sábado, 20 de outubro de 2012

“Partidarização do Estado III” (Notas Finais & Conclusão)

 

by Mablinga Shikhani on Friday, 18 May 2012 at 09:42 ·
As recentes intercalares levantaram o véu de um complicado e perigoso estratagema político que caracteriza a democracia nacional. As estratégias eleitorais foram em grande medida concentradas em questões internas e nas querelas entre os partidos do que no “ataque” frontal e corajoso aos problemas de cada município em primeiro lugar. Embora os manifestos eleitorais fossem de alguma forma para aí virados, “pecavam” pela generalidade das questões, demonstrando claramente dois aspectos:
1. Ausência de uma estratégia política local/autárquica/municipal;
2. Despreparo dos partidos para acompanhar o processo de descentralização em curso.

Um terceiro aspecto, subjacente e decorrente dos anteriores que é a sobrevalorização clara e inequívoca dos aspectos peculiares e diferenciadores como a tribo, etnia e afins para, penso eu, colmatar o vazio estratégico nos pontos supracitados. Por exemplo expressões como “Quelimane: Zona Libertada!” demonstram o hiato estratégico e alternativo que se esperava de uma oposição política, de si alternativa à Oposição costumeira e vezeira. Se no quadro geral das autárquicas um candidato como Manuel Araújo apresenta ou dá a cara a tal discurso o que esperar das gerais em 2014?

Quando as intercalares foram anunciadas pensei cá para mim que os partidos “tradicionais”, como a Frelimo e a Renamo, adoptariam uma estratégia eleitoral de “continuidade” que giraria à volta da indicação de candidatos com um cunho mais ideológico do que tecnocrata, e procuriam, a nível local, indivíduos com alguma idade, das suas Gerações de Ouro (25 de Setembro, 8 de Março), ou jovens membros rendidos à história do partido, políticamente dinâmicos, em detrimento de uma abordagem mais proactiva e em direcção ao desenvolvimento. Lamentavelmente a Renamo preferiu a ausência a mais um embate político. Para os “não-tradicional” MDM procuraria suprir a ausência de "idade/geração ideológica" procurando alianças com jovens cépticos e com algum percurso técnico de relevo para "atacar" a perspectiva desenvolvimento em primeiro lugar (fazendo jus ao seu slogan) e paulatinamente galvanizar a sua posição política no panorama político moçambicano. No que toca à Frelimo e ao MDM as previsões não estiveram longe do sucedido, lamentavelmente a Renamo continuou a surpreender pela negativa.

As abordagens, demasiado ideológicas e ou politizadas, das estratégias de desenvolvimento ou do discurso político no seu todo, quer se trate de questões de saneamento do meio ou de outros candentes do desenvolvimento, na perspectiva de diminuição ou demérito da proposta de outrem resulta em muitos aspectos na discussão e confrontação acessória ao invés de um salutar debate de ideias e melhoramento das perspectivas e estratégias de combate da pobreza ou das vias do desenvolvimento do país.

Em jeito de conclusão arrisco-me a dizer que em termos políticos as estratégias dos partidos moçambicanos anda um pouco desligada dos assuntos relacionados com o crescimento económico, desenvolvimento e criação de riqueza, mesmo quando estes são arrolados pelo partido no poder, há um cunho subjacente de ideologia política. A oposição no seu todo, incluindo a dita “Construtiva”, concebe, alimenta e realiza uma dinâmica puramente assente no debate político, mais concentrado em querelas passadas, para eles mal resolvidas (por exemplo morte de Simango[1], campos de Reeducação, Lojas do Povo, Comunismo, Guerra, Grupos Dinamizadores) deixando antever uma “Caça às Bruxas” caso o poder mude de mãos.

Numa fase em o país concentra a atenção de grandes grupos económicos mundiais, é destaque nas principais bolsas económicas e motivo de cobiça de muitos países o debate em Moçambique ainda gira à volta dos discurso do presidente, das acções do partido no poder evidenciado o papel de destaque que a Frelimo na vida e quotidiano nacionais. Que perspectivas oferecem a Oposição, os Grupos de Interesse, os Académicos, Intelectuais aos desafios do país? Quando o discurso não é (demasiado) desconstrutivo (ou apenas crítico, sem avançar propostas de soluções as mais utópicas mas soluções) pouco ou nada se oferece para análise e escrutínio à sociedade moçambicana.

A África do Sul está preocupada com a evolução da política externa de Moçambique nos próximos anos, e os nossos deputados preocupam-se com benesses. De facto a partidarização do Estado, tal cancro político, herdado ou não do Estado Popular está a ser bastante encorajado pelos principais actores políticos, sociais nacionais desviando o foco nos principais desafios do país e contribuindo para o atraso do desenvolvimento nacional. O país está refém de um discurso político recorrente que emperra as vias do seu desenvolvimento e encarece a vida dos moçambicanos.


[1] Com o devido respeito pela figura e seu papel na História nacionalista moçambicana e a dor dos entes queridos, companheiros, seguidores e admiradores.

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