terça-feira, 16 de outubro de 2012

Obama e Romney sobem tom e se atacam no 2º debate da campanha

 

Adversários se acusaram e se interromperam mutuamente várias vezes.
Presidente foi mais agressivo, e republicano atacou situação econômica.

Do G1, com agências internacionais
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O republicano Mitt Romney e o democrata Barack Obama discutem sobre a questão energética no debate desta terça-feira (16) (Foto: AP)O republicano Mitt Romney e o democrata Barack Obama discutem sobre a questão energética no debate desta terça-feira (16) (Foto: AP)
O presidente dos EUA, Barack Obama, e seu desafiante republicano Mitt Romney fizeram um debate agressivo nesta terça-feira (16) em Hempstead, no estado de Nova York.
Os dois se acusaram mutuamente de não dizer a verdade, usaram o sarcasmo e levantaram a voz diversas vezes, interrompendo-se, ao discutir economia, energia e o atentado contra o consulado norte-americano em Benghazi, na Líbia, em um confronto bem mais animado que o anterior em Denver, Colorado, em 3 de outubro, vencido por Romney segundo analistas e eleitores.
Obama cumpriu o prometido e, desta vez, ao contrário do que fez no primeiro debate, no qual foi tímido, partiu para o ataque contra o oposicionista, acusando-o de deturpar os fatos de seu governo e de ser o canditado dos ricos.
O republicano rebateu atacando a política econômica do primeiro mandato do democrata e, várias vezes, pediu à mediadora mais tempo para responder.
O debate foi em formato de "encontro com eleitores", com os candidatos mais soltos, andando pelo palco e não atrás de uma bancada, como no anterior.
Os indecisos, eleitores do condado de Nassau selecionados pelo Instituto Gallup, questionaram diretamente os oponentes sobre vários temas da política americana.
O debate foi na Universidade Hofstra, em Hempstead, Nova York, que também sediou o debate final entre Obama e o senador republicano do Arizona, John McCain, nas eleições de 2008. Ele foi moderado pela âncora do programa da CNN "State of the Union", Candy Crowley, que precisou interromper os dois contendores algumas vezes.
O republicano Mitt Romney e o democrata Barack Obama se cumprimentam antes do debate desta terça-feira (16) em Nova York (Foto: AFP)O republicano Mitt Romney e o democrata Barack Obama se cumprimentam antes do debate desta terça-feira (16) em Nova York (Foto: AFP)
Economia
Na primeira pergunta, um estudante questionou Romney sobre como lidar com suas expectativas para obter o primeiro emprego.
Romney aproveitou a deixa para já começar criticando a política econômica de Obama. "É inaceitável que a metade dos estudantes que se formam hoje não encontre um trabalho", disse.
O republicano disse que fará o necessário para aumentar o nível de emprego. "A economia não vai ser como foi nos últimos quatro anos", disse. "A classe média foi esmagada."
Obama felicitou o jovem eleitor Jeremy pelo fato de ele estar investindo em educação e lembrou dos cerca de 5 milhões de empregos privados criados nos últimos meses, durante sua administração.
O presidente voltou a lembrar a frase de Romney sobre "deixar as empresas falirem", em uma referência à indústria automobilística, e acusou o republicano de ter um programa de governo que "favorece os mais ricos" e não pensa em todos os americanos.
"O governador Romney diz que tem um plano de cinco pontos. Ele não tem um plano de cinco pontos. Ele tem um plano de um ponto e este é assegurar que aqueles que estão no topo entrem no jogo com regras diferentes. Esta tem sido sua filosofia no setor privado, esta tem sido sua filosofia como governador e esta tem sido sua filosofia como candidato à Presidência",disse Obama.
Romney tentou se defender da acusação sobre "deixar as empresas falirem", mas foi imediatamente atalhado por um Obama confiante. O opositor tentou retrucar, mas foi impedido pela mediadora.
Obama ouve pergunta durante o debate desta terça (Foto: AP)Obama ouve pergunta durante o debate desta
terça (Foto: AP)
Questão energética
A segunda pergunta foi sobre o preço dos combustíveis, considerado alto e um dos pontos sensíveis para a classe mpedia.
Obama afirmou que aumentou a produção de petróleo, gás natural e carvão e que também olhou para o futuro, pensando nas fontes não-tradicionais de energia.
Segundo ele, isso contribuiu para diminuir as importações americanas de petróleo, contribuindo para seu objetivo de que o país "controle sua própria energia".
Obama voltou a atacar Romney, criticando o fato de o republicano supostamente acreditar que "as empresas devem cuidar da energia", o que, para ele, não constituiu um plano de governo.
"Quando você era governador de Massachusetts, você esteve em frente a uma usina de carvão, apontou para ela e disse que essa usina mata... E agora, de repente, você é um grande campeão do carvão", disse Obama, que também acusou Romney de querer "deixar as companhias de petróleo escreverem a política energética" do país.
Romney rebateu Obama dizendo que a produção energética caiu nos últimos quatro anos e disse que é possível aproveitar as fontes de energia de maneira ecologicamente correta e mantendo os empregos.
Ele prometeu que, se eleito, irá conduzir o país à "independência energética" em um prazo de oito anos.
Após uma intervenção da mediadora, o debate esquentou, com os candidatos se interrompendo e se acusando mutuamente de mentir sobre a questão energética.
Impostos
A terceira eleitora selecionada perguntou sobre os impostos para a classe média.
Romney voltou a dizer que a classe média está sendo "soterrada" pelos impostos, perdendo poder de compra durante o governo de Obama. Ele frisou que quer baixar as taxas para todo mundo e dar incentivos fiscais para a classe média.
Obama afirmou que já diminuiu os impostos da classe média e que isso não vai mudar em um segundo mandato seu. Ele voltou a dizer que quem ganha mais pode pagar mais, e acusou a bancada republicana de o ter impedido de aplicar taxação maior para os mais ricos no seu primeiro mandato.
Romney apelou para o discurso de que veio da iniciativa privada e sabe como os empregos surgem e desaparecem, prometendo aliviar a situação fiscal das empresas.
Obama retrucou criticando a suposta inconsistência da proposta fiscal de Romney, dizendo que "as contas não fecham" e que as propostas de Romney são "papo de vendedor".
O republicano voltou à carga criticando o déficit do governo Obama, dizendo que o democrata quer levar os EUA "no caminho da Grécia", em uma referência à crise da dívida grega.
O republicano também se vendeu como um bom administrador, o que teria provado com sua atuação tanto na iniciativa privada como no governo de Massachusetts.
Romney responde a uma pergunta no debate (Foto: AP)Romney responde a uma pergunta (Foto: AP)
Romney voltou a afirmar, como no debate anterior, que quer criar mais acordos comerciais com a América Latina para acelerar a recuperação econômica.
Mulheres e trabalho
A quarta pergunta foi sobre a diferença dos salários entre homens e mulheres.
Obama começou a resposta lembrando da trajetória de vida de sua mãe e de sua avó.
O republicano afirmou que deu o exemplo na questão, colocando mais mulheres em seu governo.
Ele aproveitou a deixa para voltar a criticar a situação da economia e do emprego sob a gestão Obama.
O presidente democrata voltou à carga lembrando da necessidade de garantir o acesso à saúde para as mulheres que trabalham e acusou Romney de ter sido contra o apoio às trabalhadoras grávidas.
Bush x Romney
A quinta pergunta, dirigida a Romney, foi sobre os supostos erros da administração George W. Bush na política externa. Qual a diferença entre Romney e Bush Filho?, perguntou a eleitora indecisa.
Romney disse que é diferente de Bush e que os tempos também são diferentes. Ele afirmou que, ao contrário de Bush, vai tentar manter um orçamento equilibrado, dando espaço para que as pequenas empresas cresçam e criem empregos.
Obama interveio dizendo que pegou o país em uma situação ruim e que tentou recuperá-lo.
O democrata mudou de assunto, acusando Romney de ter investido em empresas que exportaram empregos para a China e disse que não é crível que o republicano vá "jogar duro" com a China, como havia dito pouco antes.
2008 x 2012
A pergunta seguinte foi de um eleitor que votou em Obama em 2008 e que queria razões para repetir seu voto agora.
Obama respondeu citando realizações de seu governo, como a retirada do Iraque e a recuperação da indústria automobilística.
Romney reagiu afirmando que o próximo governo de Obama deve ser muito parecido com o primeiro. "Não dá para aguentar mais quatro anos como os últimos quatro anos", disse.
O republicano voltou à tecla da crise econômica e da lentidão da recuperação, afirmando que a situação do emprego é ruim. Romney disse que Obama é um "ótimo orador", mas que os dados de seu governo o contradizem.
Imigração
A pergunta seguinte, para Romney, foi sobre os imigrantes que não têm green card, a permissão para ficar legalmente no país.
O republicano começou a resposta lembrando da formação americana, de um "país de imigrantes".
Ele afirmou que o país precisa atrair imigrantes com boa formação, mas que é necessário deter a imigração ilegal, rejeitando a possibilidade de uma anistia para quem já está ilegalmente no país.
"É preciso melhorar o sistema legal com relação à imigração, mas não podemos conceder permissões de condução a todos os que vêm de maneira ilegal", disse.
Romney criticou a reforma migratória de Obama e disse que ele não cumpriu as promessas no setor, não se esforçando para tratar do tema.
Obama disse que fez o possível para tentar "consertar" o sistema de imigração, simplificando a fila da legalização, o que, para ele, é bom para a economia.
O presidente disse que reforçou o policiamento de fronteiras e disse que a perseguição aos ilegais deve ser feita de maneira "inteligente", focando nos ilegais que cometem crimes e não nos que tentam se integrar à economia.
O democrata defendeu-se das acusações de Romney, afirmando que não teve apoio dos republicanos na questão.
O presidente afirmou ainda que o ex-governador de Massachusetts rejeitou nas primárias republicanas o "Dream Act", que visava legalizar os estudantes estrangeiros ilegais, e que apoiou as duras leis contra imigrantes do Arizona, elaboradas pelo principal assessor de Romney na matéria.
Ataque em Benghazi
O eleitor seguinte questionou Obama sobre o ataque que matou o embaixador americano na Líbia, Chris Stevens, e outros três americanos, em 11 de setembro passado na cidade de Benghazi.
O governo foi acusado de ter demorado a reagir à situação e de ter tardiamente reconhecido que se tratou de um ato terrorista, e não de um incidente provocado por uma multidão desorganizada de muçulmanos que protestavam contra um filme anti-Islã.
Obama afirmou estar preocupado com a segurança do corpo diplomático e disse que respondeu prontamente à situação, aumentando a segurança dos postos da diplomacia americana espalhados pelo mundo e exigindo apuração do caso ocorrido na Líbia.
Ele criticou Romney por ter supostamente se aproveitado politicamente da situação, transformando a segurança nacional em "tema de campanha", soltando um "press release" sobre o tema logo após o ataque, quando as circunstâncias ainda não estavam totalmente claras. "Não é assim que um chefe de Estado age", disse Obama.
O presidente voltou a lembrar das suas promessas cumpridas no plano da política externa e disse que vai se responsabilizar pela situação de Benghazi.
A mediadora mencionou o fato de que a secretária de Estado, Hillary Clinton, assumiu a responsabilidade pelo incidente. "Eu sou o presidente, eu sou sempre responsável", reagiu Obama, dizendo ser o responsável "último" pelo que ocorreu. "Eu é que estava lá para receber os caixões."
Romney disse que houve demora na resposta e na revelação de que o incidente foi efetivamente um ataque terrorista. Ele criticou Obama por ter continuado sua campanha eleitoral nos dias seguintes ao atentado e defendeu-se das acusações de que tenha se aproveitado politicamente do fato.
O republicano também criticou globalmente a política de Obama para o Oriente Médio.
No final do bloco, a mediadora desmentiu Romney quando este disse que, no dia seguinte ao ataque, Obama não falou que poderia ter se tratado de um ataque terrorista, hipótese confirmada só semanas depois.
Chamas tomam conta do consulado americano em Benghazi (Foto: Esam Al-Fetori/Reuters)Chamas tomam conta do consulado americano em Benghazi em 11 de setembro (Foto: Esam Al-Fetori/Reuters)
Armas
Questionado sobre a violência provocada pela posse de armas, Obama disse que entende a situação cultural americana em relação ao tema, mas lembrou que muitos casos graves ocorreram durante sua presidência.
O democrata disse que acredita que as leis que já existem devem ser cumpridas, tirando as armas do alcance dos criminosos, proibindo o acesso dos cidadãos comuns a armas de guerra e tratando o tema da segurança de uma maneira mais ampla, antes que a situação fique "fora de controle".
Romney afirmou que pretende mudar a "cultura da violência" no país, citando medidas que tomou como governador, unindo as bancadas democrata e republicana.
Obama acusou o rival de ter "mudado de lado" no tema após ter obtido apoio da National Rifle Association, principal entidade dos defensores da posse de armas no país.
Como manter os empregos?
Em seguida, Romney foi questionado sobre como manter os empregos no país.
Ele elencou várias medidas e reafirmou a necessidade de aumentar o comércio com outros paises, frisando que eles "devem seguir as regras".
Romey voltou a criticar a China, a quem acusou de manipular a moeda para obter vantagens comerciais, e disse que Obama não faz nada para impedir isso.
O presidente disse que pretende mudar aspectos da lei que permitem que as empresas terceirizem a produção na China e voltou a acusar Romney de, em sua atuação empresarial, ser um "pioneiro do outsourcing", a terceirização de empregos para outros países.
Considerações finais e 47%
Para fechar o debate, Romney acusou a campanha democrata de tentar retratá-lo de uma maneira diferente do que ele realmente é. "Eu me preocupo com 100% dos americanos", disse, refutando a acusação de que seria o candidato dos ricos.
Obama afirmou que governo e iniciativa privada devem trabalhar juntos para levar o país para frente, fortalecendo o que chamou de "a maior classe média do mundo".
O democrata finalmente citou o caso dos 47%, em que Romney, em um encontro privado com financiadores de campanha, disse que os eleitores democratas são "dependentes" do governo, o que gerou uma péssima repercussão à época.
Terceiro debate
Obama estava muito mais enérgico do que no primeiro debate, quando seu desempenho foi muito criticado, inclusive por seus partidários, e deu à campanha de Romney um impulso muito necessário, refletido em uma melhora nas pesquisas eleitorais, "colando" em Obama, que segue ligeiramente à frente.
A expectativa agora é saber como o eleitor vai reagir a este debate.
O terceiro e último encontro entre os rivais antes das eleições de 6 de novembro acontece na Lynn University, em Boca Raton, na Flórida, na próxima segunda-feira (22).
Ele irá se concentrar em política externa, e o moderador será o âncora do programa "Face The Nation", da CBS, Bob Schieffer.
Os rivais discutem durante o debate desta terça (16) (Foto: Reuters)Os rivais discutem durante o debate desta terça (16) (Foto: Reuters)

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