segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O sucesso político em Moçambique depende disso…

Urge começar e aprofundar a educação do eleitorado moçambicano
- O sucesso político em Moçambique depende disso…
Beira (Canalmoz) - Enquanto a oportunidade de votar e por essa forma, escolher-se quem e como se governa o país, estiver dependente de acções populistas e de arranjos mediáticos, construídos em bases duvidosas, no sentido de que as agendas propostas não acarretam responsabilidade de cumprimento do enunciado nas plataformas ou declarações programáticas dos partidos políticos concorrentes, os moçambicanos continuarão a formas de estar político e conteúdo completamente afastados dos seus mais genuínos interesses.
Uma combinação insidiosa e pérfida de analfabetismo político, de bombardeamento mediático incessante com receios infundados tem servido para que alguns partidos políticos consigam assentos parlamentares e dominem a cena política nacional.
Quando os partidos políticos da oposição ignoram a necessidade de acção quotidiana no sentido de educação e informação do eleitorado estão efectivamente jogando contra si próprios. O material para trabalho político existe em abundância. Se a pretensão dos partidos é chegarem a ser governo e através deste estabelecer uma acção governativa que sirva o enunciado nas suas declarações, a forma de governar do regime do dia, o alcance prático das políticas postas em prática deveriam servir de guia para uma confrontação política que espelhe não só intenções mas novos programas e posicionamentos consubstanciando uma visão de governo e política diferentes.
Há que ver e descobrir onde se deve atacar e incidir a acção política de forma abrangente e consequente.
Face a uma mediocridade programática, é preciso oferecer aos eleitores algo novo, consistente e atractivo. Onde o regime do dia falha em concretizar é preciso referir-se que a causa dos falhanços está numa acção concertada de políticos e governantes concretos em seguirem os preceitos da boa-governação e da equidade. O governo moçambicano não tem conseguido concretizar programas essenciais para a melhoria das condições de vida dos moçambicanos porque teimosamente prossegue na via do incumprimento de questões básicas.
Os problemas que se avolumam são resultados concretos de ausência de políticas claras e definidas consensualmente.
Não temos sistemas de transportes públicos adequados às necessidades dos utentes porque o governo não consegue entender que o procurement e gestão dos sistemas públicos não combinam com pretensões dos que traficam influências e abocanham as prerrogativas dos gestores em nome de seus lucros privados. A questão não é a ignorância nem o não conhecimento de formas de gestão consentâneas com o interesse público. Os actores públicos actuam num ambiente poluído pela interferência dos interesses de pessoas que representam a tutela governamental. As decisões que tomam não são à luz do que uma gestão criteriosa manda mas sim em nome dos interesses privados de quem nomeia os gestores públicos. Os intervenientes do sector privado no transporte de passageiros, ao nível da administração das associações dos empresários, abdicaram a muito do interesse associativo e colocaram-se ao lado de quem decide para onde vão os créditos e quem os recebe. As operações de leasing ao nível do sector privado, pretendendo-se como formas de aumentar frotas e suprir a carência de veículos, obedecem a esquemas extremamente politizados, onde os beneficiários das operações são sempre os mesmos. Quem se queixa da politização do acesso aos fundos de iniciativa local deve encontrar um paralelo aos fundos de crédito destinado ao sector de transporte de passageiros.
O eleitorado educa-se e informa-se com factos concretos e não com esquemas estatísticos difíceis de ingerir pelo cidadão comum.
Quando se fala de escassez crónica de alimentos ou de rotura periódica de stocks, ou ainda de bolsas de fome em algumas regiões do país é preciso encontrar as verdadeiras causas. Tem sido uma acção reticente do governo que não promove o surgimento de uma massa crítica de agricultores comerciais nacionais, empenhados em produzir segundo as necessidades nacionais num processo em que os produtores se vejam minimamente protegidos e com garantis de venda de sua produção.
As iniciativas creditícias têm sido desenvolvidas de forma assimétrica, obedecendo muitas vezes a agendas eleitoralistas e visando manter uma região ou regiões, longe da influência política dos opositores políticos. Face à constatação de que há carências tecnológicas naos e tem visto o governo investindo na aquisição das tecnologias apropriadas. Por via da cooperação dirigida e específica, combinando a extensão agrária e a investigação, servindo de garantia para o acesso a fundos de fomento é possível aumentar o número de moçambicanos que abracem a agricultura como uma actividade de rendimento de sucesso.
Os investimentos brasileiros em Moçambique e Angola são financiados por bancos públicos e executados por empresas privadas daquele país. A tentativa de trazer esquemas de produção brasileiros para Moçambique ao abrigo de uma cooperação tripartida com o Japão e Brasil vai continuar a relegar os moçambicanos para posições na periferia e não no centro dos projectos advogados. Será como a banana do Monapo em que os moçambicanos se limitam a trabalhadores braçais e pouco mais. O capital, a tecnologia, os lucros estão claramente nas mãos dos outros. Onde está a independência económica advogada e propagandeada? É isto que o eleitorado deve saber e conhecer com profundidade. Se o açúcar é uma indústria complexa e com elevados níveis de investimento para a sua implementação isso não quer dizer que a fatia que antes pertencia ao estado tivesse que ser oferecida as corporações estrangeiras ao desbarato.
É desolador olhar para o país e ter-se que admitir que o panorama não difere em quase nada do que acontecia nos tempos do trabalho forçado. Temos uma bandeira, somos “donos da terra” mas quem se beneficia dela são os estrangeiros. Os moçambicanos não passam na sua maioria de assalariados agrícolas pagos com um salário mínimo de fome. Qualquer trabalhador expatriado tem condições dignas de trabalho e ao moçambicano está reservado a cabana, o calor, a chuva, o frio, o salário sempre magro e sem direitos sindicais concretos.
Isso tem de ser conhecido pelos moçambicanos não no sentido de estabelecimento de uma plataforma irrealista de luta política mas que eles entendam que podem fazer muito para eles próprios do que está sendo feito nestes dias. Tanto do lado do governo como dos partidos políticos, é preciso encontrar formulas que dignifiquem os moçambicanos.
Qualquer imigrante que aterre ou desembarque em Moçambique passados poucos meses já usufrui de um nível de vida bem superior a maioria dos moçambicanos. Que está errado ou porque aos moçambicanos não acontece o mesmo? Ingenuidade hereditária decerto que não. Falta de conhecimentos ou de informação sobre como investir e como situar-se num mercado cada vez mais competitivo? Pode ser. Os que encontram sucesso em Moçambique não são verdadeiramente os culpados pelo seu sucesso.
Quem tem culpa dos moçambicanos continuarem relegados a posição de empregados domésticos e trabalhadores braçais é quem governa pois não tendo capacidade de instituir sistemas de educação, informação e saúde que garantam competitividade à mão-de-obra moçambicana.
É preciso repetir ao eleitorado que sem que os cidadãos se entreguem à defesa do que lhes pertence por direito constitucional continuarão esquecidos.
Cabe ao governo ser guardião dos interesses dos cidadãos e não servir-se das prerrogativas que lhe assistem para defraudar o interesse público.
Colocar um ponto final a uma independência política ultrajante, que remeteu os moçambicanos a posição de neocolonizados enquanto uma minoria politicamente bem situada, banqueteia e colhe dividendos da exploração daquilo que pertence a todos, decerto não é o modelo de governação que os moçambicanos querem ou necessitam.
Mas alterar o quadro vigente, a política de falsidade e a demagogia eleitoralista, a exclusão e o desenvolvimento assimétrico requer que todos os moçambicanos, dialogando e debatendo, educando-se e informando-se tenham a coragem e sensatez de defender um presente diferente da actual miséria deprimente e um futuro condigno.
Não se pode parar nem descansar a qualquer título neste combate que diz respeito a todos.
Não podemos deixar o nosso futuro de políticos situacionistas predadores… (Noé Nhantumbo)

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