, um sucessor capaz de lhe garantir tranquilidade e continuação de sua actuação privilegiada na arena económica e financeira, pode constituir parte do que terá pesado para que AEG demitisse uns e nomeasse outros para a sua equipa governamental.
Os meandros concretos e as motivações por detrás de uma fulgurante mexida governamental dificilmente serão conhecidos pelo público. Convém reparar que em algumas pastas contestadas como a dos Transportes e Comunicações ele não tocou. No Interior onde os problemas com sequestros, raptos e assassinatos continuam reflectidos nos noticiários também não houve mexida. Uma remodelação governamental tem repercussões na dinâmica governamental e esperemos que os novos titulares tragam aquele desempenho que os cidadãos necessitam e carecem.
Mas independentemente do que terá levado o PR a agir remodelando o governo os moçambicanos esperam que os nomeados para pastas muito importantes como a Educação sejam capazes de transmitir sinais inequívocos da vontade de promover um debate amplo como as forças vivas da sociedade e de lá colher os subsídios que ajudarão a elevar a qualidade do ensino em Moçambique.
Julgamos que está na hora do governo abraçar uma estratégia de fortalecimento do empresariado nacional em todos os segmentos de actividade.
Não haverá um empoderamento expressivo dos moçambicanos se não forem criadas condições para o fomento de suas actividades.
Esperemos que o novo titular da Educação entenda que antagonizar as instituições do sistema de ensino superior privadas não é o caminho correcto. Sua acção deve ser de acarinhar as iniciativas privadas nos diversos subsistemas de ensino de tal forma estas cresçam e preste o contributo que delas se espera para o desenvolvimento nacional. Acreditamos que com o apoio concreto do governo, o ensino superior neste país tem a capacidade de melhorar. Há esforços que terão de ser empreendidos e planificação estratégica concertada, independentemente da concorrência pois no fim quem ganhará será o país e as próprias instituições. Há campos em que o público e o privado podem convergir e afinar modos de actuação em beneficio de todo um sistema de educação.
É preciso utilizar os diagnósticos já efectuados e traçar modos de actuação correspondentes aos desafios.
Moçambique não pode desenvolver-se nem ver os cidadãos beneficiando-se dos recursos naturais aqui existentes sem um domínio apropriado das engenharias. Há que conceber sistemas de fomento do ensino de engenharias que tenham repercussões rápidas e profundas na qualidade de intervenções efectuadas. O Ministério de Educação tem a responsabilidade de articular e incentivar a cooperação institucional ao nível do país e com entidades internacionais congéneres. Uma inundação de cursos relacionados com ciências jurídicas e sociais jamais se constituirá naquele catalisador do desenvolvimento de que o país carece.
Quanto as Ciências e Tecnologias se não houver uma filosofia e recursos apropriados continuaremos a ter um ministério que existe mas cuja acção não se faz sentir. Investigar custa dinheiro e entendimentos estratégicos de vulto.
Os moçambicanos saberão saudar e agradecer tudo o que for feito em seu benefício do mesmo modo que continuarão reclamando quando o desempenho está longe do desejado e das responsabilidades dos titulares dos cargos públicos. (Noé Nhantumbo)

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