sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Num país o mais importante devem ser os cidadãos e não egos dos políticos e governantes…

Canal de opinião
Por: Noé Nhantumbo
Vencedores e vencidos ou se entendem ou se destroem
 
Beira (Canalmoz) - Está à vista que assumir o governo, fazer parte dele e conseguir governar constitui um dos principais sonhos dos políticos e razão dos partidos que criam e de que fazem parte como membros.
No caso moçambicano, em que após uma guerra fratricida, não se seguiu um desenho de modelo político que afastasse dúvidas e unisse pessoas, encontramo-nos à mercê de políticas tendenciosas marcadamente promotoras de assimetrias e de uma autêntica nebulosa de nepotismo.
Os esquemas de autoprotecção instituídos têm a função exactamente de garantir a sobrevivência de um regime ferozmente oposto a uma cultura de tolerância, concórdia, honestidade, transparência.
Há fundamentados receios, de que uma vitória de um opositor em eleições nacionais, signifique a derrocada de “impérios” construídos à custa de posições governamentais.
Como as riquezas ostentadas pela minoria no país são fruto de contrabandos de influências, contratos de fornecimento, venda de terrenos, constituição de joint-ventures em que se explora qualquer que seja o recurso natural existente e disponível, das fileiras desta classe de capitalistas nacionais, emerge uma imagem de preocupação e de permanente receio de que uma mudança na estrutura governativa faça desabar “castelos “e ruir mansões.
Mesmo dentro de um mesmo partido, encontram-se exemplos de represálias na esfera empresarial, contra figuras que já não pertencem ao executivo e que perderam entretanto suas posições no aparelho partidário. Embora não se fale em público de vinganças e de vendettas na prática é o que se pode encontra ao virar de cada esquina dos corredores empresariais moçambicanos. Uns dizem a boca cheia que foram prejudicados, outros se limitam ao silêncio e esperando uma oportunidade de fazer seus “galos cantarem outra vez”.
Este ambiente de suspeição embora seja politicamente vantajoso a quem é neste momento governo pois arrasta consigo todo um campo, envolvendo milhares de pessoas que sentem e sabem que devem continuar a votar no partido no poder para continuar a usufruir das regalias e possibilidade actuais deve ser também olhado sob outro prisma. O país não avança a passos mais largos e rápidos porque existe toda uma “ferrugem” programada nas engrenagens que torna a marcha lenta, titubeante, de alcance duvidoso.
Quando a cultura promovida é o tráfico de influências e da liderança governamental não há sinais de cometimento em acções que visem travar este cancro social e económico só se podem esperar resultados fracos e vergonhosos da acção desse governo.
Sabendo-se que não houve claros vencedores na guerra fratricida, pois se uns venceram no campo da batalha, outros venceram na “secretaria” desde Roma a Maputo, os interlocutores encaram-se sempre com dúvidas e suspeitas quanto as suas intenções reais.
Aquele salto para um entendimento mais amplo, uma abertura para diálogos construtivos de uma nova relação, não estão acontecendo pois se está em presença de um “jogo de protecção de vantagens” mais do que elaborar políticas claras para o desenvolvimento nacional.
As aspirações políticas e económicas de uma liderança político-governamental jogam forte para o seu posicionamento em relação aos diferentes dossiers nacionais.
Tem ficado cada vez mais claro que os integrantes da máquina governativa, ministros, vice-ministros, directores nacionais e secretários permanentes perderam a capacidade de pensar por si logo que se aperceberam que seu chefe era pouco receptivo a mentes criativas ou a protagonismos por membros de seu governo.
Uma antiga ministra da Mulher e da Acção Social terá sentido na pele o protagonismo da primeira-dama da república. Ofuscou-lhe tanto a acção que ela acabou por desaparecer tanto dos écrans como eventualmente do próprio ministério.
Parece que os governantes estão autorizados a repetir o que seu chefe diz mas não tem qualquer possibilidade de enunciar ideias próprias pois neste “comissariado bipolar” já está tudo pensado, decidido.
A julgar pelas opções que têm sido postas em prática em matéria de nomeações não é difícil descortinar uma clara intenção de alguém rodear-se de colaboradores que não “levantem ondas” nem sonhem demasiado alto. Aquela tecnocracia que era evidenciada pela maioria dos integrantes do governo de Joaquim Chissano foi abertamente preterida e em seu lugar montaram-se figuras de “confiança política” mas sobretudo executores obedientes.
Aqueles políticos que não conseguiram eleger-se governo tiveram percursos diferentes mas todos com uma coisa em comum, pouco estudo das causas das derrotas eleitorais e refúgio em explicações pouco esclarecedoras. Reclamar é legítimo mas que não consegue definir uma linha de acção adequada e impulsionador das potencialidades existentes tanto nos partidos como na sociedade acaba sendo relegado ao esquecimento pois não oferece a liderança que as pessoas anseiam.
Olhar para Moçambique sob o prisma de “vencedores e vencidos”, seu comportamento quotidiano, é importante na medida em que permite avaliar o que fazem e o que deveriam fazer.
Sem dúvidas que a atitude de fecharem-se em círculos concêntricos pode ser vista como estratégia de sobrevivência.
Mas por outro lado fica claro e evidente que o país sente falta de uma liderança política visionária que seja catalisadora de uma nova cultura e engajamento social dos moçambicanos.
As preocupações individuais não se podem esquecer nem relegar para um segundo plano mas não se pode construir um país através da execução de planos e programas que só servem objectivos de um grupo restrito de pessoas.
Se a perspectiva em aplicação é aquela que diz “todas as oportunidades de negócio” com o estado devem ser entregues a entidades conotadas e próximas aos governantes, se a prospecção, exploração de recursos minerais e outros são autorizados numa perspectiva de benefícios individuais e só depois é que se consideram as contrapartidas destinadas ao estado, pelo que algumas negociações prenunciam, entra-se numa situação de atolamento, paralisia institucional, pois nada funciona sem a autorização prévia de quem tem o poder real.
Uma leitura da situação que talvez esteja muito próxima da verdade dirá que os políticos moçambicanos não têm em conta a possibilidade real de alternância democrática do poder, tem medo disso como o ”diabo da cruz”. Fazem todos os possíveis para afastar a possibilidade de outros os substituírem na governação. Mas procedem de maneira um tanto ou quanto suicida pois na luta pela “eliminação” ignoram completamente que em política nada é permanente e definitivo.
Aqueles quês e apresentam vencedores hoje podem tornar-se nos derrotados de amanhã.
De uma maneira inesperada, com relativa surpresa, a “Primavera Árabe” foi fértil em ensinamentos. Não há perenidade em política e presidentes vitalícios tombam quem nem “mangas podres”…
Respeitem-se os vencidos pois amanhã quando estes forem vencedores vos respeitarão… (Noé Nhantumbo)

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