quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Perfil de José Dirceu, um homem que se reinventou diversas vezes

Por Rita Siza
 
A ascensão de Dirceu foi meteórica, até cair com o Mensalão
 
A ascensão de Dirceu foi meteórica, até cair com o Mensalão (Jamil Bittar/Reuters)
Quando o escândalo do “Mensalão” rebentou na imprensa brasileira, em 2005, José Dirceu era o segundo homem mais importante em Brasília, a seguir ao Presidente Lula da Silva. Texto originalmente publicado a 19 de Fevereiro de 2012.
O mega-esquema de corrupção e financiamento político ilegal – que consistia no financiamento de deputados para garantir apoio no Congresso às políticas do Governo de Lula – engoliu o ministro da Casa Civil, que se viu forçado a demitir-se do cargo. Pouco tempo depois o seu mandato de deputado federal foi “cassado”.

A presidência do Partido dos Trabalhadores (PT), ao qual dedicara décadas da sua vida, escapou-lhe entre os dedos. Apontado como o “chefe da quadrilha” do “Mensalão”, aos 60 anos, José Dirceu de Oliveira e Silva, reinventou-se – algo que fez várias vezes ao longo da sua vida.

De menino do campo a rapaz da cidade, de líder estudantil a prisioneiro da ditadura, de exilado político a aprendiz de guerrilheiro, de comerciante clandestino a fundador do PT, e daí a deputado estadual e federal, candidato a governador e ministro, as sucessivas encarnações de Dirceu parecem uma mistura de novela de espionagem, romance histórico e comentário político – com algum romantismo pelo meio.

Hoje é consultor de empresas e empresário, o que alimenta a aura nebulosa de poder e influência em seu redor. Mas, como notou ao PÚBLICO um editor de um grande jornal brasileiro, perante a inexistência de um único caso concreto de influência de Dirceu na concretização de qualquer negócio, “tudo isso virou fumaça”.

O tipo de consultoria que Dirceu faz exactamente não é fácil de precisar: várias fontes contactadas por este jornal transmitiram a ideia de que empresários e industriais têm interesse em contratá-lo por causa da sua vasta rede de contactos e da sua facilidade em movimentar-se nos corredores do poder.

Mais do que um consultor, Dirceu parece ser um “lobyista”. “Ninguém sabe o que ele faz, a não ser que conversa com empresários importantes, que querem tê-lo à mão para abrir alguma porta ou resolver qualquer problema que tenham com o Governo”, descreveu um veterano jornalista político de São Paulo. Bastante mais “palpável” é a influência que Dirceu continua a exercer sobre o partido que ajudou a fundar – apesar de teoricamente estar afastado da actividade política.

Dirceu participa activamente na vida partidária, e apesar de não ter nenhum cargo oficial, “continua a ser uma eminência parda” no PT, diz um repórter brasileiro. Há poucos meses, fez furor uma reportagem publicada na revista Veja sobre as entradas e saídas de vários dirigentes políticos e empresários brasileiros de um hotel de Brasília, onde alegadamente se reuniam “a despacho” com José Dirceu (que denunciou à polícia uma tentativa de invasão do seu quarto pelo jornalista da Veja e processou a revista).

A Presidente Dilma Rousseff não lhe deu muito “espaço” no seu Governo – aliás escolheu um dos seus rivais, António Palocci, para o cargo que Dirceu ocupou com Lula. Nos meios políticos brasileiros, ainda se especula que Dirceu poderá ter estado por detrás da queda de Palocci, que saiu do Governo na sequência de notícias sobre o património que acumulou enquanto esteve no Governo. José Dirceu é natural de Quatro Passos, Minas Gerais.

Aos 15 anos foi para São Paulo, para trabalhar e estudar. Envolveu-se no movimento estudantil, e em 1968, foi detido. Passou por quatro prisões diferentes, mas não existe registo de ter sido sujeito a tortura. Ao fi m de um ano, foi libertado e banido do país no âmbito de uma troca de prisioneiros para o resgate do embaixador americano Charles Elbrick, raptado pela oposição.

Dirceu exilou-se em Cuba e treinou para guerrilheiro – tendo, para o efeito, realizado uma operação plástica. Em 1974, instalou-se na clandestinidade em Cruzeiro do Oeste, no Paraná. No seu regresso ao Brasil, não se vinculou aos movimentos da oposição nem participou na luta armada. Com o fi m da ditadura e a amnistia de 1979, José Dirceu recuperou a sua identidade. Foi a Cuba desfazer a plástica, mudou-se para São Paulo, terminou o curso de Direito e envolveu-se na criação do PT.

Dirceu foi uma figura fundamental na transição do radicalismo da fundação para um partido mais aberto, revolucionou a máquina eleitoral do PT e foi decisivo nos acordos que viabilizaram a eleição de Lula (de quem é muito próximo, mas com quem não tem intimidade pessoal). A ascensão de Dirceu foi meteórica, até cair com o “Mensalão”. Como constatou a jornalista Daniela Pinheiro, que em 2007 acompanhou Dirceu durante uma semana para escrever um perfil para a revista Piauí, o ex-ministro caído em desgraça aprendeu a viver com os insultos que passou a ouvir de desconhecidos – pilantra, corrupto, safado, ladrão – depois de ser formalmente acusado dos crimes de corrupção activa, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e peculato.

“Não cometi nenhum crime, não feri o decoro parlamentar, não me envolvi em negociatas”, escreveu no seu blogue “Zé Dirceu, um espaço para a discussão do Brasil”, depois de apresentar ao tribunal as alegações finais da sua defesa. Dirceu é um dos 36 arguidos da acção penal 470 que corre no Supremo Tribunal Federal do Brasil. O megaprocesso deverá ser finalmente julgado este ano.

1 comentário:

Anónimo disse...

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