quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Na ofensiva, Romney ataca Obama em primeiro debate presidencial

 

03 de outubro de 2012 22h04 atualizado em 04 de outubro de 2012 às 00h50
Obama observa Romney fazer uma pergunta durante o debate na Universidade de Denver: confronto de ideias. Foto: APObama observa Romney fazer uma pergunta durante o debate na Universidade de Denver: confronto de ideias
Foto: AP
Subvertendo as expectativas, o candidato republicano, Mitt Romney, subiu à bancada de Denver, no Colorado, e, com uma tática ofensiva mesclada a uma tranquilidade serena, partiu para o ataque contra o presidente e candidato à reeleição, Barack Obama, que, na maioria dos 90 minutos de discussão, como se incomodado com a tática do adversário, preferiu uma tímida moderação a um embate direto.
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O debate, moderado pelo âncora veterano Jim Lehrer, ocorreu na Universidade de Denver, no Colorado, o primeiro de três debates presidenciais transmitidos pela TV. Das 22h às 22h30 (horário de Brasília), os dois candidatos colocaram à prova suas ideias sobre economia e assuntos internos.
Ao ingressar no palco especialmente preparado para o evento, os candidatos apertaram as mãos e fizeram, cada um, uma apresentação de dois minutos. Obama aproveitou a ocasião para cumprimentar sua esposa, Michelle, pelo aniversário de 20 anos de casamento. Romney brincou com o oponente, ao afirmar que não havia local melhor para celebrar a data: num debate, com ele.
Nos primeiros minutos, Romney falou sobre seus planos de criar empregos ajudando os pequenos negócios e, em um momento mais duro, acusou o presidente de prejudicar a economia. "Estou preocupado que o caminho que estamos seguindo seja infrutífero", disse Romney, em seus comentários iniciais, prometendo: "vou restaurar a vitalidade que fará os Estados Unidos voltarem a funcionar".
Foi um primeiro momento-chave da tônica do debate: Obama trouxe à tona o plano de Romney tantas vezes citado na campanha de cortar em US$ 5 trilhões da dívida do governo americano. Mesmo atacando o republicano inúmeras vezes, Obama encontrou um Romney seguro que tratou de desmistificar a ideia de que o corte proposto aumentaria impostos ou reduziria o bem-estar da população.
Nesses primeiros minutos, ficou evidente o desconforto do presidente ao ter de rebater os ataques de Romney às escolhas feitas pelo governo democrata durante os últimos três anos e meio. Ótimo orador, Obama se viu hesitando ao escolher as palavras certas enquanto Romney tinhas as palavras na ponta da língua.
Assim, embora um pouco acuado, Obama prometeu um "novo patriotismo econômico" para criar empregos e "reconstruir" o país com investimentos em educação e energia. "Fica muito trabalho por fazer, não se trata de onde estamos, mas de para onde vamos", ressaltou Obama, que disse que os cortes de impostos e regulações propostos por Romney não são a solução para revitalizar a ainda frágil economia americana.
"Bem, nos últimos 18 meses, ele defende este plano tarifário e agora, cinco semanas antes das eleições, ele diz que esta sua ideia audaciosa 'não tem importância'" disse Obama, depois que Romney negou que seus planos aumentariam o déficit do orçamento americano.
Romney, por sua vez, acusou Obama de dar ideias falsas sobre seu plano de redução de impostos. "Virtualmente tudo o que ele disse sobre meu plano de impostos é impreciso", disse Romney. "Se o plano de impostos que ele descreveu fosse um plano que me pedissem para apoiar, eu diria, 'absolutamente não'. Não pretendo fazer um corte de impostos de US$ 5 trilhões. O que eu disse é que não implantarei um corte de impostos que aumente o déficit", acrescentou.
Ainda em relação ao plano de corte de impostos do adversário, Obama afirmou que Romney, para reduzir o déficit sem elevar impostos, teria que cortar os gastos com escolas e a saúde. "Agora, se você assume uma abordagem desequilibrada como esta, então isto significa que você vai devastar nossos investimentos em escolas e educação", disse Obama. "Efetivamente, isto significa um corte de 30% no programa primário que mantemos para idosos em abrigos, para crianças com necessidades especiais e esta não é a estratégia correta que devamos seguir", acrescentou.
Requisitados a debater a regulação financeira, introduziu-se a lei Dodd-Frank, feita para aumentar o controle sobre as ações em Wall Street. Teoricamente um campo mais propenso a Obama, Romney assumiu a frente ao reconhecer o valor da regulação, ao mesmo tempo em que achou modos de atacar o democrata. "A regulação é essencial, porque se não há regulação a economia não funciona, mas ao mesmo tempo ela pode se tornar excessiva. Durante o mandato de Obama foi assim e se transformou em algo prejudicial", disse Romney.
O republicano também conseguiu dar contornos à sua retórica mais incisiva ao lembrar a situação econômica da Espanha, país com desemprego superior a 20%, usando-a como exemplo de seu discurso anti-Europeu. "Eu não quero seguir pelo caminho da Espanha. Eu quero seguir o caminho do crescimento, que põe os americanos para trabalhar, com mais dinheiro que entra porque estão trabalhando", disse. "A Espanha gasta 42% da sua economia total com o governo. Nós estamos gastando agora 42% da nossa economia com o governo."
Também quando discutido o Obamacare - programa do presidente para ampliação maciça da cobertura médica através de subsídios do Estado - Romney obteve vitórias retóricas. O republicano, que não concorda com o programa, defendeu manter suas vantagens e ampliar as opções de cobertura ampliando a liberdade dos cidadãos. Obama tentou desqualificar a proposta, argumentando que não há como fazer isso sem aumentar os gastos, e que a supressão do Obamacare deixaria 50 milhões de americanos sem proteção.
Obama, no entanto, sempre aparentou, senão desconforto, uma moderação incômoda. Ao fazê-lo, mostrou-se na defensiva, e, sendo o atual presidente, deixou transparecer que seu adversário tinha não apenas bons argumentos contra ele, mas também credenciais para assumir a Casa Branca. Nem mesmo a maior gafe de Romney até agora - os '47%' dos americanos que o republicano criticou e com os quais disse não se preocupar - foi usada por Obama.
O discurso de convenção de Romney fora um repertório de frases em uníssono pedindo mais empregos; o de Obama, um complexo e bem balançado pedido de confiança para mais quatro anos. Mas nesta noite em Denver o republicano armou-se com fatos e argumentos para mostrar aos americanos que sabe como conseguir os empregos - e provar que Obama justamente não merece mais quatro anos por não sabê-lo. Para uma eleição que, de acordo com algumas pesquisas, já parecia perdida, Romney conseguiu mostrar que há o que ser debatido antes de 6 de novembro.
Com informações das agências internacionais.

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