quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Obama reaparece mas Romney não cai

 

17 de Outubro, 2012por Nuno Escobar de Lima
Barack Obama tinha «boas razões para sorrir» quando terminou o segundo debate presidencial norte-americano, esta madrugada. Dizia-o Wolf Blitzer, anfitrião do debate posterior na CNN, numa ideia reforçada por outro ilustre da casa, Anderson Cooper: «Os democratas saem bem mais satisfeitos do que no primeiro debate». Ao mesmo tempo, a mais conservadora Fox News concordava que a vitória esmagadora do candidato republicano no primeiro frente-a-frente não se repetira. Para Joe Trippi, «Mitt Romney voltou a bater-se bem, mas bate-se muito melhor quando o adversário não aparece. E desta vez o Presidente Obama apareceu bem melhor do que no debate anterior».
Outro tema comum aos dois campos de análise era o momento mais quente do frente-a-frente: Romney atacara Obama por levar demasiado tempo a reconhecer que a morte do embaixador norte-americano na Líbia, em Setembro, não resultara de uma simples manifestação contra um filme, levando o Presidente a lembrar que referiu um «acto terrorista» no dia seguinte aos incidentes de Bengazi.
A convicção do republicano levou-o a prescindir do seu tempo de fala para perguntar directamente ao Presidente se reafirmava o que dissera anteriormente: «Garante que o disse no dia seguinte? Levou 14 dias a fazê-lo». Obama não respondeu, pedindo apenas para que o governador continuasse. Na insistência de Romney foi a anfitriã Candy Crowley, jornalista da CNN, a confirmar que Obama usara as palavras «acto de terrorismo» poucas horas após a morte do embaixador Christopher Stevens e de outros três diplomatas. Aí, o democrata pediu para que a moderadora o repetisse, «mais alto».
Para Obama, a entrada da Política Externa na agenda dos debates era a grande oportunidade para fugir à economia e mostrar alguns dos sucessos mais visíveis do seu mandato: «Prometi acabar com a guerra no Iraque e acabei. Prometi perseguir os responsáveis pelo 11 de Setembro e apanhámos Osama Bin Laden. Prometi arranjar uma saída para o Afeganistão e sairemos em 2014», mencionou à primeira oportunidade, quando um dos 82 eleitores indecisos presentes na plateia lhe disse não sentir o «optimismo» que em 2008 o levou a votar em Obama.
Romney e a classe média esmagada
Esta estratégia serviu também para fugir aos assuntos externos mais sensíveis, como o próprio caso de Bengazi e a actual situação na Síria. Mas a mesma estratégia não deixou de resultar para Mitt Romney nos assuntos internos, com o republicano a não desperdiçar uma oportunidade para lembrar as ‘dificuldades financeiras’ do Presidente: a alta taxa de desemprego e a economia praticamente estagnada foram citadas em perguntas tão díspares como a política fiscal e o combate à descriminação de género no mercado de trabalho.
O republicano não fugiu ao guião nem quando se tratou de atacar a famosa reforma de saúde do Presidente: «Uma das coisas que mais me perturba no Obamacare é que os seguros de saúde que o Presidente quer obrigar os patrões a pagar impedem as empresas de contratar pessoas. E essa é a minha principal prioridade».
Romney fez vários apelos à classe média, que disse ter sido «enterrada» e «esmagada» nos últimos quatro anos. Acusou Obama de cortar em 50% a exploração de gás, petróleo e carvão no país, através do excesso de regulação, ligando essa política ao exponencial aumento no preço dos combustíveis a que os Estados Unidos têm assistido. «Liderei a organização de uns Jogos Olímpicos dentro do Orçamento. Governei o Massachussetts e deixei um Orçamento equilibrado», apresentou Mitt Romney como currículo.
Obama respondeu com uma firmeza não vista a 3 de Outubro, dia em que os analistas o consideraram «desligado» e até «desinteressado» no primeiro dos três debates presidenciais. O democrata, que admitiu ter-se estreado com uma «noite má», interrompeu mais vezes o seu opositor do que as que foi interrompido e não hesitou em apelidar de «falsos» alguns dos factos de Mitt Romney durante o debate desta madrugada.
Uma mudança que parece não ter agradado só aos analistas mas também aos eleitores. Uma horas após o final do debate, a CNN apresentava a primeira sondagem, indicando que 46% destes atribuíram a vitória ao Presidente enquanto 39% preferiram Romney. E a primeira aparição foi tão decepcionante que 73% consideram que Obama esteve melhor do que o esperado, enquanto apenas 37% tiveram a mesma ideia em relação ao republicano.
Mas parece pouco provável que a actuação de Obama seja suficiente para regressar aos tempos do passeio para a reeleição, como estava a ser vista a corrida antes do início dos frente-a-frente televisivos. Romney conseguiu aproximar-se, ou ultrapassar o adversário, em alguns dos estados mais equilibrados e até já apareceu com quatro pontos de vantagem no último inquérito nacional da Gallup.
nuno.e.lima@sol.pt

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